Otimismo é a palavra de ordem para 2018, em matéria de contratações. Os principais indicadores já disponibilizados pelas consultoras de recrutamento a operar no mercado nacional, apontam para um aumento claro das intenções de contratação das empresas já no arranque do próximo ano. A Korn Ferry, consultora do Hay Group especializada em gestão organizacional e de pessoas, avança que 85% das empresas nacionais vão recrutar a partir de janeiro. 49% das contratações a realizar servirão, segundo consultora, para reforçar as áreas comerciais e de vendas, uma das principais apostas das organizações, a par com a área tecnológica que, com 44% das intenções de contratação, continuará a figurar como um dos setores mais dinâmicos de criação de emprego em Portugal.
As consultoras Korn Ferry, Manpower e Hays estão em sintonia: as empresas vão reforçar contratações no próximo ano. E para a Manpower, a dinâmica na criação de novas oportunidades de trabalho para os portugueses pode chegar logo no primeiro trimestre do ano. Se o responsável pela área de estudos da Korn Ferry avança com as conclusões preliminares do estudo Workforce+Pay 2018 para sustentar o que diz ser “um crescimento acentuado do número de organizações que estimam contratar novos colaboradores em 2018” (85% das empresas a admitirem contratar no primeiro trimestre do ano, face aos 76% registados entre outubro e dezembro de 2017), Nuno Gameiro, diretor-geral (country manager do ManpowerGroup Portugal), projeta uma criação líquida de emprego na ordem dos 13% para os primeiros três meses do ano.
A percentagem representa um crescimento de 8% face ao período homólogo e é transversal aos oito setores de atividade analisados pela empresa no seu inquérito global às intenções de contratação - Agricultura, Floresta e Pescas; Construção; Fornecimento de Eletricidade, Gás e Água; Finanças, Seguros, Imobiliário e Serviços; Indústria; Setor Público; Restauração e Hotelaria; Transportes, Logística e Comunicações; Comércio Grossista e Retalhista - e à generalidade das regiões geográficas. “A projeção para a criação líquida de emprego de 13% representa um crescimento de 10%, comparativamente ao trimestre anterior, e de 8% face ao primeiro trimestre de 2017”, explica o diretor-geral da Manpower reforçando que “pela primeira vez, Portugal surge no topo das projeções para o território europeu (considerando o efeito das variações sazonais de contratação), o que é uma excelente notícia”.
Onde vai surgir o emprego?
Embora exista consenso em relação ao aumento da criação de emprego. As duas consultoras espelham algumas divergências de análise no que respeita aos profissionais que poderão, na prática, beneficiar desta dinâmica. Na Korn Ferry, Miguel Albuquerque centra as maiores projeções de criação de emprego em três áreas funcionais: Vendas (com 49% das intenções de contratação), Sistemas e Tecnologias de Informação (44%) e Produção (40%). O especialista enfatiza ainda que, embora não sejam as áreas onde as empresas espelham maior intenção de contratação, é de esperar uma maior dinâmica de recrutamento em áreas como a Logística, os Recursos Humanos e a Qualidade.
Do lado da Manpower, Nuno Gameiro centra a maior parcela das contratações previstas para o primeiro trimestre de 2018 nas grandes empresas do setor dos Transportes, Logística e Comunicações, com uma projeção de criação líquida de emprego na ordem dos 30%, referindo que “as empresas da região sul do país reportam projeções mais fortes para a criação líquida de emprego, na ordem dos 18%”. O inquérito que a empresa realizou junto de 627 empregadores nacionais, permitiu ainda apurar intenções de contratação relevantes em setores como a Agricultura, Floresta e Pescas (com uma projeção de criação líquida de emprego na ordem dos 21%), Finanças, Seguros, imobiliário e Serviços (14%), Setor Público e Construção (12%) e Indústria (11%). “A confirmarem-se, os valores antecipados significam um impacto positivo nos níveis de consumo, alavancando a economia e tornando-a ainda mais apetecível para os mercados externos”, defende o diretor-geral da Manpower.
Apesar deste panorama, Nuno Gameiro reconhece que o crescimento das intenções de contratação pode colocar alguns problemas na identificação de talento. Um cenário que tenderá a agravar-se em 2018. Os dados preliminares do Guia do Mercado Laboral para 2018, da consultora Hays, confirmam-no. “Há cada vez mais empregadores com interesse em recrutar e cada vez menos profissionais qualificados com interesse em mudar de emprego”, avança Paula Baptista, diretora-geral (managing partner) da Hays Portugal. A consultora só terá disponíveis os dados de previsão de contratações para 2018 em janeiro, mas a líder antecipou ao Expresso algumas tendências. A ideia de que 2018 “será um ano particularmente desafiante para o empregadores identificarem e recrutarem o talento que procuram para as suas estruturas é a dominante”, reconhece Paula Baptista.
Portugal tem atraído nos últimos dois anos um número crescente de projetos internacionais com forte potencial de criação de emprego, e assistido à expansão de projetos de âmbito nacional. Muitas destas empresas, de vários setores de atividade, têm vindo a público admitir dificuldades de contratação. É o caso da produtora de torres eólicas ASM Industries que precisará de recrutar até 2019 pelo menos 185 profissionais e tem encontrado dificuldade em identificar os talentos com as competências necessárias. Outras há que já anunciaram reforço das suas estruturas para o próximo ano (ver caixa). A Grupo Amorim, por exemplo, tem recrutado uma média de 150 profissionais (quadros e funções fabris) por ano nos últimos dois anos. Em 2018 deverá repetir o número. O banco francês Natixis tem como meta criar 640 postos de trabalho no Porto. Para 2018 estão previstas 200 contratações.
