A hotelaria é um dos setores de mais rápido crescimento do mundo e segundo os últimos indicadores do Travel and Tourism Economic Impact Report 2014, conduzido pelo World Trade and Tourism Council, a cada dois segundos é criado um novo emprego nesta área a nível global. Para debater os desafios inerentes à profissionalização do setor e formação e qualificação dos seus profissionais, a escola internacional de gestão hoteleira LES Roches, convidou um conjunto de especialistas internacionais, líderes de algumas das mais relevantes empresas na área da hotelaria e turismo, a refletirem os desafios futuros do setor na perspetiva da inovação, da empregabilidade e do empreendedorismo.
Com um modelo que tem inspirado, pela sua exigência e pela excelência da sua formação, escolas de gestão hoteleira em todo o mundo a suíça LES Roche defende a orientação global como a âncora de qualquer projeto relacionado com o turismo, seja ele uma empresa ou uma escola. Francis Clivaz, fundador e membro do conselho de administração da LES Roche, defende que “o futuro do setor passa pela capacidade das instituições de ensino formarem os seus alunos à luz de uma orientação multicultural, levando-os a percecionar outras práticas, outras culturas e outros países, contribuindo para a sua afirmação no mundo e habilitando-os a trabalhar em qualquer ponto do globo”. O modelo é seguido pela escola que fundou há 60 anos e para Fracis Clivaz “o sucesso do método está comprovado”.
Dos bancos desta escola, atualmente membro da rede Laureate, saíram nomes como Omer Kaddouri, presidente executivo do Grupo Rotana, uma empresa de gestão hoteleira que soma mais de 85 hotéis de luxo na região do Médio Oriente, África e Europa. Descendente de iraquianos e britânicos, Omer kaddouri formou-se pela Les Roche em 1986 e antes de criar o seu próprio império integrou as cadeias Hilton Internacional em Londres e a Shangri-La em Kuala Lumpur. Da sua base de formação o gestor retirou o leque de competência que hoje considera essencial desenvolver entre os quadros dos seus hotéis, mas também os requisitos de que não abre mão de cada vez que contrata um novo elemento para a sua equipa: “visão, criatividade, partilha de experiências, trabalho em equipa, planeamento, inspiração e motivação”. Características que, enfatiza, “culminam num fator que é determinante para qualquer projeto na área da hotelaria e turismo: inovação”.
Uma visão que Brian Payea, líder de relações com a indústria da Tripadvisor, corrobora. Para o especialista, que detém também a responsabilidade pela formação global dos quadros da empresa, “a indústria da hotelaria e turismo está mais profissional e inovadora, resultado de um trabalho de formação que tem vindo a ser consolidado ao longo dos últimos anos e ao qual é fundamental dar continuidade”. Segundo o World Trade and Tourism Council, “o setor das viagens e turismo é o segundo maior empregador a nível mundial, assegurando 8,9% do total dos empregos criados no mundo inteiro”. No último ano, terão sido criados cerca de 4,7 milhões de empregos nesta área. Para Omar Kaddouri, o setor está de tal forma personalizado que “há já uma guerra de talento”. O líder do Grupo Rotana enfatiza que “uma empresa que não tenha uma boa base de talento, não é uma boa empresa e não sobrevive no setor do turismo”.
Com padrões de exigência e excelência cada vez mais elevados, as empresas do setor e os seus profissionais têm procurado cimentar a sua qualificação nas áreas essenciais à gestão hoteleira. Aumentou nos últimos anos a oferta de formação qualificada e abrangente na área da hotelaria e foi também reforçada a estratégia destas escolas na qualificação dos seus alunos. Paula Singer, presidente da Laureate Global que congrega mais de nove mil alunos espalhados pelo mundo, acredita que na área do turismo a formação global assume uma importância ainda mais relevante, na medida em que se formam profissionais capazes de lidar com a diversidade cultural. “Profissionais com mundo”, esclarece. “É importante encarar as escolas como centros de competências, cujo propósito é formar profissionais apaixonados e orientados para o sector, com um perfil empreendedor e inovador que é essencial para o futuro do setor”.
