Fernanda Pedro
CERCA de um terço dos funcionários da Microsoft
desenvolvem a sua actividade em regime de trabalho temporário (TT).
Neste momento entre cinco a seis mil pessoas trabalham nestas condições.
Em meados dos anos 90 a multinacional norte-americana alterou os seus
estatutos internos de regulação do TT limitando os contratos
de trabalho de TT a 12 meses. Apesar disso, muitos dos funcionários
a trabalham há mais de 14 anos não viram a sua situação
alterada.
Depois de um processo instaurado em 1992, só em 2000 foi resolvida
a situação com o pagamento da empresa de cerca de 97 milhões
de dólares (cerca de 110 milhões de euros) de indemnizações
a todos os trabalhadores temporários.
Hoje a Microsoft tem a sua situação resolvida e os seus
trabalhadores temporários estão legalmente integrados. Este
é apenas um caso de uma empresa que se deixou tentar pela flexibilidade
oferecida pelo trabalho temporário e contornar a lei. Um cenário
que ainda campeia em Portugal, mas a legalidade começa a ganhar
terreno.
Trabalho à medida
De acordo com os especialistas contactados pelo EXPRESSO, o recurso ao
TT é positivo para a gestão empresarial, porque na maioria
das empresas a produção está sujeita a diversos factores
e variações, como a sazonalidade ou flutuações
conjunturais do ambiente macroeconómico.
Essas variações impossibilitam às empresas de cumprirem
à risca o planeamento e cronogramas estabelecidos. Mas não
só. As encomendas extraordinários e o absentismo por motivo
de doença, acidente, licença de maternidade e férias
também contribuem para aumentar o nível de incerteza.
Neste panorama, o TT surge para o empresário como uma óptima
opção, a fim de adequar o fluxo de mão-de-obra ao
ritmo de produção, com menor custo. Por isso, o trabalho
temporário acaba por se afirmar devido à sua relação
custo-benefício. É que a empresa utilizadora não
só pode findar o contrato sem custos de indemnização,
como também transforma o custo fixo em variável.
Em Portugal, o recurso ao TT por parte dos empresários tem sido
cada vez mais frequente. "O trabalho temporário é
útil para a organização de tarefas rotineiras de
curta duração ou em funções mais especializadas
em que a empresa tenha a possibilidade de passar o trabalhador para os
quadros. Neste contexto, o TT é utilizado como período de
avaliação de uma futura relação profissional
duradoura", explica Viriato Barreira, director de Recursos Humanos
da Nextiraone, empresa na área das Tecnologias de Informação
e Comunicação (antiga Alcatel).
De acordo com este responsável, o principal problema de se recorrer
a esta forma de trabalho reside no facto de "os trabalhadores
contratados não se sentirem ligados à organização
uma vez que para eles a função desempenhada é encarada
como uma 'passagem'. Esta situação foi mais notória
algum tempo atrás em que o mercado se encontrava quase em pleno
emprego para este tipo de funções".
O director da Nextiraone considera também que estes trabalhadores
não empenham todo o seu potencial uma vez que se sentem exteriores
à organização.
Naquela empresa, os trabalhadores temporários geralmente são
utilizados em casos de substituição pontual de funcionários
em situação de férias e também em situações
de acréscimo de trabalho imprevistas e de curta duração.
As funções para onde são contratados são de
carácter administrativo "Normalmente estes trabalhadores
apresentam reduzida experiência profissional, com escolaridade ao
nível do 12º ano ou frequência universitária",
discrimina aquele responsável.
A LG Electronics de Portugal também utiliza com frequência
trabalhadores temporários, sobretudo na área administrativa,
desde escriturários, telefonistas, a secretárias. "Neste
momento temos na empresa sete trabalhadores neste regime laboral. Um número
que tem subido nos últimos tempos porque estamos num período
de acréscimo de produção", revela Luís
Lopes, director de Recursos Humanos da LG Electronics no país.
Segundo este responsável, se o aumento de produção
continuar estes trabalhadores poderão entrar para os quadros da
empresa. "Neste caso, a empresa poderá fazer uma selecção
dos profissionais para as funções que necessita. Aqueles
que mais se adequarem ao perfil pretendido podem ser os escolhidos",
remata Luís Lopes.