Nas vésperas da segunda metade da atual legislatura, aguardam-nos “outras exigências: crescer muito mais, reduzir a dívida pública e, em paralelo, criar mais emprego”, sem “deslumbramentos fáceis e passageiros”, declarou na quarta-feira o Presidente da República, na apresentação do relatório “Portugal — Uma Estratégia para o Crescimento”, desenvolvido pelo Fórum para a Competitividade. O documento reúne as conclusões e propostas de 90 profissionais em 10 áreas estratégicas, sobressaindo a nota de que, para estar na rota da competitividade, Portugal deve crescer 3% ao ano, reduzir a taxa de desemprego para 7% e aumentar o nível salarial. Ambicioso? Segundo Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum, “é difícil ter iguais ou melhores condições para o crescimento do que as atuais”.
O que está a falhar?
A “falta de ambição, de poupança e de concorrência”; a classificação de ‘lixo’ por parte das agências de rating; o “excesso de PME [pequenas e médias empresas], que não conseguem pagar salários melhores”; e a “desarticulação entre a educação, a formação profissional e as necessidades para o futuro” são alguns dos entraves ao crescimento detetados pelo Fórum para a Competitividade e enumerados por Pedro Ferraz da Costa. Sobre o último ponto, referente ao capital humano, o responsável apontou o dedo à desarticulação de políticas. “Os ministérios não se entendem e o Instituto do Emprego e Formação Profissional é algo em que nunca se ousa mexer”, acusou. Por outro lado, a “dificuldade em reter talentos” poderá ser consequência não só das condições salariais como das “complicadas” regulamentações laborais, que desencorajam a contratação. Como lembrou o especialista, “o trabalho a título precário não para de aumentar desde 1976”.
Se “o mundo não vai ficar à nossa espera”, como avisou Paulo Portas na abertura da sessão, “temos de escolher os fatores em que podemos ser competitivos”. Comparando o desempenho norte-americano ao do Velho Continente — sem esquecer o vértice oriental —, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros fez questão de frisar que “a economia americana cresce o dobro, o desemprego é metade, a investigação e desenvolvimento é o dobro”, muito devido à flexibilidade da economia. “Um americano muda 10 a 12 vezes de trabalho durante a vida; um europeu muda três a quatro”, ilustrou.
Talento, volta pra trás
Do plano privado, a Fujitsu, a Altran, a Apifarma, a Frulact, a Sugal e o Grupo Luís Simões foram convidados a partilhar visões enquanto casos de sucesso. Para a multinacional japonesa, “a facilidade em encontrar quem domine línguas” e os recursos humanos qualificados foram os fatores que colocaram o país à frente de concorrentes como a Polónia na hora de a Fujitsu escolher o local para implantar centros de excelência. “Não é só uma questão de salário. Numa escala de 0 a 10 de satisfação do cliente, temos 8,9. Os outros países têm dificuldade em chegar a isso”, afirmou o diretor-geral, Carlos Barros.
Por outro lado, convencer potenciais investidores da qualidade dos serviços portugueses requer uma viragem de raciocínio, defende Célia Reis, da Altran. “A nossa grande luta é falar não no custo-homem mas no custo de produção de uma garrafa, se não vamos estar sempre a medir-nos com a Índia ou o Vietname, e haverá sempre mais barato.” Para a diretora-executiva, “trazer trabalho para Portugal” implica “investir na senioridade das equipas, ao nível de competências”. E “os seniores não caem das árvores”, advertiu, reclamando a recuperação dos talentos que emigraram durante a crise com o seguinte argumento: “Ganha-se mais lá fora? Também se gasta muito mais!”
Rute Barbedo