Temporários gerem reconversão profissional em tempo de crise
Portugal é o quinto país do ranking de 26, onde há mais jovens a trabalhar temporariamente. Segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 56,4% dos portugueses ativos entre os 15 e os 24 anos desempenham funções temporárias.
20.07.2012
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Numa época de incerteza e apesar das notícias recentes relacionadas com as salariais destes trabalhadores, as empresas e associações do sector insistem que temporário não significa precário e que esta pode ser uma importante via para ultrapassar situações de desemprego.
A lista dos países onde há mais jovens a exercer funções temporárias, Portugal só é superado pela Eslovénia (72,5%), Polónia (64,3%), Espanha (60,7%) e Suécia (57,8%). Somos o quinto país desta lista. O país onde, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 56,4% dos jovens entre os 15 e os 24 anos trabalham de forma temporária. Estima-se que Portugal tenha cerca de 75 mil jovens neste regime laboral que também se estende, cada vez mais, à população adulta. A adversidade económica fez as empresas repensarem os seus modelos de contratação e mudou também o perfil dos trabalhadores temporários. Mais experientes, mais especializados e até altamente qualificados, há cada vez mais profissionais a encontrarem no TT uma porta de regresso ao mercado de trabalho. Um voto de confiança neste modelo de contratação que para Luís Gonzaga Ribeiro, diretor da Ranstad, só pode ter como resposta “a preocupação de promover o emprego digno” por parte das empresas.
As recentes polémicas em torno da contratação de enfermeiros a baixo custo para o Serviço Nacional de Saúde, relançou a polémica em torno do TT. Vitalino Canas, o Provedor da Ética Empresarial e do Trabalho Temporário (PEETT), veio a público negar que tivesse existido qualquer adjudicação a empresas de trabalho temporário para a contratação de enfermeiros, alegando tratar-se de “empresas de outsourcing e a recibos verdes”. O provedor reconhece que “muitas vezes não é claro onde termina o trabalho temporário e onde começam outros modelos contratuais”.
Segundo Vitalino Canas, “os documentos de concurso que se limitem a definir como critério de adjudicação o mais baixo preço unitário por hora, não definindo limites mínimos para o preço, constituem uma ilegalidade, bem como os atos de adjudicação e as estipulações contratuais que contrariem a proibição das normas legais, designadamente as que proíbem a venda com prejuízo, ou que impliquem a remuneração dos profissionais envolvidos, em valores abaixo dos fixados por lei ou através da contratação coletiva”. Situações que o PEETT tem batalhado para eliminar de modo a credibilizar esta modalidade de trabalho que garante a subsistência a um número cada vez maior de trabalhadores, podendo ainda abranger muitos mais.
Combate ao desemprego
Luís Gonzaga Ribeiro, diretor da Randstad, reforça a importância de se separar os trabalhadores temporários do trabalho precário. Para o líder daquela que é a segunda maior empresa privada empregadora em Portugal, “as empresas de TT e outsourcing têm um papel extremamente importante no quadro do desemprego nacional” (ver caixa). O especialista reconhece que “enquanto não houver crescimento económico o país não conseguirá fazer o desemprego diminuir”, mas acrescenta que o TT tem o poder de facilitar as transições dentro do mercado de trabalho, permitindo aos desempregados a reintegração laboral, aos jovens a conquista de um primeiro emprego e até a profissionais mais seniores manterem a sua atividade.
A média de utilização deste modelo contratual em Portugal ainda está longe da Europa, “mas o país tem evoluído”, esclarece. “A Ranstad é um termómetro laboral e consegue aperceber-se das tendências de emprego a nível nacional, conseguindo encaminhar os jovens para as áreas de maior empregabilidade e sugerir requalificações para pessoas cujas áreas profissionais estejam com menores oportunidades”, reforça Gonzaga Ribeiro.
O diretor da Randstad enfatiza ainda que “o TT tem uma virtude extraordinária, muitas vezes esquecida mas que é muito importante em alturas de crise como esta, que é permitir às empresas experimentarem novos postos de trabalho que depois se tornam em empregos definitivos”. O líder estima que a taxa de conversão de trabalhadores temporários em trabalhadores do quadro ronde os 25 a 30%. O que para Gonzaga Ribeiro reforça “o papel que podemos ter na criação de novas oportunidades laborais mesmo numa conjuntura adversa”.
Os serviços e a indústria são as áreas mais dinâmicas no recurso ao TT. Dentro destas, a indústria automóvel, o turismo, a banca, os seguros, as Ti, o retail, a aviação, a logística e a hotelaria, a par com os call centers e o catering são as áreas que maiores oportunidades geram.
Luís Gonzaga Ribeiro, diretor da Randstad
“A grande preocupação deve ser promover o emprego digno”
A OCDE prevê para o próximo ano uma taxa de desemprego de 16,2%, uma das taxas mais preocupantes da Europa. Que contributo podem as empresas de Trabalho Temporário dar para a inversão desta tendência?
As empresas de trabalho temporário e outsourcing têm um papel extremamente importante ao facilitarem as transições no mercado de trabalho, permitindo aos jovens encontrarem o seu primeiro emprego, a trabalhadores terem acesso a formação que promoverá a experiência que será valorizada noutros empregos, a desempregados entrarem novamente no mercado de trabalho. Portugal segue estas tendências estando ainda distante da média de utilização europeia, embora se tenha observado nestes últimos anos uma evolução em termos de utilização deste modelo.
Acredita que Portugal poderá a médio prazo inverter esta escalada do desemprego? De que modo?
Portugal terá de relançar a sua economia. A grande preocupação deve ser a de promover o emprego digno, em que os direitos dos trabalhadores sejam assegurados, mas também onde estes adquiram cada vez mais a consciência das suas obrigações e do seu papel na promoção da produtividade e competitividade das empresas.
Quantos portugueses coloca a Ranstad mensalmente no mercado de trabalho?
Atualmente, cerca de 29 mil.
Quais as áreas que continuam a gerar boas oportunidades laborais no país?
Sem qualquer dúvida, todas as que estão ligadas às novas tecnologias e informática.
Há dificuldade em conseguir trabalhadores para alguma área específica?
Existe um sector onde sempre tivemos muita dificuldade em recrutar e, cada vez mais, essas dificuldades aumentam. Refiro-me às categorias com especializações técnicas nas áreas da soldadura, eletricidade, hidráulica e instalações industriais em geral. O encerramento das escolas profissionais contribuíram muito para a falta desta mão-de-obra. Atualmente quase não encontramos soldadores, tubistas ou eletricistas disponíveis no mercado. Os poucos que existem ganham salários acima da média nacional e os jovens que se forma nestas especialidades emigram para outros países onde o nível salarial não é comparável com o nosso.
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