Ruben Eiras
SE O ritmo de qualificação não acelerar, em
2010 mais de dois quintos da força de trabalho nacional na
faixa etária dos 25 aos 28 anos ainda possuirá baixas
qualificações.
A projecção está patente no estudo "Growing
Skills in Europe: the Changing Skill Profiles of France, Germany,
the Netherlands, Portugal, Sweden and the UK", uma análise
comparativa da mudança dos perfis de competências naquele
grupo de países, efectuada por Åsa Murray, investigadora
no Stockholm Institute of Education e Hilary Steedman, do Centre
for Economic Performance da London School of Economics.
De acordo com aquela pesquisa, entre as décadas de 80 e 90,
o nosso país foi aquele que registou o maior crescimento
das qualificações no segmento juvenil: a percentagem
sem nenhuma qualificação caiu de 35% para 19%, ou
seja, diminuiu 16%. Em simultâneo, houve também um
crescimento de 16% de jovens que obtiveram formação
de nível secundário e superior.
Mas apesar deste rápido aumento de competências, o
ritmo de convergência nacional com o quadro de qualificações
da UE ainda é demasiado lento, devido ao baixo investimento
das empresas na formação dos seus activos, à
elevada taxa de abandono escolar (45%) e às deficiências
estruturais do sistema de educação e formação.
"Se as tendências dos últimos 12 anos continuarem,
os perfis de competências serão cada vez mais semelhantes
entre o grupo de países comparados. Mas em Portugal e no
Reino Unido, onde as proporções de baixas qualificações
ainda são muito altas, o processo vai ser mais longo",
observa Hilary Steedman.
Um aviso à navegação do Governo, que se prepara
para aplicar reformas nos sistemas de educação e formação
profissional. "É crucial envidar uma grande dose
de esforços focalizados na eliminação do grupo
de baixas qualificações para Portugal ultrapassar
esta barreira estrutural", reforça Åsa Murray.
Só que ainda não se vislumbra qualquer estratégia
nacional de longo prazo neste campo, prevalecendo a navegação
à vista, com aumento do desemprego e a destruição
de 12 postos de trabalho por dia, segundo dados do INE. Isto é,
Portugal arrisca-se a mergulhar num ciclo prolongado de desemprego
de longa duração se não acelerar a qualificação
da sua força laboral.
A via única da reconversão
Isto torna-se ainda mais significativo se tivermos em conta que
o país, segundo a análise da OCDE, assentou a criação
de emprego em indústrias desqualificadas.
E neste momento a única via para atrair investimento de qualidade
é a requalificação. "Para as pessoas
com baixas qualificações a esperança é
a sua reconversão profissional. Mas com formação
a sério, não é com teorias", salienta
Pedro Câmara, consultor em recursos humanos.
Entretanto, surgem iniciativas pontuais que destoam da inércia
latente no sistema central de educação e formação.
Segundo Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa
de Gestores e Técnicos de Recursos Humanos, uma das vias
para acelerar o aumento da qualidade das competências é
o exemplo da iniciativa da Câmara de Oeiras. A autarquia decidiu
estudar e fazer um levantamento de todos os tipos de competências
existentes no seu concelho: as das pessoas que ali trabalham e das
que moram naquele território.
"Isto vai servir para, próximo da residência
e com vista à entrada no mercado de trabalho, fazer a qualificação
de desempregados e formação contínua, de acordo
com as necessidades locais e de desenvolvimento económico.
A médio prazo, com uma população mais qualificada,
a região será mais atractiva para investimentos com
alto valor acrescentado", explica.
Uma política também defendida por Joaquim Lavadinho,
sociólogo do trabalho e director-geral da HumanQuare, uma
empresa de consultoria em recursos humanos. "É necessário
que as autarquias e outras instituições regionais
apostem no desenvolvimento de programas associados ao desenvolvimento
do capital humano, da mesma forma que até aqui apostaram
em infra-estruturas físicas", acrescenta.
Por sua vez, é exigida uma actuação mais rigorosa
por parte das instituições públicas responsáveis
pela educação e formação. Com efeito,
a OCDE, no seu último relatório económico sobre
Portugal, recomenda com urgência "um aumento da eficácia
e eficiência das políticas de emprego e formação".
Um compromisso já assumido por Luís Pais Antunes,
em entrevista já publicada no EXPRESSO Emprego, na qual o
governante reconheceu que os recursos financeiros públicos
da formação profissional deverão ser atribuídos
de acordo com o grau de desempenho de cada centro de formação
do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
"O Governo vai no bom caminho, mas urge uma clarificação
estratégica neste domínio", conclui Jorge
Marques.