Vítor Andrade
AINDA me acomodava ao pouco confortável banco de trás do táxi que apanhei na Praça do Comércio, e já o condutor, com ar de aprumo e profissionalismo (pura ilusão, como haveria de se comprovar), me testava com uma pergunta à queima-roupa:
«Isto está cada vez pior, não acha, amigo?»
Como a viagem era até Paço d'Arcos, decidi-me por uma resposta evasiva para ver se a conversa não esticava, e também para poder desfrutar daqueles preciosos minutos ao longo da marginal, coberta de uma luz absolutamente fantástica: «Melhores dias virão», rematei, convencido de que assim conquistava sossego até ao fim da «corrida».
Enganei-me. O homem só parou de filosofar quando estacionou junto à sede do EXPRESSO, para eu sair. Queixou-se da política, do futebol, dos incêndios, da seca, da chuva, dos espanhóis, dos chineses, e até do José Castelo Branco. Fechei a porta e pensei: Portugal no seu melhor. Mais palavras para quê?