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Temporários beneficiam com a crise

27.02.2003


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Cátia Mateus e Fernanda Pedro

EM CENÁRIO de crise económica, o Trabalho Temporário (TT), pela sua flexibilidade, pode contribuir para que as entidades empregadoras sintam uma maior abertura face à admissão novos colaboradores.
E em tempo de despedimentos o TT pode também afirmar-se como uma porta de entrada privilegiada para o mercado de trabalho.







Outplacement ganha adeptos no mercado português




Num momento em que a maioria das empresas "congelou" a entrada de funcionários para os seus quadros, o recurso a trabalhadores em regime temporário assume-se como uma alternativa. Para quem procura emprego, esta pode ser a oportunidade esperada.

Guy Mallet, director-geral da Randstad, uma multinacional de TT, assim o confirma. De acordo com o responsável, além de constituir um importante contributo para o alargamento da experiência profissional, "cerca de 30% dos candidatos conseguem entrar para os quadros das empresas e numa altura de crise do emprego, o TT pode ser a alternativa para muitos desempregados".

Para o director da Randstad, o mais importante num candidato ao TT é a motivação e a capacidade de adaptação a qualquer tipo de trabalho. "A polivalência é muito importante no mercado laboral e traz muitas vantagens, nomeadamente na aquisição de outras competências. Em França muitos jovens preferem começar com o TT para ganhar experiência e alargar o currículo", explica Guy Mallet.

Contudo, o responsável salienta a importância de uma aposta adequada na formação dos candidatos. A empresa que dirige assegura esta componente. "Os nossos clientes pedem um trabalhador com determinado perfil, nós tentamos adaptar o candidato que melhor se adequa às funções pretendidas e fornecemos a formação necessária", explica.

"Tipicamente, classifica-se o sector de trabalho temporário como uma área que cresce em momentos de crise", explica Rui Quinhones, responsável pelo departamento de TT da Egor. Para o responsável "há que ter consciência de que nos momentos de crise se assiste a um menor número de admissões directamente para o quadro das empresas, abrindo-se assim algumas vagas, por vezes em funções qualificadas, que em normais circunstâncias não seriam entregues a temporários".

De acordo com Rui Quinhones, as principais quebras no número de TT registam-se no sector industrial. No terciário, a quantidade de contratações neste regime tem mesmo registado algum crescimento.

Habitualmente, a Egor é contactada por jovens entre os 19 e 26 anos, com qualificações ao nível do 12º ano de escolaridade ou frequência universitária e com reduzida experiência profissional - "um perfil comum a 60% dos nossos candidatos". Contudo, Rui Quinhones não hesita em afirmar que "a restante percentagem apresenta já um nível de especialização mais elevado, com experiências profissionais e competências desenvolvidas". Um perfil que o responsável prevê possa aumentar em 2003 "face ao crescente desemprego".

Entre as funções mais procuradas o responsável destaca "as relacionadas com o trabalho manual, procuradas por jovens com baixas qualificações, e as funções ligadas ao secretariado, apoio a clientes, administrativos e actividade comercial, requeridas por jovens mais qualificados".

A importância do TT enquanto dinamizador do mercado laboral e ferramenta de combate ao desemprego é também reconhecida por Mário Costa, administrador delegado do Grupo Select/ Vedior. Para este responsável, "o TT funciona como uma mola de amortecimento na transferência de pessoas de sectores que estão em crise para outros que registam movimento". Uma ferramenta que diz ser capaz de assegurar a necessária resposta em termos de flexibilidade e adaptabilidade de recursos humanos, aos ciclos económicos e embates conjunturais.

Segundo Mário Costa, "o TT permite igualmente facilitar o processo de integração dos recém-licenciados no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que ajuda a enriquecer os seus currículos e ganhar competências". Para o responsável, apesar da baixa taxa de penetração que o TT ainda regista no mercado laboral nacional, não há dúvidas de que esta forma de trabalho pode mesmo ser uma "porta de entrada" no mundo laboral.
No entanto, o responsável alerta: "Em Portugal, é necessário investir mais na formação das pessoas para que com o esperado crescimento económico, a empregabilidade volte a aumentar".

Blas Oliver, director-geral da empresa de Recursos Humanos Adecco, também considera que esta pode ser uma via de combate ao desemprego. "Numa primeira fase, a empresa de TT deve actuar como intermediária, canalizando os candidatos para as ofertas de emprego existentes", explica o responsável.

Aquele responsável advoga ainda que as empresas de TT devem ainda ajudar a "normalizar e regular as relações laborais prejudiciais para o trabalhador, tais como recibos verdes, trabalhadores sem contrato, que ainda afectam mais de 20% da população activa".



'Outplacement' ganha terreno

O ACTUAL panorama do desemprego nacional é, em grande parte dos casos, uma consequência directa da necessidade de reestruturação de muitas empresas que por motivo de fusão ou aquisição resulta na duplicação de funções, conduzindo à dispensa de muitos trabalhadores.

Mas para minimizar o impacto destas reestruturações, muitas empresas - com boas práticas de gestão de recursos humanos - recorrem aos serviços de "outplacement". Trata-se de empresas vocacionadas para apoiar os profissionais dispensados na reinserção no mercado de trabalho. Uma acção que pode passar por uma nova colocação noutra empresa, pela criação do próprio emprego ou a transição para a reforma.

Segundo os especialistas contactados pelo EXPRESSO, o "outplacement" é um método ainda pouco utilizado no meio empresarial português, mas neste momento de crise e maior mobilidade laboral no continente europeu, o número de clientes aumentou significativamente. "Constatou-se o amadurecimento do mercado e a crescente procura deste serviços. Uma alteração que se deve principalmente, às mudanças culturais de gestão, impulsionadas pela abertura de fronteiras", refere Anabela Ventura, "manager director" da empresa de "outplacement" DBM, responsável pela introdução deste serviço no país em 1992.

De acordo com esta responsável, o "outplacement" procura sobretudo cumprir quatro objectivos: apoiar o colaborador dispensado na reinserção do mercado laboral; lograr que o processo de separação corra da melhor forma possível; preservar o clima interno da empresa e a imagem da instituição no mercado. Nos últimos dois anos a DBM, verificou um aumento significativo da procura dos seus serviços, nomeadamente nos sectores das tecnologias de informação (TI), das telecomunicações e do sector farmacêutico.

Para Yves Turquin, director-geral da Lee Hecht Harrison, a empresa de "outplacement" do grupo Adecco, a evolução deste serviço em Portugal tem sido positiva, em parte devido ao acréscimo do grau de responsabilidade social por parte das empresas e do do impacto negativo da desvinculação contratual no comportamento dos colaboradores "sobreviventes".

De acordo com este responsável, os sectores da banca, dos seguros, da auditoria, da consultoria, farmacêutico, automóvel, da electromecânica e das TI são os que mais procuram os serviços da Lee Hecht Harrison. "Contudo, actuamos em todos as situações 'downsizing', uma reestruturação ou simplesmente ajustar pontualmente o seu 'staff'", conclui.

 


 





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