Marisa Antunes
PRECISAM-SE carteiros, pais natais, operadores de lojas, preparadores de embrulhos e de cabazes, motoristas, paquetes, empregados de mesa e todo o tipo de pessoal para serviço hoteleiro. Todos os anos, na quadra natalícia, o emprego temporário sofre um dinamismo em determinados sectores, com acréscimos que variam entre os 10 e os 20% das solicitações que chegam às principais empresas de recrutamento. Apesar desse reforço, as empresas de trabalho temporário são unânimes em referir que a crise atingiu também este emprego sazonal, optando os empregadores por aumentar as horas extraordinárias dos seus efectivos.
A Select Vedior, líder do sector, que arranja colocação para 20 mil pessoas por mês em regime de trabalho temporário ou «outsourcing», recebe, entre 15 de Novembro e 31 de Dezembro, em média, mais 2500 pedidos. «Cerca de 1500 são canalizados para o comércio, especialmente para o sector alimentar, para as grandes lojas dos centros comerciais e cadeias de brinquedos e perfumaria. A restauração e a hotelaria absorvem mais 800 pessoas, e para as estações de correio, varia muito consoante o fluxo de correspondência e encomendas, mas ronda os 150 trabalhadores para serviços extra», pormenorizou Luís Gonzaga Ribeiro, director comercial da Select.
Na Addeco Portugal, «o recurso ao trabalho temporário aumenta, na quadra natalícia, cerca de 20% em relação ao resto do ano», confirma Lara Carvalho, responsável do «marketing» da Addeco. «Os pedidos que nos chegam por parte das empresas-clientes são de perfis de operadores de loja, preparadores de embrulhos e indiferenciados, contratados para a realização de inventários, que acontecem muito nesta altura do ano. Todos os outros pedidos vêm de estabelecimentos comerciais, principalmente de grandes superfícies, que registam nesta altura o maior fluxo comercial do ano e pretendem garantir assim a qualidade do seu serviço», refere Lara Carvalho.
2000 para Continente
Só entre Outubro e até à data presente, a Modelo Continente recrutou cerca de 2000 trabalhadores para as suas lojas. Segundo fonte da Sonae, a maior parte deste reforço natalício está concentrada nas áreas de venda, fluxos e caixas.
Mas também o comércio tradicional começa a aperceber-se que compensa o esforço financeiro de contratar mais pessoal para garantir maior qualidade de serviço, menos esperas no atendimento e um horário alargado de funcionamento, como salienta Marcelino Pena Costa, presidente da Manpower e da Associação Portuguesa do Sector Privado do Emprego. «Este ano sentimos uma nova tendência em relação ao comércio tradicional e aos pequenos e médios restaurantes, que já constataram que necessitam desse acréscimo de trabalhadores. No entanto, e apesar das empresas de trabalho temporário assistirem a um aumento da sua gama de clientes, verificou-se uma diminuição do número de pessoas contratadas por essas empresas-clientes, em resultado da crise económica», acrescenta.
O director comercial do Grupo Egor, José Vaz Quintino, corrobora: «Este ano, devido à conjuntura económica, tem-se sentido menos o aumento sazonal, pois muitas empresas têm abdicado do reforço externo, recorrendo somente aos seus efectivos a quem pagam horas-extra».
Outro «fenómeno» provocado pela crise tem que ver com a alteração que se está a verificar na qualificação dos trabalhadores sazonais, adianta Fernando Pinto, director comercial da Manpower. Se até há bem pouco tempo eram só os trabalhadores sem formação específica que absorviam a grande fatia destes empregos, actualmente são muitos os que, tendo qualificações mais elevadas, aceitam trabalhar como embrulhadores de presentes, nas caixas registadoras ou até mesmo como animadores nos centros comerciais, envergando a fatiota de Pai Natal.
E existem ainda aqueles que, não tendo formação específica em determinadas áreas, se empenham ao máximo para conseguir qualquer tipo de emprego. É o que acontece na restauração e na hotelaria, como refere Rudolfo Caseiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria e Turismo do Sul. «Nesta altura do ano, é frequente os hotéis e restaurantes contratarem pessoas sem experiência para reforçar o pessoal. É por isso comum ver nos hotéis empregadas de andares substituídas por empregadas de limpeza ou reformados da GNR ou da PSP a servirem em banquetes, só para citar alguns exemplos», destaca o dirigente sindical.