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Temporário 'atrai' qualificados

14.03.2003


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Cátia Mateus

O PANORAMA do Trabalho Temporário (TT) está a mudar em Portugal. Fruto da actual conjuntura económica que agudizou o índice de desemprego, ou de uma mudança de mentalidade face ao TT, as empresas do sector são cada vez mais procuradas por profissionais qualificados.

De técnicos, a licenciados, ou até detentores de pós-graduações e mestrados, o novo trabalhador temporário é tendencialmente um jovem em busca de um lugar num mercado cada vez mais competitivo.

Mas este perfil começa também a integrar trabalhadores altamente qualificados, com muita experiência profissional que por opção decidem trabalhar através de empresas de TT, numa tentativa de manter acesa a chama do desafio.

Há um ano e meio Ana Pereira concluiu a sua licenciatura em Gestão. Fora dos anfiteatros da universidade encontrou um mercado de trabalho onde "facilidade" é uma palavra que não se impõe. Sem pudores afirma que "a universidade não prepara para o mundo laboral". Depois de várias entrevistas falhadas e de uma experiência profissional desmotivante, bateu pela primeira vez à porta de uma empresa de TT. "Pior do que não trabalhar na minha área era estar sem fazer nada. Comecei a pensar que esta seria uma forma de ir ganhando experiência profissional e algum dinheiro", relembra.

Passou por vários empregos e actualmente é uma "habituée" do TT. "Obviamente que não quero ficar assim para sempre, mas quando vejo o estado do mercado de trabalho e a precariedade em que se encontram alguns colegas meus e penso que por agora talvez não seja má ideia ser temporária", confessa Ana Pereira.

Uma postura que segundo Marcelino Pena Costa, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Trabalho Temporário (APETT) tem vindo a ganhar adeptos. Para o responsável, "há uma adesão crescente de trabalhadores qualificados e altamente qualificados aos serviços das ETT, no que respeita à aceitação de trabalhos de curta, média ou longa duração".

Marcelino Pena Costa confessa que a associação a que preside não tem ainda dados concretos no que respeita à percentagem desta adesão, mas acredita que "deverá rondar os 25%". Um crescimento que o presidente da APETT não sustenta com o actual panorama de estagnação de contratações mas que diz ser "fruto de um trabalho de esclarecimento levado a cabo pelas principais ETT quanto aos benefícios na utilização dos seus serviços".

Adaptabilidade é o segredo do sucesso

Uma ideia também corroborada por Fernando Tavares, responsável pelo departamento de Lisboa da empresa de TT Denci Portugal, para quem "os trabalhadores estão cada vez mais conscientes de que não há nada mais permanente que a mudança e que só há uma solução: adaptar-se". Fernando Tavares destaca que, "houve uma mudança de mentalidade por parte do trabalhador que vê na empresa de TT uma entidade idónea para o cumprimento das obrigações patronais".

Também para João Lourenço, presidente da empresa de TT Atlanco, os crescentes índices de adesão dos trabalhadores qualificados às empresas de TT apenas significa que "a actividade de TT atingiu já a maturidade necessária para que seja eleita cada vez mais por diferentes tipos de trabalhadores, com qualificações variadas, ajudando também o facto da lei prever que as condições dos TT sejam equivalentes às dos trabalhadores-quadros da empresa utilizadora".

Aos serviços das ETT recorrem de forma crescente jovens ou recém-licenciados com boas qualificações, mas pouca experiência profissional. As áreas são distintas: Recursos Humanos, História, Línguas, Contabilidade, Gestão, Economia, Direito, Sociologia, Banca e até áreas mais técnicas como a Engenharia e profissões especializadas na área da metalo-mecâncica.

Mas se são muitos os que recorrem às ETT sem qualquer experiência
profissional, Marcelino Pena Costa destaca também um outro tipo de profissionais que encontra no TT uma saída. "Há profissionais altamente qualificados e com muita experiência profissional que decidiram, por opção, trabalhar através de empresas de TT porque assim se sentem permanentemente desafiados e livres para gerirem a sua carreira à medida das suas decisões pessoais", explica. Segundo o presidente da APETT, "estes trabalhadores recusam normalmente propostas de integração nas empresas utilizadoras porque essa não é a forma que escolheram para viver a sua vida".

Oportunidade para novos desafios

Regra geral os candidatos a TT procuram, segundo Fernando Tavares, "funções dentro da sua área de formação, mas face à escassez de oferta que afecta muitos sectores, acabam por aceitar trabalho noutras áreas". Mas Marcelino Pena Costa salienta também a existência de um grupo de profissionais que encontram no TT "uma oportunidade para experimentar outras áreas onde os seus conhecimentos não se aplicam directamente mas que se sentem capazes de, com alguma formação, chegarem a bons desempenhos".

Para João Lourenço, as ofertas que surgem nas empresas de TT também terão contribuído para atrair novos candidatos. "Existem hoje situações de projectos específicos em que se recorre ao TT como meio de contratação, nomeadamente na instalação de novas empresas em Portugal, ou participação em projectos pontuais em Portugal por empresas estrangeiras que não têm estrutura em território nacional, em que os quadros técnicos e de direcção também são contratados em regime temporário", refere.

Entre estes profissionais do TT, não paira a dúvida de que a procura desta forma de trabalho por profissionais cada vez mais qualificados é uma tendência a continuar. Defendem que o trabalho temporário é uma excelente ferramenta na progressão de carreira e aquisição de novas experiências profissionais.

E para Marcelino Pena Costa é tudo um sinal dos tempos. O responsável explica que "hoje, um trabalhador, seja ele qual for, se não se actualizar e adquirir novas e diversificadas competências, quer profissionais quer pessoais, sabe que tem um 'prazo de validade profissional' cada vez mais curto arriscando-se a ficar desadequado para lidar com os novos modelos da sua profissão".







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