Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
Embora seja impossível ignorar os cenários, cada dia mais sombrios, que surgem das mais diversas latitudes, é absolutamente indispensável descobrir uma réstia de esperança, perante a erosão de um modelo de globalização que, segundo a OIT “falhou em contribuir para o desenvolvimento da produtividade global e a criação de emprego”, além de “intensificar a instabilidade económica”.
Em Portugal, a certeza de que os efeitos da crise deverão agravar-se em 2009 e afectar quer o mercado de emprego quer a economia em geral tem cada vez mais adeptos. Embora não seja fácil descortinar as soluções adequadas para olhar o futuro, o facto de termos, há já algum tempo, sofrido a crise dos sectores têxtil, do calçado e das deslocalizações, a par das reduções significativas do investimento estrangeiro nos últimos anos pode tornar menos dolorosos os processos de reestruturação do tecido económico à semelhança das que se anunciam em toda a Europa.
É inevitável que, em muitos sectores, a crise do emprego venha a traduzir-se em níveis de inquietação social e económica mais acentuados do que aqueles que atravessamos nos anos 80. Não é previsível que a Banca seja das mais afectadas. As grandes reduções de pessoal tiveram lugar nos finais do século passado como resultado da revolução tecnológica e a banca de investimento tem reduzida expressão no nosso sistema bancário. Se bem que alguns processos de crescimento estejam a ser sustidos os efeitos da crise na Banca terão decerto menos impacto do que em sectores como os componentes para a indústria automóvel, da construção civil e das PME em geral.
Não é fácil preconizar ‘remédios' para sistemas de alta complexidade nos quais as variáveis económicas, políticas e sociais condicionam decisivamente os processos de renovação e reciclagem socioeconómica que terão que ser feitos. Mas não há dúvida de que a estabilidade política, a dose adequada de investimento público e a natural capacidade de sobrevivência que nos caracteriza podem marcar a diferença em relação a países em que a passagem da euforia dos anos dourados à depressão da primeira grande crise do século será mais difícil de digerir.