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Trabalho Temporário: a hora dos especializados

Trabalho Temporário: a hora dos especializados

Portugal criou uma média de 87 mil empregos temporários a tempo inteiro, em 2010. A grande maioria destes empregos tinham uma duração de cerca de 3,9 meses e 75% dos trabalhadores não chegavam a auferir 600 euros mensais. Mas esta estatística não é igual para todos.
12.04.2012 | Por Cátia Mateus


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Há uma nova geração de trabalhadores temporários a nascer no país. Uma geração especializada que presta serviços a empresas com elevadas necessidades de qualificação. Uma geração que pode ser temporária, mas não trabalha por menos de 1300 euros mensais.

Ser temporário pode ser aliciante, particularmente quando a conjuntura nacional não consegue travar a escalada do desemprego. Com as ofertas laborais a encolherem, são cada vez mais os jovens que encontram no trabalho temporário uma ferramenta para contornar a crise e também as empresas que procuram gerir a incerteza, sem abrir mão de trabalhadores especializados e altamente qualificados. Segundo um estudo agora divulgado pela Page Personnel, a empresa do Grupo Michael Page, especializada no recrutamento e seleção de posições intermédias e funções técnicas de suporte, o Trabalho Temporário (TT) especializado tem registado forte procura nos últimos três meses.

Os salários são aliciantes e segundo a empresa, “85% dos colaboradores entram para os quadros depois de terminado o seu vínculo temporário”.
O conceito é o mesmo, mas as condições para os trabalhadores temporários especializados são outras. Enquanto no TT normal, a maioria dos trabalhadores não chega a auferir 600 euros mensais e os contratos vão pouco além dos 3 meses (ver caixa), aqui é raro haver contratos por períodos inferiores a seis ou nove meses e segundo a executive manager da Page Personnel, Sílvia Nunes, “a média salarial ronda os 1300 euros mensais”. Valores que parecem estar a ser aliciantes para a generalidade dos profissionais.

“Temos vindo a notar entre as empresas um incremento deste tipo de projetos e da procura de profissionais especializados para funções temporárias”, explica Sílvia Nunes acrescentando que “feliz ou infelizmente a crise tem feito com que estes perfis sejam cada vez mais procurados e os jovens já vêem no TT uma escapatória possível ao desemprego, face a outras eventuais soluções como a emigração ou os apoios sociais”.

Os perfis financeiros e ligados à área do marketing, backoffice de suporte e secretariado são os mais procurados pelas empresas. Já numa análise setorial, o estudo realizado pela Page Personnel permite constatar que “a maioria dos candidatos é recrutado para trabalhar nos sectores da Banca, Consultoria, Seguros, Saúde e Serviços”, explica a responsável adiantando que “85% dos perfis acabam por ser integrados nos quadros das empresas”.O sector de healthcare é, de resto, aquele que regista maior percentagem de empregabilidade pós contrato de trabalho temporário especializado, com uma taxa de retenção dos colaboradores na ordem dos 80%.
Um dos sectores que consistentemente procura profissionais temporários é o da consultoria que tem estado particularmente ativo em Portugal, por oposição à engenharia e construção que têm vindo a registar um decréscimo no recurso a trabalhadores temporários especializados, devido às quebras registadas no sector no último ano.

Sílvia Nunes esclarece que o TT especializado não é igual ao normal. “Trata-se de uma categoria que exige mais e maiores competências para projetos de caráter específico que exigem níveis de especialização e desempenho acima da média”. A especialista adianta que “esta tendência de crescimento parece estar associada não a uma expansão do emprego em Portugal, mas sim a um efetivo desenvolvimento no mercado de recrutamento em Portugal, baseado na necessidade cada vez maior das empresas em otimizar os seus processos de recrutamento, recorrendo a outro tipo de serviços para suprir as lacunas do mercado”.

Situações de ausência prolongada de trabalhadores e o acréscimo específico de trabalho têm impulsionado este tipo de recrutamento. Mas o facto das estruturas estarem atualmente com um número bastante ajustado de colaboradores devido, sobretudo, a cortes orçamentais, poderá estar na base da necessidade de aumentar a contratação destes profissionais. A maioria das propostas de TT especializado estão concentradas em Lisboa e no Porto e destinam-se, segundo a Page Personnel, a projetos estáveis e empresas sólidas, “o que faz com que os candidatos acabem muitas vezes por ser integrados na equipa posteriormente”, revela Sílvia Nunes. A responsável prevê que esta tendência de crescimento do trabalho temporário especializado se mantenha em 2012 até porque segundo Sílvia Nunes, esta é uma iniciativa concreta de combate ao desemprego.

Os desafios de ser temporário em Portugal
“Portugal está ligeiramente acima da média europeia em matéria de recurso ao Trabalho Temporário”. Quem o afirma é Vitalino Canas, provedor da Ética Empresarial e do Trabalhador Temporário (PEETT), segundo o qual a penetração do TT manteve-se estável em Portugal nos últimos anos, mas tem vindo a aumentar, tendo atingido em 2010 os 1,7% do emprego.

Com efeito, segundo os últimos dados do relatório do PEETT relativos a 2010 e agora divulgados, as agências de TT ciaram naquele ano 87 mil empregos a tempo inteiro, num total de quase 280 mil contratos temporários firmados. O número foi o mais elevado desde 1996 e levou Portugal a somar o quinto maior aumento no recurso ao TT da União europeia.

Mas no dito trabalho temporário não especializado, ainda há um longo caminho a percorrer. Destes profissionais, cerca de 75% ganhavam menos de 600 euros mensais e 25% auferiam o salário mínimo, em contratos cuja duração média era de 3,9 meses. Um decrécimo face a 2009, altura em que os contratos temporários duravam em média 6,5 meses. Uma redução que para o provedor poderá estar associada à retração económica.

São os homens quem mais sucesso tem na colocação temporária, representando 60% dos trabalhadores temporários portugueses. Mas a faixa etária é hoje mais vasta do que há alguns anos. 71% dos profissionais recrutados tinham entre os 25 e os 54 anos, mostrando que a franja de temporários está a alargar-se. Mas apesar da expansão, o provedor demonstra alguma preocupação com os direitos dos temporários em tempo de adversidade. Em declarações recentes à LUSA, Vitalino Canas, “o trabalho temporário tem algumas vantagens reconhecidas, mas em situações de crise os trabalhadores temporários ficam particularmente vulneráveis, não só porque são os primeiros a ser despedidos, como também aceitam mais facilmente a perda dos seus direitos”. O provedor assume que este é um sector onde é preciso estar permanentemente atento, mas que “o papel das agências privadas de emprego é fundamental para inverter a situação e combater o desemprego”.



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