Cátia Mateus e Fernanda
Pedro
EM CENÁRIO de crise
económica, o Trabalho Temporário (TT), pela
sua flexibilidade, pode contribuir para que as entidades empregadoras
sintam uma maior abertura face à admissão novos
colaboradores.
E em tempo de despedimentos o TT pode também afirmar-se
como uma porta de entrada privilegiada para o mercado de trabalho.
Outplacement ganha adeptos no mercado
português
Num momento em que a maioria das empresas "congelou"
a entrada de funcionários para os seus quadros, o recurso
a trabalhadores em regime temporário assume-se como uma alternativa.
Para quem procura emprego, esta pode ser a oportunidade esperada.
Guy Mallet, director-geral da Randstad, uma multinacional de TT,
assim o confirma. De acordo com o responsável, além
de constituir um importante contributo para o alargamento da experiência
profissional, "cerca de 30% dos candidatos conseguem entrar
para os quadros das empresas e numa altura de crise do emprego,
o TT pode ser a alternativa para muitos desempregados".
Para o director da Randstad, o mais importante num candidato ao
TT é a motivação e a capacidade de adaptação
a qualquer tipo de trabalho. "A polivalência é
muito importante no mercado laboral e traz muitas vantagens, nomeadamente
na aquisição de outras competências. Em França
muitos jovens preferem começar com o TT para ganhar experiência
e alargar o currículo", explica Guy Mallet.
Contudo, o responsável salienta a importância de uma
aposta adequada na formação dos candidatos. A empresa
que dirige assegura esta componente. "Os nossos clientes
pedem um trabalhador com determinado perfil, nós tentamos
adaptar o candidato que melhor se adequa às funções
pretendidas e fornecemos a formação necessária",
explica.
"Tipicamente, classifica-se o sector de trabalho temporário
como uma área que cresce em momentos de crise",
explica Rui Quinhones, responsável pelo departamento de TT
da Egor. Para o responsável "há que ter consciência
de que nos momentos de crise se assiste a um menor número
de admissões directamente para o quadro das empresas, abrindo-se
assim algumas vagas, por vezes em funções qualificadas,
que em normais circunstâncias não seriam entregues
a temporários".
De acordo com Rui Quinhones, as principais quebras no número
de TT registam-se no sector industrial. No terciário, a quantidade
de contratações neste regime tem mesmo registado algum
crescimento.
Habitualmente, a Egor é contactada por jovens entre os 19
e 26 anos, com qualificações ao nível do 12º
ano de escolaridade ou frequência universitária e com
reduzida experiência profissional - "um perfil comum
a 60% dos nossos candidatos". Contudo, Rui Quinhones não
hesita em afirmar que "a restante percentagem apresenta
já um nível de especialização mais elevado,
com experiências profissionais e competências desenvolvidas".
Um perfil que o responsável prevê possa aumentar em
2003 "face ao crescente desemprego".
Entre as funções mais procuradas o responsável
destaca "as relacionadas com o trabalho manual, procuradas
por jovens com baixas qualificações, e as funções
ligadas ao secretariado, apoio a clientes, administrativos e actividade
comercial, requeridas por jovens mais qualificados".
A importância do TT enquanto dinamizador do mercado laboral
e ferramenta de combate ao desemprego é também reconhecida
por Mário Costa, administrador delegado do Grupo Select/
Vedior. Para este responsável, "o TT funciona como
uma mola de amortecimento na transferência de pessoas de sectores
que estão em crise para outros que registam movimento".
Uma ferramenta que diz ser capaz de assegurar a necessária
resposta em termos de flexibilidade e adaptabilidade de recursos
humanos, aos ciclos económicos e embates conjunturais.
Segundo Mário Costa, "o TT permite
igualmente facilitar o processo de integração dos
recém-licenciados no mercado de trabalho, ao mesmo tempo
que ajuda a enriquecer os seus currículos e ganhar competências".
Para o responsável, apesar da baixa taxa de penetração
que o TT ainda regista no mercado laboral nacional, não há
dúvidas de que esta forma de trabalho pode mesmo ser uma
"porta de entrada" no mundo laboral.
No entanto, o responsável alerta: "Em Portugal, é
necessário investir mais na formação das pessoas
para que com o esperado crescimento económico, a empregabilidade
volte a aumentar".
Blas Oliver, director-geral da empresa de Recursos Humanos Adecco,
também considera que esta pode ser uma via de combate ao
desemprego. "Numa primeira fase, a empresa de TT deve actuar
como intermediária, canalizando os candidatos para as ofertas
de emprego existentes", explica o responsável.
Aquele responsável advoga ainda que as empresas de TT devem
ainda ajudar a "normalizar e regular as relações
laborais prejudiciais para o trabalhador, tais como recibos verdes,
trabalhadores sem contrato, que ainda afectam mais de 20% da população
activa".
'Outplacement' ganha terreno
O ACTUAL panorama do desemprego nacional é,
em grande parte dos casos, uma consequência directa da necessidade
de reestruturação de muitas empresas que por motivo
de fusão ou aquisição resulta na duplicação
de funções, conduzindo à dispensa de muitos
trabalhadores.
Mas para minimizar o impacto destas reestruturações,
muitas empresas - com boas práticas de gestão de recursos
humanos - recorrem aos serviços de "outplacement".
Trata-se de empresas vocacionadas para apoiar os profissionais dispensados
na reinserção no mercado de trabalho. Uma acção
que pode passar por uma nova colocação noutra empresa,
pela criação do próprio emprego ou a transição
para a reforma.
Segundo os especialistas contactados pelo EXPRESSO, o "outplacement"
é um método ainda pouco utilizado no meio empresarial
português, mas neste momento de crise e maior mobilidade laboral
no continente europeu, o número de clientes aumentou significativamente.
"Constatou-se o amadurecimento do mercado e a crescente
procura deste serviços. Uma alteração que se
deve principalmente, às mudanças culturais de gestão,
impulsionadas pela abertura de fronteiras", refere Anabela
Ventura, "manager director" da empresa de "outplacement"
DBM, responsável pela introdução deste serviço
no país em 1992.
De acordo com esta responsável, o "outplacement"
procura sobretudo cumprir quatro objectivos: apoiar o colaborador
dispensado na reinserção do mercado laboral; lograr
que o processo de separação corra da melhor forma
possível; preservar o clima interno da empresa e a imagem
da instituição no mercado. Nos últimos dois
anos a DBM, verificou um aumento significativo da procura dos seus
serviços, nomeadamente nos sectores das tecnologias de informação
(TI), das telecomunicações e do sector farmacêutico.
Para Yves Turquin, director-geral da Lee Hecht Harrison, a empresa
de "outplacement" do grupo Adecco, a evolução
deste serviço em Portugal tem sido positiva, em parte devido
ao acréscimo do grau de responsabilidade social por parte
das empresas e do do impacto negativo da desvinculação
contratual no comportamento dos colaboradores "sobreviventes".
De acordo com este responsável, os sectores da banca, dos
seguros, da auditoria, da consultoria, farmacêutico, automóvel,
da electromecânica e das TI são os que mais procuram
os serviços da Lee Hecht Harrison. "Contudo, actuamos
em todos as situações 'downsizing', uma reestruturação
ou simplesmente ajustar pontualmente o seu 'staff'", conclui.