São os profissionais com menores qualificações quem mais paga a fatura da crise. Segundo o Survey Salarial 2014, realizado pela consultora EGOR, na altura de cortar salários, o sector privado penalizou sobretudo os profissionais menos qualificados. Motoristas, rececionistas ou supervisores de call center registaram quebras salariais na ordem dos 7% comparando os salários de 2013 com os de 2012. Noutras funções, como assistentes de loja, telefonistas e operários não qualificados, as quebras rondaram os 3%. O cenário não deverá sofrer alterações positivas em 2014, garante Amândio da Fonseca.
“Embora já existam sinais de retoma da economia, provavelmente em 2014 vai continuar a verificar-se uma queda nos salários, devido ainda a algumas ações de redução de colaboradores e ao recorrente efeito de substituição”, explica Amândio da Fonseca adiantando que “quando um colaborador é admitido para uma função, em princípio vai receber um valor remuneratório mais baixo do que o que auferia o colaborador anterior”. Assim tem sido em várias funções e um pouco por todos os sectores de atividade.
O relatório salarial agora divulgado pela EGOR aponta para quebras transversais que afetaram sobretudo “as funções mais técnicas”, como garante Rosa Coelho, a gestora de projeto da EGOR responsável pelo estudo. De um modo geral, “os níveis salariais considerados no Survey Salarial 2014, apresentam valores inferiores aos indicados em 2012”. Em média, explica a responsável, “as quebras apuradas rondam os 5%”.
Mas há casos em que a percentagem de redução foi até superior, como os motoristas, rececionistas ou supervisores de call center que passaram a assumir funções por 688 euros mensais, menos 7% do que o valor apurado no ano anterior. De acordo com o relatório, a remuneração mais baixa foi apurada nos assistentes de loja , operários não qualificados, telefonistas ou operadores de call center, com salários médios de 573 euros ilíquidos (menos 3% do que no ano anterior).
Política salarial pouco atrativa
Rosa Coelho confirma que as quebras apuradas pelo estudo afetam sobretudo as funções que se encontram na base, menos qualificadas. Uma tendência de diminuição salarial que para Amândio da Fonseca está fundamentalmente relacionada “com a atual conjuntura político-económica e com o cenário de recessão que estamos a viver em Portugal”. O administrador executivo da EGOR não tem dúvidas de que “é reduzido o número de empresas que presentemente aposta numa política salarial atrativa, tanto ao nível da admissão de novos colaboradores como da motivação dos quadros já existentes na organização”.
O estudo não deteta grandes subidas de remuneração, mas a sua análise global permite perceber que os valores salariais praticados na região de Lisboa são, regra geral, um pouco superiores aos das outras regiões do país. Os valores deste Survey Salarial referem-se á remuneração mensal fixa e deixam de fora os benefícios extra-salariais. Diretores gerais de grupo empresarial, diretores gerais de empresa ou gestores de empresas são os perfis melhor remunerados. Entre as funções com pior remuneração do sector privado estão os assistentes de loja, opeardores de call center, telefonistas, motorista, rececionista, administrativos bancários, administrativos de assistência pós-venda, chefes de equipa ou administrativos de recursos humanos.
Segundo Amândio da Fonseca, “o Egor-Survey permite posicionar as práticas salariais das empresas no mercado laboral português, tendo por base uma amostra alargada de dados”. A informação salarial é alcançada a partir do site da EGOR, onde mais de 3000 mil profissionais responderam ao questionário com o objetivo de avaliarem a competitividade do salário que auferem. A amostra resulta de uma comparação salarial entre perfis semelhantes e abrange mais de oito dezenas de funções, distribuídas por várias regiões do país.