Álvaro Fernández
Managing Director Michael Page Internacional
A crise, com uma série de acontecimentos em catadupa desde o Verão, não é um receio. É uma realidade. Existe ainda uma premissa que torna esta crise global: nasceu num sector que está no princípio, no meio e no fim de toda a economia — a banca — tendo como base o que sempre se considerou um investimento de refúgio, o imobiliário. Temos assistido, como medida de recurso, a uma actividade intervencionista dos governos do mundo desenvolvido na banca.
Em Portugal surgiram também medidas, com uma vantagem adicional forte: um banco comercial detido pelo Estado que, em caso de necessidade, poderá constituir um forte veículo de intervenção e de gestão. Considera-se Portugal um país algo diferente. Crescemos menos, mas as quedas acabam por ser menores. No entanto, como pequena economia aberta que somos, inevitavelmente seremos afectados. De que forma? E em que medida? Difícil prever.
Na banca, em termos de mercado de trabalho, começaram-se a sentir os primeiros impactos após a atribulada «rentrée» de Setembro, com alguns meses de atraso face aos nossos parceiros europeus. Independentemente de se tratarem de funções de «front» ou de «backoffice», a tendência é parar para já e esperar para ver. Nos bancos portugueses sente-se também cautela e apreensão porque os mercados financeiros não conhecem fronteiras, havendo no entanto alguma vontade para conhecer candidatos com «know-how» em áreas de risco.
Outros sectores serão inevitavelmente afectados por contágio, devido ao papel fulcral que o sistema financeiro ocupa na economia, quer como clientes (construção) quer como fornecedores (TI), originando reorganizações dentro destas empresas. Num momento em que volta a ser defendido um estado keynesiano, Portugal acaba por ter que fazer um caminho mais curto, já que é conhecido o forte peso que o Estado tem como motor da economia. Com o euro, deixa de ser possível utilizar as políticas cambial e monetária, passando o Governo a poder utilizar apenas a política orçamental.
Uma postura expansionista, reforçando o papel de motor económico e alargando o défice orçamental poderá ser a abordagem macro a tomar. Ao invés, em vez de grandes investimentos, a opção poderá passar por apostas menores, orientadas para o capital humano altamente especializado e em «clusters» que temos vindo a desenvolver. As energias renováveis e as tecnologias de informação, que exigem profissionais qualificados, deixarão marcas positivas e não impactos pontuais como os gerados pelas grandes obras.