Fernanda Pedro
O RECURSO ao trabalhador em regime temporário
é prática em todos os países. São muitas as
empresas de trabalho temporário (TT) que se expandiram do país
de origem e abriram sucursais nos quatro cantos do mundo. A Portugal chegaram
várias empresas multinacionais nesta área e depois de alguns
anos instaladas no nosso país conseguem analisar o perfil do trabalhador
temporário português.
Radiografia do temporário português
Bons profissionais, dinâmicos, espírito
aberto, facilidade na expressão linguística e empreendedores
são algumas das características positivas apontadas pelos
responsáveis das multinacionais sedeadas no nosso país.
Em contrapartida, como facetas mais negativas, apontam o incumprimento
de horários e a falta de assiduidade.
A Randstad, empresa multinacional de origem holandesa na área do
TT, está actualmente presente em toda a Europa, nos Estados Unidos
e no Canadá com mais de 2200 sucursais em todo o mundo. Guy Mallet
é o responsável da Randstad que veio abrir a sucursal em
Portugal em 2000 depois de 20 anos de experiência de TT em França.
Para este responsável os temporários portugueses são,
de uma maneira geral, bons trabalhadores. "Os portugueses são
excelentes profissionais, dinâmicos e apresentam facilidade de adaptação
em novos desafios que lhes são propostos", refere o director
geral da Randstad.
Mas para este especialista, os portugueses têm ainda outras características
positivas em relação aos trabalhadores franceses. "Mesmo
quando não têm a formação necessária
para o desempenho das funções que lhes são propostas,
esforçam-se para aprender e dar o seu melhor. Os franceses vêm
das universidades com a ideia que já sabem tudo e apresentam maiores
dificuldades em se adaptarem a novas situações",
revela.
De acordo com Guy Mallet, os jovens franceses ficam em casa dos pais até
mais tarde e têm maior dificuldade em se moldar às exigências
do mercado de trabalho. Outra das vantagens sentidas por este responsável
no contacto com os trabalhadores lusitanos diz respeito à sua facilidade
em dominar diversas línguas. "Em Portugal, os jovens exprimem-se
muito bem em inglês ou mesmo em francês, o que não
acontece em França", refere o director geral da Randstad.
Temporários por necessidade
Por outro lado, em França, os jovens vêem o trabalho temporário
como uma rampa para a integração no mercado laboral e uma
forma de adquirirem experiência profissional. Segundo este responsável,
"muitos jovens procuram voluntariamente o TT em início
de carreira, enquanto em Portugal essa decisão é quase sempre
por necessidade".
Guy Mallet, salienta ainda que os portugueses apresentam grandes dificuldades
no cumprimento de horários e isso reflecte-se, naturalmente, na
produtividade.
A falta de assiduidade e pontualidade também foi apontada por Blas
Oliver, director-geral da Adecco, outra empresa multinacional de TT com
sucursal em Portugal.
Com oito anos de experiência de TT na Espanha e um no nosso país,
este responsável refere que "os portugueses têm grande
dificuldade em cumprir com as horas de entrada e com a comparência
regular no trabalho". Para aquele especialista, este comportamento
será mesmo um dos factores decisivos para o aumento da produtividade
nacional. "Na Espanha trabalham o mesmo número de horas
que em Portugal mas produzem mais", contrapõe Blas Oliver.
Também para este responsável os portugueses apresentam maior
facilidade de expressão em termos linguísticos do que os
espanhóis, mas em relação à capacidade de
adaptação e ao profissionalismo demonstrado no exercício
das funções, portugueses e espanhóis manifestam faculdades
semelhantes.
"Não existem grandes diferenças entre o trabalhador
temporário português e espanhol. Mesmo porque as taxas de
desemprego em ambos os países são muito altas e isso obriga
a uma reestruturação do mercado laboral. O TT surge assim
como uma alternativa e os trabalhadores empenham-se mais para assegurar
uma oportunidade de emprego", refere o director da Adecco.
Mercado nacional mais igualitário
Uma oportunidade que para as mulheres espanholas é mais difícil
de conseguir. Segundo este responsável, o público feminino
em Espanha encontra mais obstáculos na integração
no mercado de trabalho, nomeadamente no TT, o que não acontece
em Portugal.
"A realidade é que a taxa de desemprego feminino em Espanha
é muito alta. Não sei se valerá a pena falar de discriminação,
mas a verdade é que entre um candidato masculino e um feminino
a escolha quase sempre recai sobre o homem. Em Portugal isso já
não acontece com tanta frequência", observa.
A maior diferença que Blas Oliver encontra entre os dois países
é, ao nível da credibilidade, que as empresas utilizadoras
depõem nas de TT, "Em Portugal, os empresários demonstram
falta de confiança no nosso trabalho e isso é ainda uma
das dificuldades com que se debatem as empresas portuguesas. Mas em Espanha
isso está ultrapassado".
Também para Mark Bowden, director ibérico da Hays Interim,
empresa multinacional de TT, com sucursal em Portugal desde há
três anos e com 15 anos de experiência de TT em Inglaterra,
os trabalhadores temporários portugueses são bons profissionais.
O problema maior prende-se com os empresários. "O português
demonstra grandes capacidades de trabalho mas por vezes a forma como é
dirigido não é a melhor", sublinha.
A esperança da entrada no quadro
Ainda de acordo com este responsável, os portugueses têm
dificuldade em mudar de emprego, preferem permanecer no quadro de uma
empresa do que procurar outra alternativa mais vantajosa e é por
esse motivo que o TT em Portugal só aos poucos vai ganhando expressão.
"Ao passo que em Portugal um trabalhador prefere ficar numa empresa
durante meses sem receber ordenado, em Inglaterra ou na Holanda um profissional
nas mesmas condições não se sujeita a essa situação.
Se não recebe o seu salário num mês, procura outro
emprego", explica.
Naturalmente que Mark Bowden também tem consciência de que
a instabilidade e o baixo nível de criação de emprego
em Portugal obriga os trabalhadores a sujeitarem-se a este tipo de situações.
De qualquer forma, este responsável adianta que os portugueses,
mesmo no TT, acalentam sempre a expectativa de entrar nos quadros das
empresas.
Mas, na opinião deste especialista, tal não invalida a capacidade
empreendedora dos portugueses. "Muitos trabalhadores cientes de
que nunca chegarão a cargos de chefia preferem arriscar e lançam-se
num negócio próprio o que é extremamente positivo",
esclarece.
Mas para o director ibérico da Hays Interim, o problema de Portugal
encontra-se na situação política em que se vive.
"A lei do trabalho é pouco flexível e a política
portuguesa está muito dependente de Bruxelas. Isso torna o país
pouco produtivo", conclui Mark Bowden
Radiografia do temporário português
O TRABALHADOR temporário português apresenta
determinadas características específicas que o distinguem
em relação ao temporário estrangeiro.
Os responsáveis pelas empresas multinacionais de trabalho temporário
sediadas em Portugal revelam que a maioria dos trabalhadores chegam quase
sempre a este regime laboral por necessidade e revelam por vezes algum
receio em mudar de emprego.
Todavia, os portugueses demonstram em comparação com outros
trabalhadores estrangeiros mais qualidades positivas do que negativas.
Perfil do trabalhado temporário português
Aspectos positivos:
Bons profissionais
Dinâmicos
Facilidade na expressão linguística
Empreendedores
Facilidade de adaptação a novos desafios
Predisposição para aprender
Aspectos negativos:
Incumprimento de horários
Falta de assiduidade
Pouco produtivos
Dificuldade em mudar de emprego