Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
A situação do mercado dos cursos técnicos em Portugal constitui um testemunho evidente da incapacidade do sistema educativo para corresponder em qualidade e quantidade às necessidades de uma economia que tem que competir à escala global com níveis de produtividade extremamente elevados e para os quais não dispõe da matéria prima humana com as qualificações e competências técnicas necessárias.
Esta situação de escassez leva a que profissionais qualificados e quadros técnicos intermédios beneficiem de uma valorização salarial não apenas como consequência das leis de mercado mas também porque, em muitos casos, posições que poderiam ser desempenhadas por técnicos estão a ser preenchidas, com custos mais elevados e inevitáveis défice de motivação, por licenciados.
É certo que em toda a Europa existe um problema sério de falta de quadros técnicos qualificados. Em Portugal o problema é no entanto mais grave na medida em que das escassas centenas de valiosos recém-licenciados nas áreas das engenharias e sistemas de informação que terminam anualmente a sua formação, um numero crescente é aliciado para trabalhar no estrangeiro com condições remunerativas e perspectivas de carreira com que as empresas portuguesas não podem competir.
Paradoxalmente Portugal ocupa uma posição destacada nos índices europeus do desemprego de jovens licenciados sem mercado de trabalho e sem futuro, além de outras dezenas de milhares de licenciados do mesmo tipo, sobre-qualificados e sub-empregados a desempenhar tarefas para as quais o ensino secundário constituiria habilitação suficiente. Como chegámos a esta situação?
Como consequência de um sistema de ensino no qual a grande maioria de alunos não sabe o que anda a fazer na escola, assiste a aulas sem qualquer aplicação prática ou ligação ao mundo do trabalho e porque faltam laboratórios, professores especializados, oficinas e instalações apropriadas. Exactamente aquilo que existia nas escolas industriais e comerciais, varridas pela fúria progressista igualitária dos anos setenta.