Fernanda Pedro
Mais de 50% da nova vaga de emigração
portuguesa possui qualificação de nível secundário
e superior
Perfil do emigrante português em estudo
EM 2002, 53% dos portugueses que saíram de Portugal em busca de
novas oportunidade de trabalho, partiram com carácter permanente
(por um período superior a um ano) e 63% destes pertencem a camadas
mais jovens da população.
Estes números correspondem ao Inquérito aos Movimentos Migratórios
de Saída realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas
(INE), relativamente ao ano transacto.
Ainda de acordo com este inquérito, os graus de instrução
destes portugueses revelam que a população que emigrou de
forma permanente apresenta níveis de ensino superiores em comparação
aos que saíram de forma temporária.
No geral, 52,3% dos portugueses que emigraram possuem o grau de instrução
ao nível do 3º ciclo, secundário e superior, contra
47,7% dos que têm apenas o ensino básico (1º ciclo)
ou nenhum grau de instrução.
Estes números mostram que os portugueses continuam a procurar fora
do país melhores condições laborais e hoje, ao contrário
das vagas emigratórias dos anos 60, apresentam mais habilitações
e competências profissionais. Cerca de 27 mil foi o total dos emigrantes
portugueses em 2002.
Para José de Almeida Cesário, secretário de Estado
das Comunidades Portugueses, estas saídas são uma consequência
da conjuntura económica que se vive em Portugal. "O aumento
do desemprego em Portugal faz subir consequentemente a emigração",
reconhece o secretário de Estado.
Os países de destino dos novos emigrantes continuam a ser os mesmos
dos seus antecessores. A Suíça lidera com 30,3% da preferência
da emigração, seguindo-se a França com 21,8%. A novidade
é a passagem da Espanha para o terceiro lugar, obtendo 10,7% da
preferência de muitos portugueses.
Só estes três países acolheram 63% da emigração
total portuguesa em 2002. O Reino Unido recebeu 6,8% dos nossos emigrantes
e, segundo os dados revelados pelo INE, regista-se a perda de importância
da Alemanha e do Luxemburgo.
De acordo com aquele governante, uma das surpresas deste inquérito
do INE diz respeito ao destino gaulês: "Não pensei
que este fosse ainda um dos destinos preferidos dos portugueses, porque
é um país onde também o desemprego está a
aumentar".
Adelino Rodrigues, presidente da Associação de Reencontro
dos Emigrantes (ARE), também concorda que estes números
revelam o agravamento económico do nosso país. "Se
os portugueses não encontram trabalho no país, procuram-no
no estrangeiro", observa.
Mas aquele responsável salienta que os desempregados não
são os únicos a partirem à conquista de um posto
de trabalho fora de Portugal. "Os portugueses com emprego saem
muitas vezes em busca de melhores condições laborais e salariais",
sublinha.
O presidente da ARE também tem consciência que os actuais
emigrantes portugueses já não possuem as mesmas habilitações
nem as competências profissionais dos seus antepassados: "Muitos
deles já são licenciados e os baixos salários que
se praticam em Portugal obrigam estes profissionais a procurarem outros
incentivos fora do país".
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas corrobora esta
perspectiva. "Até os nossos investigadores emigram, o que
é uma pena! Mas é incontornável esta vaga migratória,
já que em Portugal eles não têm estruturas de trabalho.
Fazemos pouca investigação e por isso perdemos muita 'massa
cinzenta'. Mas penso que um dia muitos destes profissionais irão
voltar com mais-valias para o país", assegura aquele responsável.
Apesar disso, José de Almeida Cesário considera a mobilidade
das pessoas a nível global como sendo natural e positiva. Para
este governante, muitos dos jovens que emigram saem ainda em busca de
uma aventura. Contudo, salienta que as razões da emigração
na faixa etária entre os 40 e 50 anos residem nas "necessidades
económicas".
Para o presidente da ARE, se Portugal oferecesse melhores condições
de trabalho aos seus cidadãos, reteria muitos dos seus profissionais
qualificados.
Em 2001, os jovens até aos 29 anos registavam uma saída
na ordem dos 50%. No ano passado, este valor disparou para 63%. Os números
falam por si.
Perfil do emigrante português em estudo
JOSÉ de Almeida Cesário, secretário de Estado das
Comunidades Portuguesas está disposto a saber quais os problemas
sociais e laborais com que os portugueses se debatem em todos os países
que os acolhem.
Nesse sentido, está a realizar um levantamento dessas dificuldades
para apresentar um "retrato" do trabalhador emigrante português
numa conferência a realizar até ao final deste ano.
Vítor Gil, conselheiro social na embaixada portuguesa em França
está neste momento a proceder a esse levantamento junto dos emigrantes
radicados em terras francesas.
De acordo com Vítor Gil, uma das principais preocupações
dos portugueses emigrados, diz respeito às pensões. "Temos
cerca de 60 mil pessoas com mais de 65 anos de que trabalharam em França
descontaram para a segurança social francesa e nunca reivindicaram
as pensões a que têm direito", explica o responsável.
Outro dos problemas relevantes para a comunidade portuguesa é a
não inclusão do ensino do português no sistema escolar
francês.
Vítor Gil salienta ainda o facto de o governo português estar
muito atento ao trabalho temporário que muitos portugueses realizam
em França, principalmente na época das vindimas, onde por
vezes se verifica a exploração desses trabalhadores.
No Luxemburgo, o cônsul Miguel Faria de Carvalho também refere
o ensino do português como um dos problemas a solucionar neste país.
Quanto às pensões, o cônsul português salienta
que não é uma das dificuldades dos emigrantes, bem pelo
contrário, "são beneficiários de uma segurança
social das mais generosas da Europa, senão do mundo. O mais difícil,
é a articulação com os serviços públicos
em Portugal".
Quanto à queda do Luxemburgo na lista dos principais países
de destino dos portugueses, Miguel Faria de Carvalho explica que dada
a pequena dimensão daquele país, a capacidade de absorção
de emigrantes é limitada. "Os portugueses só escolhem
este país quando encontram condições para permanecer",
frisa.