Cátia Mateus e Ruben Eiras
PORTUGAL está a ganhar algum terreno no aumento dos recursos
humanos qualificados em ciência e tecnologia. De acordo com os
últimos dados da Comissão Europeia, em 2000, o rácio
é de 0,39 doutoramentos naquelas áreas por cada 1000 habitantes,
sendo este o quarto menor valor da UE. O país descolou do último
lugar, deixando para trás a Holanda (0,34), a Espanha (0,33)
e a Itália (0,16). A média da UE é de 0,56.
Todavia, não é garantido que estes profissionais
altamente qualificados permaneçam no país, acrescentando
valor à nossa economia. Segundo a análise do Anuário
da Competitividade Mundial - um estudo que classifica 49 países
segundo vários critérios políticos, económicos
e sociais - de 1999 a 2002, Portugal já caiu cerca de 11 posições
na fixação de "cérebros" em território
nacional. Isto significa que embora o país aumente a produção
de doutorados, estes acabam por emigrar para o estrangeiro e dificilmente
regressam.
Com efeito, esta é uma tendência que se alastrou por todo
o continente europeu na década de noventa do século passado.
A Comissão Europeia calcula que entre 1990 e 1999, a percentagem
de "capital humano perdido" disparou de 43% para 73%. O principal
pólo de atracção dos profissionais altamente qualificados
europeus são os EUA, devido às melhores condições
de carreira e oportunidades de emprego.
A Comissão alerta que é urgente tomar medidas concretas
para inverter esta situação, dado que os anos produtivos
de um investigador surgem após a conclusão do seu doutoramento.
Na realidade, esta dificuldade que Portugal demonstra em fixar os seus
cérebros é reconhecida por José Pinto Paixão,
secretário de Estado-adjunto do ministro da ciência e do
ensino superior.
Diz o responsável que o fenómeno da circulação
de cérebros e, consequentemente a fuga de cérebros, resulta
do processo de globalização. "A ciência está
cada vez mais internacional com um enorme crescendo de esquemas de cooperação
e participação em acções de formação
e treino de âmbito internacional", explica referindo que
"existem países da UE fortemente apostados na formação
de quadros com experiência internacional que possam dar suporte
às actividades económicas fora das fronteiras nacionais".
Segundo José Pinto Paixão, para o progresso de um país,
não basta criar condições de formação.
É necessário que em paralelo sejam asseguradas condições
de desenvolvimento que resultem na sustentabilidade do emprego ou ocupação,
aderentes às expectativas de quem investe na formação.
Diz o secretário de Estado adjunto que "um país,
mesmo pequeno como o nosso, não pode deixar de accionar os mecanismos
conducentes à melhoria do respectivo desempenho económico,
social e cultural, apesar das inevitáveis fugas de cérebros
a que será sujeito". É importante, afiança,
criar condições de fixação dessa mão-de-obra.
Não há dúvidas de que "a forte aposta na
qualificação dos nossos recursos humanos deve ser acompanhada
de medidas de reforço da base pública de investigação
com maiores ligações ao tecido produtivo nacional (universidades,
laboratórios de estado, centros tecnológicos e institutos
de interface", explica.
A par deste "investimento" José Pinto Paixão considera
fundamental que se criem condições objectivas de emprego
e de satisfação profissional para que os talentos expatriados
possam regressar ao país.
Em matéria de iniciativas concretas, o responsável frisa
que "Portugal está ainda na fase de expansão de
disponibilização de economias externas em ciência
e tecnologia, cuja materialização reveste um considerável
esforço num vasto leque de programas governamentais que vão
desde o apoio à formação avançada, apoio às
actividades de I&D, até à sensibilização
do tecido empresarial para o aproveitamento destes programas".
Contudo, para José Pinto Paixão, a escassez de empreendedores
que apostem na inovação enquanto argumento central de competitividade,
tem-se assumido como um grande entrave ao sucesso destas iniciativas.