Fernanda Pedro
COM a crise de emprego generalizada o trabalho
temporário (TT) ganhou maior expressão e adesão no
mercado português. Por opção ou necessidade, muitos
fizeram do TT a sua forma de vida.
O EXPRESSO foi saber como é que alguns trabalhadores
chegaram até ao TT e descobriu que apesar da ideia negativa que
todos tinham deste regime de trabalho, acabaram por alterar as suas opiniões
e agora crêem mesmo que foi a melhor escolha profissional que tomaram
até hoje.
Vasco Mendes tem 26 anos e desde os 16 que conhece o mercado de trabalho.
Passou por várias empresas e desdobrou-se em diversas actividades.
Mesmo quando saía de um emprego nunca tinha problemas em arranjar
outro. De vigilante, a técnico comercial, a administrativo, Vasco
fez de tudo um pouco.
Mas nem sempre a sorte o acompanhou e em Novembro de 2002 viu-se confrontado
com o desemprego. As respostas a anúncios de trabalho passaram
a fazer parte do seu dia-a-dia e "pela primeira vez aconteceu
enviar o currículo e não me chamarem. Depois de uma entrevista
a resposta era sempre a mesma: se for aceite nós contactamos",
conta. Mas a resposta nunca veio e durante um mês Vasco Mendes sentiu
na "pele" a crise de emprego com que Portugal se debatia.
A solução surgiu através do TT. "Até
aí, nem tinha uma ideia muito positiva deste regime laboral. Achava
que devia ser difícil às pessoas sujeitarem-se a trabalhar
por períodos tão curtos e sem qualquer esperança
de futuro", explica. Mas Vasco Mendes acabou por mudar a sua
opinião porque logo que se inscreveu numa empresa de TT, foi chamado
de imediato.
Desde Janeiro deste ano que se encontra a trabalhar como escriturário
e verifica que tem sido uma experiência muito positiva. "O
ambiente de trabalho é muito bom e procuro empenhar-me para corresponder
ao que esperam de mim", refere. Vasco entende agora porque a
entidade patronal recorre muito ao TT: "As empresas precisam de
avaliar as pessoas que pretendem recrutar e consoante o desempenho do
trabalhador temporário, eles escolhem aquele que se adapta melhor
às funções pretendidas".
O mais difícil neste tipo de trabalho, é na opinião
deste profissional, os contratos mensais. "Naturalmente que alguns
podem ser renováveis mas o facto de todos os meses sermos confrontados
com a continuação ou não na empresa, é o mais
complicado de gerir", explica. Mas Vasco Mendes alimenta a esperança
de vir a integrar os quadros da instituição onde se encontra
neste momento. Além disso, está a frequentar o curso de
informática no ensino nocturno, o que poderá ajudar na preferência
da empresa pelos seus serviços.
Para Sandra Costa, de 28 anos, o TT foi uma opção pessoal.
Contudo, garante que apesar da sua decisão, o TT surgiu por necessidade.
"No emprego em que me encontrava há cerca de um ano não
ganhava o suficiente para fazer face às despesas mensais. Não
podia ficar ali e iniciei a minha pesquisa pelo mercado de trabalho em
busca de algo melhor. Foi assim que cheguei a uma empresa de TT",
lembra.
Também esta trabalhadora não era adepta da ideia de algum
dia recorrer ao TT, "achava mesmo que nunca iria para um regime
de trabalho desta natureza. Para mais, vivo sozinha, tenho obrigações
financeiras e o facto de não ter um emprego certo assustava-me.
Mas afinal enganei-me".
Para o confirmar, está o facto de logo no dia seguinte à
sua inscrição na empresa de TT, foi chamada para se apresentar
numa empresa para exercer as funções de administrativa.
Decorreu um ano e Sandra Costa nunca mais deixou de trabalhar. Já
esteve em quatro empresas e em seis meses ficou apenas um dia em casa.
"Assim que acabo um contrato, sou chamada para outro. E isso tem
sido muito positivo porque vou adquirindo experiências e tenho sempre
a esperança que um dia acabe por ficar numa das empresas por onde
passo", revela.
"É difícil quebrar os laços
afectivos"
Um dos pontos negativos relativamente ao TT é, na opinião
de Sandra Costa, a ruptura com os colegas das empresas por onde passa.
"Quando começamos a estabelecer laços com as pessoas
e nos vamos ambientando ao trabalho, temos de nos ir embora, e para mim,
isso é o mais difícil", refere.
Mafalda Martins, de 25 anos, ainda não passou por essa experiência,
porque se encontra na mesma empresa desde recorreu ao TT. Tudo aconteceu
há cerca de um ano quando terminou a licenciatura em Engenharia
de Ordenamento de Recursos Naturais. A procura do primeiro emprego foi
difícil e não encontrou respostas positivas na área
do seu curso. "Acabei por tentar também uma empresa de
TT e foi precisamente aí que surgiu a solução para
o meu problema", lembra.
Na realidade, foi na Adecco, empresa de trabalho temporário, que
Mafalda entrou para o mundo laboral. Aqui trabalhou durante alguns meses
e só depois foi colocada numa empresa com um contrato de quatro
meses como Operadora de Registo de Dados. "Já passou quase
um ano e ainda me encontro no mesmo sítio. Existe inclusive a perspectiva
de ficar", adianta.
Apesar de não estar a trabalhar na área para a qual estudou,
Mafalda Martins não se sente desmotivada, pelo contrário.
"Gosto do que faço e onde estou. É muito gratificante
porque estou a aumentar e a diversificar os meus conhecimentos. Não
podemos ficar presas só ao curso que tiramos e desta forma, o leque
de ofertas de trabalho pode ser maior".
Para esta trabalhadora o TT tem também a vantagem de nunca se ficar
subjugado à rotina. Além disso, a necessidade de provar
que possui capacidades para desempenhar as funções exigidas,
obriga a um empenho maior. "Isso obriga a um esforço adicional
e a tentarmo-nos superar todos os dias", salienta Mafalda.
Uma das situações mais ingratas para o trabalhador temporário,
é na opinião desta profissional, o acesso às regalias
sociais: "Nós temos todos os direitos legais, nomeadamente
as férias e os subsídios, mas somos prejudicados em relação
aos trabalhadores dos quadros".
Outro dos inconvenientes do trabalho temporário, é para
Mafalda Martins, a insegurança do futuro. Segundo esta profissional,
o que poderá ser bom para os jovens que ganham experiência
"não será para as pessoas que tenham família
construída e que não podem dar-se ao 'luxo' de apostar num
destino incerto.