Nas várias escolas que a Les Roche tem espalhadas pelo mundo – Suíça, China, Espanha e Jordânia – a estratégia de formação é a mesma e tem inspirado outras escolas de gestão hoteleira de vários países. Com uma forte componente prática, os alunos são treinados para desempenhar qualquer função inerente á atividade de um hotel (receção, limpeza, cozinha, gestão). Os primeiros dois anos dos cursos da Les Roche são maioritariamente práticos. A teoria está concentrada na fase final da formação. Sonia Tatar, diretora da Les Roches Worldwide, explica a opção: “queremos desenvolver não apenas futuros líderes de hotelaria e turismo, mas sobretudo líderes responsáveis, focados na responsabilidade social desta indústria e em servir a comunidade onde se inserem”.
Segundo a diretora, “este é um negócio de pessoas, por isso treinar as softskills e o saber fazer é determinante”. A responsável assegura que a fórmula é de sucesso e destaca o elevado índice de recrutamento que a Les Roche regista anualmente. Mais de 90% dos alunos estão empregados antes mesmo de concluírem a sua formação e durante o seu percurso acumulam várias propostas de trabalho (não apenas na área da hotelaria), cabendo-lhes decidir a que melhor se adequa. “A ambição global e internacional desta escola que congrega alunos de 90 nacionalidades distintas, faz a diferença para os empregadores”, explica. Louis Vuitton, Bloomberg, Four Seasons, Hilton, Rotana e muitas outros figuram na lista de recrutadores da escola.
Com uma longa e reputada tradição no ensino da gestão hoteleira, consolidada ao longo dos seus 60 anos de existência, a escola suíça LES Roche é apontada como um exemplo de excelência na qualificação de quadros de topo, que atrai um número crescente de alunos. Mas a escola não está ao alcance de todos. Frequentar a Les Roche durante os três anos necessários à conclusão do curso pode custar entre 15 e 60 mil euros por semestre, dependendo do curso, da localização da escola e da modalidade que o aluno escolhe para a sua formação. O valor não inclui as viagens, nem o montante necessário para a subsistência dos alunos, mas contempla o alojamento e alimentação.
Portugueses na LES Roche
Apesar do valor das propinas, a escola é procurada por um número crescente de alunos portugueses que a encaram como um investimento com futuro, cujo retorno é rapidamente assegurado uma vez chegados ao mercado de trabalho. Ana Grillo confirma-o. A portuguesa que se formou na Les Roches trabalha atualmente numa unidade hoteleira em Londres e garante que a carreira internacional é a sucessão mais natural quando se conclui a formação na escola. “São poucos os alunos que decidem regressar ao seu país antes de tentarem uma carreira internacional”, confirma.
Formatada para olhar global e capitalizar experiência internacional, Mariana Heath também rumou à Les Roche. A jovem portuense de 23 anos conclui este ano a sua formação e já tem lugar assegurado numa unidade hoteleira de luxo no Dubai. Quer regressar a Portugal, mas não agora. Entre as prioridades que definiu para si está o capitalizar experiência e currículo para quando regressar ao país ter “outro valor de mercado”, realça.
Em 2014, Portugal assegurou perto de 322 mil empregos no setor das viagens e turismo. O crescimento que o país registou nesta área nos últimos anos e a notoriedade que tem vindo a alcançar a nível global enquanto destino turístico de eleição tem, segundo Carlos de La Lastra, CEO da Les Roche Marbella (Espanha) atraído um número crescente de alunos portugueses à instituição. Pela proximidade geográfica, o maior número de estudantes portugueses escolhe Espanha como destino. De resto, a escola que lidera acaba de anunciar o alargamento do número de vagas para alunos portugueses que queiram integrar os cursos que se iniciam em janeiro.
“Nos últimos sete anos, fruto do incremento da atividade turística em Portugal e também do reconhecimento dos cursos da Les Roches e da sua elevada empregabilidade em cargos de topo, a escola tem atraído mais portugueses”, explica o CEO da Les Roches Marbella acrescentando a necessidade de que o país continue a incentivar a formação dos seus profissionais nesta área de modo a que possa tirar pleno partido do potencial nacional na área do turismo, ao promover um serviço de excelência. “Este é um setor que trabalha para pessoas, se não as servir com excelência não terá sustentabilidade”, realça.