PALOP recrutam em Portugal
Com um crescimento económico estrondoso nos últimos anos, Angola e Moçambique abriram os seus mercados aos investidores privados e aos profissionais altamente qualificados. Uma importante fatia destes novos ‘povoadores’ são jovens portugueses, licenciados nas mais diversas áreas desde a engenharia, à enfermagem, gestão ou finanças.
14.07.2011 | Por Cátia Mateus

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Salários bem acima dos praticados em território nacional e um vasto leque de outros atrativos, ditam a decisão de rumar a novas paragens e ajudar a consolidar países onde a necessidade de talento é abismal.
O fluxo de portugueses para Angola e Moçambique tem vindo a crescer nos últimos anos. São maioritariamente jovens profissionais, altamente qualificados, com aspirações de uma carreira internacional que encontram nestas economias em desenvolvimento, uma oportunidade para enriquecer o seu currículo profissional com a cada vez mais valorizada experiência além-fronteiras. Engenheiros, arquitetos, advogados, enfermeiros, gestores e financeiros, entre inúmeros outros profissionais, compõem o novo perfil de emigrantes nacionais rumo a mercados cujo potencial de crescimento é incalculável.
O Consulado Português em Angola tem registados 91.900 portugueses, mas ninguém sabe ao certo quantos trabalham naquele país. Entre 2009 e 2010, os registos consulares indicam um crescimento de 17.300 portugueses no território. Mas o número de vistos concedidos a cidadãos nacionais, por um período de um ano, é inferior ficando-se pelos 805. A realidade é que a emigração para Angola e Moçambique tem vindo a crescer, fruto em parte do massivo investimento das empresas portuguesas nestes territórios e da subida da taxa de desemprego em território nacional, que transformou Portugal no país onde existem mais de 75 mil licenciados sem emprego e com uma taxa de desemprego de 23% entre os jovens com menos de 24 anos.
E se antes a construção e o turismo lideravam o investimento estrangeiro nestes países de língua oficial portuguesa, hoje o panorama é distinto. Com a economia nacional a dar sinais de abrandamento, empresas de todos os setores internacionalizaram rumo ao chamado triângulo Portugal: Angola, Moçambique e Brasil. E com isto, Portugal tornou-se um país-alvo para o recrutamento de talentos.
A construção sempre teve a porta aberta nestes mercados e sempre aqui centro parte do seu investimento. Mas nos últimos anos há um claro reforço da presença das grandes construtoras nacionais em Angola e Moçambique. A Mota-Engil, Soares da Costa e Teixeira Duarte não dispensam estes mercados. A nível global, as três construtoras deverão faturar em 2011, em Moçambique, cerca de 200 milhões de euros. A comitiva de construtoras lusas contrariou assim o depressão que afeta o seu setor de atividade em Portugal, procurando novas oportunidades de negócio nos PALOP. A Mota-Engil é que tem retirado maior partido do investimento realizado. Em 2010 superou os 58 milhões de euros de faturação e a previsão é para continuar a crescer em território moçambicano.
A Siemens Portugal também está de olhos postos nos mercados de língua oficial portuguesa. A empresa concentra cerca de 30% do seu negócio no estrangeiro. Neste momento a empresa tem ainda poucos quadros superiores a trabalhar no mercado Angolano, encontrando-se numa fase inicial da deteção de oportunidades. A entrada no setor da gestão de correios, o setor aeroportuário e ferroviário são as grandes apostas da empresa naquele mercado.
E neste investimento nem as empresas de consultoria de comunicação ficam indiferentes. Tal como outros setores, as agências de comunicação não querem perder o comboio na expansão moçambicana e angolana. A Young Network já está presente em ambos os países que considera mercados de rápido crescimento, tal como o Grupo GCI que criou recentemente o Uanda, a sua afiliada angolana.
A Consultora CB Richard Ellis também já se rendeu ao mercado angolano, fruto do crescente interesse dos seus clientes neste mercado e estabeleceu um affiliate agreement com a Zenki Real Estate. O setor da saúde é também promissor e a advocacia igualmente. Em algumas sociedades de advogados nacionais, a aposta no estrangeiro representa já 50 a 60% das receitas totais com as novas geografias de Angola e Moçambique a assumirem-se como desafios aliciantes. A Rui Pena, Arnaut & Associados entrou em 2009 em Angola. Um ano mais tarde foi a vez da Vieira de Almeida. A Miranda está presente em Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé, através de parceiros locais, tal como a sociedade Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva e a Cuatrecasas, Gonçalves Pereira.
Quer Angola quer Moçambique estão a formar os seus próprios quadros no estrangeiro, mas necessitarão ainda de importar profissionais qualificados pelo menos durante uma década. A capacidade de adaptação dos portugueses, a proximidade linguística e a presença de inúmeras empresas lusas nestes territórios, abrem portas a que muitos talentos nacionais tenham emprego assegurado nestes países, com condições bastante apetecíveis.
Tiago Almeida, senior consultant da Hays, revela que “o mercado angolano está a tornar-se estável e fala-se num verdadeiro mercado local. O regresso de profissionais de nacionalidade angolana que estavam a estudar e adquirir competências fora tende a aumentar, muito por culpa das quotas impostas pelo Governo (70% da mão-de-obra nas empresas deve ser angolana, em todos os patamares hierárquicos), mas há oportunidades para outros profissionais”.
Segundo o especialista, “desde 2006 que a procura destes mercados é constante”. Apesar de muitas empresas lá estarem presentes desde os anos 90, optavam inicialmente por deslocalizar os seus quadros internos. Tiago Almeida acrescenta que qualquer um destes países tem uma grande necessidade de know-how externo dada a pouca formação de quadros superiores e a grande escassez de profissionais. Construção, distribuição, comércio (importação e exportação) e logística são os setores-alvo da maioria dos recrutamentos nos quais Hays tem intervenção. “As empresas procuram sobretudo posições de top management: direções-gerais e financeiras, direções comerciais, de produção ou engenharia, mas também contabilistas, controllers, tesoureiros, técnicos, auditores, consultores e profissionais administrativos”, esclarece.
Uma realidade também constatada por António Costa, manager da divisão de Engeneering & Property da Michael Page, que recruta também para estes mercados. Segundo o especialista, “a construção, o setor automóvel, retalho, turismo e uma imensidão de áreas requerem profissionais qualificados em ambos países”. Diretores de obra, encarregados, diretores financeiros, supervisores de logística e gestores de projeto são as funções mais requisitadas à Michel Page por parte dos clientes.
Na Singular International, o volume de adjudicações para Angola representa 40% e 10% para Moçambique, um mercado onde entrou há menos tempo. Segundo José Vaz-Pinto, managing director da empresa, “a Singular recruta portugueses para todos os setores com enfoque na indústria petrólifera, sector financeiro e da construção”. O especialista prevê que a agricultura e a energia sejam também áreas de expansão futura.
E as condições para quem quer trabalhar nestes países são apetecíveis. “Geralmente, o package dos expatriados inclui um salário base que é, sensivelmente, o dobro do praticado cá, embora tenha vindo a diminuir nos últimos anos, alojamento, alimentação, seguro de saúde e viagem ao país de origem”, enfatiza António Costa.
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