Vítor Andrade
vandrade@mail.expresso.pt
O ENCERRAMENTO sucessivo de fábricas, em especial
no interior Norte e Centro do país, está a deixar milhares
de pessoas confrontadas com a situação ingrata do desemprego.
E quando o Governo fala em acções de formação
para estes portugueses, naturalmente que até lhes poderá
estar a dar uma réstia de esperança, dotando-as de mais
algumas competências para lá das que já possuíam.
Quem sabe, entretanto - enquanto durar o período de formação
-, alguma alternativa possa surgir. O problema é que, na maioria
das vezes, a alternativa não aparece, as novas habilitações
acabam por não servir absolutamente para nada, e, a seguir, existe
apenas um subsídio de desemprego (temporário) à espera
de quem já não aguenta tanto desespero.
Perante este cenário, nas zonas do interior há duas soluções
possíveis: a emigração, ou o regresso ao trabalho
agrícola.
Ainda há bem poucos dias, um desempregado da região de Moura,
no Alentejo, dizia (em relação ao facto de agora ali haver
cada vez mais espanhóis a comprar e explorar propriedades): "O
que é preciso é que haja trabalho, não importa quem
seja o patrão".
Mais a norte, na zona do Douro, foi também com alguma surpresa
que, este ano, um viticultor com quem contactei garantiu que teve ofertas
de mão-de-obra. "E olhe que isso já não se
via há muito tempo", disse ainda, em tom de espanto. É
o regresso forçado à agricultura, pela força das
circunstâncias.