Notícias

SNS soma contratações

SNS soma contratações

Recursos humanos De 2016 a 2022, o número de profissionais de saúde no sector público subiu 24%, para mais de 152 mil

16.09.2022 | Por Ana Sofia Santos


  PARTILHAR



Em seis anos, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) acomodou cerca de 30 mil novos profissionais, um reforço significativo (corresponde a 19% dos mais de 152 mil trabalhadores atuais) que obrigou a mais despesa mas não teve o reflexo desejado na produtividade — em queda contínua — nem no controlo do custo médio por serviço, que se mantém numa trajetória ascendente.

O retrato está no “Relatório de Primavera 2022”, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas, que produz, desde 2001, este documento. Existem 152.257 profissionais no SNS, na maioria enfermeiros.

Com a pandemia, as contratações foram flexibilizadas para responder às necessidades emergentes. Mas antes da covid-19 havia regressado a jornada de 35 horas de trabalho semanais dos enfermeiros, a que se somou a limitação das horas de urgência por parte dos médicos com mais de 55 anos.

O acréscimo de recursos humanos “tem sido a principal fonte de crescimento da despesa do SNS”, de €9130 milhões em 2016 para €12.386 milhões. São mais €3256 milhões, dos quais €1353 milhões (42%) refletem custos com pessoal, um valor superior ao impacto nas contas públicas com a aquisição de medicamentos e de dispositivos médicos, que respondem por €733 milhões (23%). A subida do preço das horas extraordinárias — cortado durante a troika —, a recuperação salarial e o (lento) descongelamento das carreiras são outras mudanças negativas para o orçamento da saúde.

A pandemia não explica tudo

A queda na produtividade implica uma análise mais fina. “Desde 2016 que os relatos de falta de profissionais no terreno têm sido contínuos, levando, inclusive, a ameaças de demissão de diretores de serviços de vários hospitais públicos, queixas e desmotivação por parte dos profissionais e insatisfação dos utentes com os tempos de espera”, escreve o OPSS, cenário a que não escapou o verão de 2022, marcado por uma crise ao nível dos cuidados urgentes de obstetrícia.

Para entender o fenómeno, o observatório fez “um exercício simples, até um pouco simplista”: calculou o número total de serviços prestados, que dividiu pelo total de profissionais do SNS, para cada ano. Foi aferido também o valor da produtividade, nomeadamente o número anual médio de serviços por cada profissional do SNS e o custo médio por serviço, dividindo a despesa total do SNS pelo número total de serviços produzidos.

O OPSS ressalva que estas contas “têm muitas aproximações, pelo que a interpretação dos valores deve ser cautelosa”. No entanto, “parece” que estamos perante uma diminuição contínua da produtividade e o aumento contínuo do custo médio por ato praticado, destaca. Ou seja, a contratação de mais profissionais não se tem traduzido numa subida proporcional dos atos praticados, “aumentando, em paralelo, os custos dos mesmos” — cenário que piorou durante a pandemia, mas cuja “tendência negativa já era observada”.

Tempestade perfeita

Não é “de esperar que a substituição [de profissionais] seja perfeita e que todas as atividades continuem ao mesmo ritmo e com a mesma qualidade”. Outra explicação é o aumento das ausências: entre 2015 e 2019, a taxa de absentismo passou de 11,2% para 12,4% e durante a pandemia chegou a trepar mais de 20%. Como exemplo, é apontado o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, que junta o Hospital de Santa Maria e o Hospital Pulido Valente, e que contava em março de 2022 com mais de 6600 profissionais. “Uma taxa de 12% de absentismo significa que, a cada dia, faltam ao serviço cerca de 800 profissionais.”

Por outro lado, a concorrência do sector privado — e as constantes saídas do SNS — pode ter contribuído para “uma excessiva rotatividade e para a destruição das equipas, além da necessidade de contratar profissionais mais jovens e menos experientes” do que aqueles que estão a substituir. E existe outra variável — para a qual faltam dados em Portugal — a ter em conta: o ‘presentismo’, indica o relatório. Em causa está o indivíduo que comparece ao trabalho embora esteja doente e incapaz de funcionar eficazmente.



OUTRAS NOTÍCIAS
Que sectores estão a ‘roubar’ trabalhadores ao turismo?

Que sectores estão a ‘roubar’ trabalhadores ao turismo?


A forte recuperação do turismo — que espera ultrapassar este verão o patamar de 2019 — está a puxar pelo crescimento da economia&n...

Espanha - Telefónica fracassa na semana laboral de quatro dias

Espanha - Telefónica fracassa na semana laboral de quatro dias


A primeira experiência de implantação da semana laboral de quatro dias numa grande empresa espanhola resultou frustrada. Apenas 2% do quadro de efetivos da Telefónica respon...

Contratações tecnológicas ‘arrefecem’, mas Portugal resiste

Contratações tecnológicas ‘arrefecem’, mas Portugal resiste


Nem tudo são boas notícias para os profissionais das tecnologias de informação. Depois de dois anos a beneficiar do forte crescimento que a pandemia trouxe ao sector, com u...



DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS