Os dados marcam uma inversão da tendência verificada ao longo dos últimos anos e reforçada em 2014: este ano, pela primeira vez, a diminuição dos incrementos salariais afeta sobretudo as funções de topo e de menor responsabilidade. Merecendo destaque a crescente dinâmica do mercado de trabalho nacional e das intenções de contratação das empresas, os valores remuneratórios, nestas fasquias, não estão a acompanhar o otimismo da economia. Diretores gerais e administradores sofreram, nas empresas portuguesas, uma diminuição dos incrementos salariais na ordem dos 1,60%, quanto os operários viram os seus benefícios salariais reduzidos em 1,38%. O último Total Compensation Portugal, o estudo anual das remunerações da Mercer, revela ainda que um recém-licenciado, no seu primeiro emprego, ganha em média entre €11,950 e €18.177 anuais e que, pesem embora os sinais de recuperação económica, 22% das empresas portugueses optaram por congelar os salários de toda a sua estrutura durante este ano.?
À luz destes resultados, os quadros médios das empresas nacionais parecem sair beneficiados. A principal contenção salarial está a acontecer nos cargos de maior e menor responsabilidade. Nos restantes grupos, verificam-se incrementos reais nos valores salariais, nomeadamente nas chefias intermédias e nos diretores de primeira linha, com aumentos de 1,52% e 0,73%, respetivamente. Tiago Borges, responsável pela área de Estudos de Mercado da Mercer, confirma que “em 2015 observou-se um incremento real dos salários efetivamente pagos na maior parte dos grupos funcionais”. Para o especialista, “em Portugal, tem-se observado que nas empresas, os incrementos salariais por níveis funcionais tendem a tornar-se cada vez mais uniformes”. Contudo, Tiago Borges não nega que se verifica uma tendência de maior penalização dos níveis funcionais de maior responsabilidade em períodos de recessão, bem como uma recuperação mais acentuada em períodos de expansão da atividade económica”.??
Uniformização das remunerações
?A longo prazo, garante o especialista, a uniformização dos pacotes de remuneração e dos incrementos salariais é “um fenómeno expectável em áreas económicas homogéneas” que acrescenta: “seria de esperar, que existisse um alinhamento entre Portugal e o espaço económico europeu”. No entanto, “as diferenças entre a situação portuguesa e a de outros Estados-membro da União Económica e Monetária, bem como as deficiências na arquitetura do Sistema Monetário Europeu têm colocado alguns obstáculos a este processo de uniformização”, realça. ?
Segundo o estudo, 60% das empresas nacionais prevê manter o seu efetivo de colaboradores e 26% perspetivam novas contratações e apesar da percentagem de organizações que optaram por congelar os salários de toda a sua estrutura como medida de redução do peso da massa salarial na estrutura de custos da organização, o especialista da Mercer minimiza a sua expressão enfatizando que “as empresas estão a voltar a praticar, por norma, incrementos salariais positivos, o que reflete a preocupação em recuperar competitividade na estruturas de remuneração, após um período em que a preocupação dominante foi o reequilíbrio financeiro”. Porém, comparativamente, o estudo conclui que as expectativas de incremento salarial projetadas para 2016 sofrerão uma ligeira diminuição na generalidade das famílias funcionais, com exceção do grupo dos Comerciais/Vendas, que deverá manter-se igual a 2015 (1,23%).
O que oferecem as empresas portuguesas
Complementos de subsídio de doença, planos médicos, seguros de acidentes pessoais e de vida, planos de pensões, férias e educação, telemóvel e empréstimos e adiantamentos, compõem o leque de benefícios mais frequentes nas 307 empresas este ano inquiridas pela Mercer, com presença no mercado nacional. ?Entre este leque de benefícios, os planos médicos são o mais praticando sendo prática corrente em 92% das empresas. Em 52% dos casos, o seguro é extensível também aos familiares. Ainda no campo dos seguros, é elevada a percentagem de empresas (74%) que concede também seguros de vida aos seus funcionários.
Na lista dos benefícios mais populares está também a concessão de dias de férias extra, além dos definidos por lei (prática corrente em 65% das organizações), a concessão de planos de pensões (44%) e a comparticipação, em 38% das empresas nacionais inquiridas, das despesas escolares associadas à educação dos colaboradores (até um limite de 75% do custo total).?Apenas 8% das empresas concedem subsídios de creche, enquanto 24% das empresas têm prevista a atribuição de subsídios escolares aos filhos dos seus trabalhadores.