Cátia Mateus e Marisa Antunes
O Litoral Alentejano está em alta. Depois de o Governo ter dado «luz verde» para vários projectos turísticos de grande dimensão, onde se destacam o Tróia Resort, Costa Terra e o Pinheirinho, a edificar durante a próxima década, começam já a surgir as primeiras iniciativas para formar profissionais necessários para cobrir os mais de dez mil postos de trabalho que se espera, venham a ser criados numa primeira fase.
A Herdade da Costa Terra, em Melides, é um dos projectos turísticos mais significativos aprovados para o litoral alentejano. O empreendimento contemplará a construção de um «resort» com oito unidades hoteleiras de seis estrelas, uma estalagem e 204 moradias destinadas a turismo residencial de luxo.
A partir de 2009, as primeiras fases do empreendimento estarão concluídas e é também nesta altura que segundo Tomaz d'Eça Leal, administrador da Costa Terra, entrará em funções a maioria dos 4260 funcionários previstos. A maior parcela destes empregos (3000) são indirectos e «o recrutamento de colaboradores para este projecto divide-se em duas fases: uma primeira até 2009, e uma fase posterior a partir desta data, que coincidirá com a entrada em funcionamento do complexo turístico», explica Tomaz d'Eça Leal.
Na primeira fase de recrutamento serão necessários profissionais e empresas qualificados em áreas como as energias renováveis, informática, telecomunicações, serviços jurídicos, arquitectura, operação de campo de golfe, construção e manutenção de espaços verdes e áreas florestais. A partir de 2009, os requisitos serão outros. A prioridade será para técnicos em gestão hoteleira, profissionais ligados à decoração e equipamento hoteleiro, dinamização cultural, serviços de limpeza, empresas de transportes, profissionais de saúde, entre outras funções ligadas, por exemplo, ao comércio de luxo.
Se para alguns destes sectores o Alentejo tem mão-de-obra suficiente, outros há em que, na opinião de Tomaz d'Eça Leal, «será necessário qualificar a mão-de-obra disponível no plano regional». Todavia, o responsável não nega que há sectores que necessitam de formação técnica mais complexa, exigindo uma selecção e recrutamento alargados ao nível nacional e até internacional. Tomaz d'Eça Leal esclarece que a formação de profissionais merecerá uma atenção particular por parte da Costa Terra que irá também suportar «um programa de apoio à criação de pequenas empresas locais que operarão em diversas áreas e que incluirá, durante os três primeiros anos de arranque do projecto, uma prestação de microcréditos».
Em matéria de formação, a Costa Terra tem previstos vários cursos em domínios como as línguas ou a informática. Para o efeito já estabeleceu várias «parcerias estratégicas com entidades públicas e privadas tendo como finalidade dinamizar o mercado de trabalho da região e garantir a fixação de profissionais qualificados nacionais ou estrangeiros», concretiza o responsável.
Carlos Beato, presidente da Câmara Municipal de Grândola, lembra que «são grandes as expectativas criadas por estes projectos turísticos e que se inserem numa estratégia de desenvolvimento, qualidade de vida e emprego». É que só na região do Alentejo o desemprego atinge cerca de 25 mil pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. O presidente da Região do Turismo da Costa Azul, Eufrásio Filipe, reforça: «O turismo não vai salvar nem o Orçamento do Estado nem o desemprego do país, mas poderá ser uma ajuda pela importância crescente que assume, nomeadamente na Costa Azul».
Mas criar postos de trabalho não basta. É preciso apostar na formação. «O mercado de trabalho é livre, mas já estamos a criar condições de qualificação profissional e de reclassificação dos nossos activos locais», garante o autarca de Grândola. Reforçar a formação Os primeiros passos, ainda que tímidos, já estão a ser tomados para reforçar a formação profissional das populações locais nas áreas do turismo.
Na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Grândola, as vagas duplicaram para os dois cursos técnicos de turismo existentes no instituto, com duração de três anos e a equivalência ao 12.º ano. «Quer para o de turismo rural quer para o de técnico de informação turística, as vagas vão passar das actuais 20 para 40, em cada um, já no próximo ano lectivo», adiantou António Gamito, presidente do Conselho Executivo do estabelecimento.
Apesar do reforço, os 80 técnicos que vão sair anualmente da escola estão muito aquém das necessidades de pessoal qualificado, admite António Gamito. «Já neste momento não conseguimos dar resposta aos pedidos que recebemos por parte dos estabelecimentos de hotelaria ou dos postos de turismo», acrescenta. Tomaz d'Eça Leal, do projecto Costa Terra, chama ainda a atenção para a importância da recém-criada Associação dos Resorts do Alentejo Litoral (AREAL), cuja primeira grande proposta é a instalação de um Centro de Formação Profissional de Gestão Participada com o objectivo de valorizar os recursos humanos disponíveis na região.
A AREAL reúne as várias entidades que estão a apostar nos projectos turísticos no litoral alentejano e é liderada por Henrique Monte Lobo, também presidente da Sonae Turismo, promotora do empreendimento Tróia Resort, um dos maiores previstos para a região. Contudo, apesar das várias tentativas de contacto que o EXPRESSO efectuou para obter mais esclarecimentos sobre o papel desta associação na formação da mão-de-obra, não foi possível receber qualquer resposta por parte do responsável.
Perante as muitas promessas de criação de emprego e de formação profissional, Rudolfo Caseiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria e Turismo do Sul, lembra, lacónico: «Não basta formar profissionais. Quem sai destas escolas exige um salário digno. E o que acontece com muitos empresários do sector é que não querem apostar na qualidade mas na mão-de-obra precária».