Quem acreditaria hoje na ideia de que nascemos apenas para ter um emprego, trabalhar, ir para casa, ligar a tevisão, ter um período de férias uma vez por ano e depois morrer? Liz Ryan, guru de gestão de carreira e CEO da consultora Human Workplace - que criou com o objetivo de disseminar uma cultura de gestão de recursos humanos focada nas pessoas o no seu bem-estar e motivação e não apenas nos resultados – arrisca que “ninguém”. Para a especialista, nunca tanto como agora a ideia de que os profissionais devem deixar a sua marca nas funções que desempenham ganhou tanto sentido. “Podemos e devemos ver e abordar as questões à nossa maneira e tentar melhorar com isto a realidade, partilhando a nossa visão”, explica enfatizando que para isso é necessária uma correta gestão do talento, colocando no sitio certo da organização. No lugar onde pode gerar um efeito positivo.
Liz Ryan dedicou toda a sua carreia à gestão de recursos humanos, atividade que ainda mantém como consultora, professora e oradora regular em diversas palestras em todo o mundo. Para a especialista, nos últimos anos a mentalidade do mercado de trabalho mudou e o valor do talento assumiu papel de destaque nas organizações, mas a aplicação desta teoria à prática laboral ainda falha. “A noção que durante décadas foi sendo passada aos profissionais de que se tinham um trabalho tinham de se contentar com ele é hoje um insulto não só para a pessoa a quem se dirige, mas para os próprios líderes em que confiamos a gestão do nosso contexto profissional”, defende Liz Ryan.
A especialista argumenta que o desperdício de talento tem custos económicos elevados e impactos imprevisíveis nas organizações. Pelo que, trabalhadores e gestores devem trabalhar em conjunto para potenciar a aplicação direta e imediata das mais-valias dos primeiros à empresa e ao negócio. O primeiro passo que os profissionais devem dar é, explica, inverter a forma como encaram o trabalho. É cada vez mais fundamental “que encarem a procura de emprego e a carreira não como uma série de sucessões de X+Y=Z, mas como uma viagem de evolução onde a cada nova etapa se aproximam mais daquilo que verdadeiramente nasceram para fazer”, reforça a CEO da Human Workplace.
Para a especialista, é fundamental levar os profissionais a descobrir o seu talento e a sua motivação e a analiar se estarão a tirar o melhor partido do seu potencial no dia a dia profissional. A consultora enfatiza que “o emprego não deve ser visto como aquela tarefa obrigatória e desagradável cujo propósito é possibilitar a realização das partes boas da vida. Para qualquer profissional o emprego deve ser uma dessas partes boas da vida”. Contudo, reconhece que em grande parte dos casos isto não passa de teoria.
Para Liz Ryan há formas imediatas de identificar o talento para a função que se desempenha e o desperdício dele também (ver caixa). Uma análise que deve ser feita pelos profissionais e pelos gestores de RH. Na essência, resume, “quando a chama interior e a motivação de um profissional estão a crescer num determinado emprego, ele mal pode esperar para entrar ao serviço, falar com clientes e equipas comerciais e promover o debate e partilha de ideias e colegas”. Um posicionamento com o qual lucram profissionais e empresas.
Está a desperdiçar o seu talento?
Liz Ryan identifica sete sinais reveladores de que os profissionais estão a desperdiçar talento na função que desempenham.
1º O seu currículo permanence imutável: “uma vez por ano é boa ideia olhar para o seu CV e atualizá-lo. Se não tiver nada para mudar, é porque não aprendeu nada de novo, não assumiu novas responsabilidade ou atingiu novas metas. É tempo de mudar”.
2º Não é reconhecido: “quer você queira ou não ser promovido, é legítimo que ambicione reconhecimento pela seu contributo para a empresa. Se você está empenhado em contribuir para o crescimento da empresa e as pessoas que poderiam influenciar a sua carreira não o fazem, está a desperdiçar talento”.
3º A sua motivação não está a aumentar: “a motivação e a evolução profissional crescem à medida que abandona a sua zona de conforto”. Se não lhe dão essa possibilidade e se não tem novos desafios, é tempo de mudar.
4º Sente-se limitado na partilha de ideias: a partilha de conhecimento e ideias é fundamental para o desenvolvimento de talento. Procure organizações onde isto seja uma prática quotidiana.
5º A sua esfera de influência não está a expandir-se: “no emprego certo, as pessoas vão notar a sua presença e agradecer o seu contributo, pedindo-lhe que aceite novos desafios e teste novas abordagens logo que vejam que é capaz”.
6º O seu valor de mercado não está a aumentar: isto pode acontecer não só porque não está a evoluir profissionalmente, mas também porque trabalha para uma empresa que o mercado não reconhece como excelente.
7º Não está a evoluir: qualquer emprego tem de ser visto como um percurso possível de evolução. Se isso não acontece, está a desperdiçar talento.