Cátia Mateus
Em 2005, 45% da massa salarial no sector privado foram auferidos por apenas 20% dos trabalhadores. A conclusão é avançada pelo estudo do economista Carlos Farinha Rodrigues que surge sustentado por uma análise dos quadros de pessoal publicados em Portugal entre 1985 e 2005 não contemplando, contudo, os trabalhadores da função pública. Segundo o economista, as conclusões permitem constatar que a desigualdade salarial é o principal motivo para as assimetrias de rendimentos que existem no nosso país, Razão para dizer que não são apenas os pobres que estão mais pobres, mas também os ricos que estão cada vez mais abastados.
"A publicação regular de indicadores (pelo INE e Eurostat) de desigualdade na distribuição de rendimentos em Portugal e a sua comparação com os demais países da UE suscita habitualmente um conjunto de declarações públicas onde de forma quase unânime se lamenta a posição do país como um dos que tem maior desigualdade económica.
Porém, raramente esta indignação se traduz numa avaliação aprofundada das características dessa desigualdade e dos motivos", enfatiza o investigador e autor do trabalho.
Carlos Farinha Rodrigues procurou então identificar algumas das principais características da desigualdade económica em Portugal, avaliar quais os sectores da sociedade que mais são afectados pelas alterações na distribuição dos rendimentos, quais as fontes de rendimentos que mais contribuem para a desigualdade e quais as principais tendências ocorridas nos últimos anos em Portugal.
O estudo (divulgado recentemente por ocasião da apresentação pública do Observatório das Desigualdades, constituído por investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, da Universidade do Porto e dos Açores) permite, no entanto, constatar que "os rendimentos não monetários desempenham em Portugal, inequivocamente, um efeito redutor da desigualdade".
A título de exemplo, em 1985, os 20% dos trabalhadores com maiores salários ganhavam 38,6% da massa salarial. Cerca de 20 anos depois, o volume de vencimento totalizava já 45,2% do ganho global.
Já os trabalhadores com piores índices de remuneração não sofreram, ao longo dos anos, grandes oscilações na sua proporção de massa salarial.
Este trabalho é o primeiro de muitos que passarão a estar disponíveis no sítio do Observatório das Desigualdades em
www.observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt.