Ruben Eiras
COM cerca de 209 acidentes de trabalho em 2002, Portugal
ainda permanece como um dos líderes da sinistralidade laboral na
UE. Isto apesar da descida de 74% em relação a 2001 (280
acidentes). O sector da construção civil continua a deter
os números mais negros, com cerca de 97 acidentes de trabalho.
Os resultados desta situação, já
comprovados por inúmeros estudos, são elevados níveis
de absentismo e baixa produtividade. A causa, segundo denunciou João
Veiga e Moura, presidente do Instituto para a Inspecção
e Desenvolvimento das Condições de Trabalho (IDICT) - numa
entrevista ao EXPRESSO Emprego realizada há duas semanas - é
o desinvestimento dos empresários portugueses na segurança
e saúde dos seus trabalhadores.
Um meio eficaz para mudar esta cultura empresarial é mostrar aos
empregadores, por meio de estimativas financeiras ou económicas,
não só os custos totais dos acidentes mas também
as vantagens decorrentes da sua prevenção. Portanto, a aposta
num sistema de avaliação e prevenção dos custos
dos acidentes de trabalho revela-se estratégica para a competitividade
e produtividade empresariais.
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho
(OSHA) elaborou recentemente um relatório com um inventário
sobre os custos socioeconómicos dos acidentes laborais, no qual
discrimina os custos ocultos, os que podem ser facilmente quantificáveis
e os que apenas podem ser expressos em termos qualitativos.
Segundo aquela investigação, a prevenção de
acidentes de trabalho, lesões e doenças laborais reduz os
custos e contribui para melhorar o desempenho da empresa. É que
uma força laboral saudável é mais produtiva e a qualidade
do seu trabalho pode ser superior.
Além disso, menos acidentes e doenças relacionados com o
trabalho significam menos faltas por doença, o que se traduz numa
diminuição dos custos e no minimizar das paragens no ciclo
de produção.
Do lado da organização, quando os equipamentos e um ambiente
laboral são convenientemente adequados às necessidades do
processo produtivo e a respectiva manutenção assegurada,
aumenta a produtividade, melhora a qualidade e reduz-se os riscos de saúde
e segurança.
O documento da agência europeia sugere que a melhor forma para calcular
os custos dos acidentes de trabalho é a elaboração
de uma avaliação económica, que poderá ser
realizada a nível do trabalhador, da empresa e da sociedade.
Neste plano, o inventário da OSHA contém um conjunto mínimo
de factores de custo, os quais são susceptíveis de serem
complementados ou alterados consoante o objectivo da avaliação
ou a estrutura da segurança social, por exemplo, num dado país
(ver tabela).
A estimativa da repercussão dos custos dos acidentes deve ser realizada
de forma gradual, dado que alguns dos efeitos dos acidentes podem ser
facilmente traduzíveis em dinheiro. Todavia, factores como acidentes
mortais, baixas por doença e rotação de pessoal requerem
uma análise mais aprofundada.
Os resultados obtidos a partir destes cálculos deverão sustentar
o processo de tomada de decisões, mas a avaliação
do sistema é crucial para construir uma cultura de prevenção
de riscos laborais na empresa. O relatório da OSHA salienta que
os factores de custo e os princípios nos quais se baseia o cálculo
deverão ser ajustados de acordo com a prática nacional de
cada Estado-membro.
Em alguns casos, é possível calcular um rácio custo-benefício
da prevenção de acidente laborais. A OSHA refere que uma
recente campanha austríaca de sensibilização à
prevenção das quedas no trabalho, realizada a nível
nacional, reduziu este tipo de sinistralidade em 10%. O rácio desta
iniciativa foi de 1:6, significando que a rentabilidade foi de seis euros
por cada euro investido.