Dificuldades de contratação
Paula Baptista traduz estas dificuldades de contratação em números: “84% das empresas revelam que sentem dificuldades em recrutar talento para a sua estrutura e esta dificuldade já obrigou 59% dos empregadores a contratar profissionais menos adequados para a função”. A líder da Hays esclarece que embora nos últimoas anos as dificuldades de identificação de talento tenham estado muito associadas à área tecnológica e funções de grande especificidade técnica, o cenário atual é diferente. “Mantém-se um grande ênfase nas Tecnologias de Informação, mas as dificuldades de identificação de talento são hoje transversais a todas as áreas e já se vão sentindo em diferentes setores de atividade”, explica.
Nuno Gameiro confirma: “a competição pelo talento vai aumentar e levará as organizações a repensar os seus modelos de atração, desenvolvimento e retenção”. Tecnologias de Informação (37%) e engenharia (25%) são identificadas no estudo da Korn Ferry como as duas áreas onde as empresas mais reconhecem dificuldades de contratação. Mas esta escassez de talento e luta pelos melhores trará outro tipo de impactos ao mercado: o aumento dos salários. “O défice nacional de talento e o número crescente de empresas internacionais a atuar em Portugal, que pagam regra geral acima do que é prática nas empresas nacionais, colocam pressão sobre os salários”, adianta Paula Baptista que reconhece que “em 2018 esta pressão salarial vai estar ainda mais evidente e as empresas terão de aumentar a sua fasquia e os benefícios oferecidos, para conseguirem atrair e reter os melhores”.
Novo ano traz aumentos salariais de 1,94%
Mais de 85% das empresas nacionais deverão efetuar aumentos salariais no próximo ano. Na generalidade dos cargos, o incremento salarial deverá rondar 1,94%, mas a consultora do Hay Group, a Korn Ferry, admite que os colaboradores que desempenhem funções técnicas e cargos de gestão intermédia possam vir a ser mais beneficiados em matéria de aumentos salariais. As conclusões preliminares do estudo salarial Workforce+Pay 2018 a que o Expresso teve acesso revelam ainda que os cargos diretivos serão os mais penalizados, com aumentos previstos que não excedem os 1,70%
O aumento salarial estimado para 2018 está abaixo do que tinha sido avançado pela Korn Ferry para 2017 (fixado em 2%), mas para Miguel Albuquerque, responsável pela área de estudos da consultora e Products Country Leader (diretor de produtos) para o mercado nacional, não deixa de ser revelador da “consolidação dos resultados económicos que se têm vindo a verificar um pouco por todos os sectores de atividade”. O especialista reforça que “o esforço de contenção salarial continua a ser compensado com um aumento salarial estimado superior à taxa de inflação prevista para 2018”.
Desempenho dita aumentos
O estudo, sustentado por dados salariais de 454 empresas a atuar em Portugal, demonstra que a maioria das empresas deverá realizar a sua atualização salarial já em março. Entre os fatores considerados determinantes para a atribuição de aumentos salariais individuais estão o desempenho (95%), a competitividade externa (47%), a performance da empresa (46%) e a taxa de inflação (45%). A senioridade dos profissionais é o fator que menos influencia a decisão dos líderes de atribuir aumentos.
O número de empresas que decidiu em 2018 não atribuir incentivos de curto prazo diminuiu 5%. A esmagadora maioria das organizações inquiridas (95%) confirma atribuir incentivos de curto prazo aos seus profissionais e 80% das empresas concede também bónus no final do ano. Um aumento de 5% face ao apurado no último ano. As comissões sobre as vendas são também prática corrente em 33% das organizações. Entre as empresas que atribuem este tipo de incentivo, 91% sustentam a decisão no desempenho dos comerciais individualmente e 88% nos resultados financeiros da empresa.
Segundo Miguel Albuquerque, o peso da remuneração variável e do pacote de benefícios atribuídos aos profissionais pelas empresas portuguesas continua a aumentar, não só para premiar o esforço individual e coletivo dos colaboradores no cumprimento dos objetivos, mas também como estratégia de retenção de talento. Entre os principais benefícios atribuídos pelas empresas continuarão a estar em 2018 o seguro de saúde, o automóvel,o subsídio de alimentação e o seguro de vida. A atribuição de dias extra de férias é um benefício que continuará a ser aplicado em 43% das organizações.
Empresas a contratar:
Natixis
O banco francês fixou no Porto o seu centro de tecnologias de informação e já criou 300 postos de trabalho. A meta são 640. Para 2018, estão previstas 200 novas contratações.
Vestas Wind Systems
A multinacional de energia eólica instalou no Porto o seu centro de I&D e avançou para a contratação de 80 engenheiros. Até 2020 o centro deverá atingir a sua plena capacidade e integrar 300 profissionais.
Grupo Amorim
Tem registado nos últimos anos uma média de 150 contratações. Em 2018 deverá manter a mesma dinâmica para as várias empresas do grupo.
ASM Industries
A produtora de torres eólicas ASM Industries anunciou recentemente a necessidade de integrar pelo menos 185 novos profissionais em várias regiões do país até 2019.