Se momentos houve em que o mercado de trabalho nacional parecia excluir da corrida a novas oportunidades os perfis mais seniores e experientes, acima dos 50 anos, a tendência parece estar agora a inverter-se. Estes são exatamente os profissionais que as grandes empresas do sector da consultoria e auditoria querem atrair para as suas equipas. E não são as únicas. Na indústria, a senioridade também começa a marcar pontos nos processos de contratação. A valorização da experiência e da especialização em áreas críticas como a robótica ou automação, essenciais à transformação digital hoje em curso nas organizações, é a tendência de recrutamento atual, segundo o Msearch Market Trends 2018, o estudo anual de tendências de contratação realizado pela consultora de recrutamento Msearch, a que o Expresso teve acesso exclusivo.
“Na auditoria e consultoria, as grandes empresas estão a apostar no recrutamento de elementos mais seniores, especialistas nas suas áreas”, explica Mafalda Vasquez, diretora da Msearch. Esta mudança de paradigma faz com que, ao contrário do que sucedia há alguns anos, os profissionais mais seniores — que muitas vezes, após uma situação de despedimento, só conseguiam regressar ao mercado de trabalho pela via do outsourcing (prestando serviços a uma entidade como trabalhadores externos) — sejam agora “cada vez mais aliciados a integrar as estruturas do cliente final”, confirma a diretora da Msearch.
O resultado imediato desta reorientação estratégica das opções de recrutamento das empresas é a consolidação do que Mafalda Vasquez diz ser “um mercado de profissionais seniores com valores salariais cada vez mais atrativos, que conduzem a pacotes remuneratórios complexos, compostos por diversos complementos, inflacionando e influenciando o pequeno mercado de trabalho, já dominado pela escassez destes perfis”. O estudo não fixa os patamares salariais praticados, tanto mais que diferem consoante o sector de atividade e a função, mas deixa claro que as empresas estão a reconhecer o potencial da experiência na expansão dos negócios.
Indústria prepara revolução
Indústria e banca estão também entre as áreas que têm vindo a valorizar a experiência/senioridade dos candidatos e, no segundo caso, a crescente especialização dos profissionais contratados. Os dados da Msearch, obtidos a partir de mais de 4 mil entrevistas com candidatos a emprego e reuniões com empresas clientes da consultora de recrutamento, revelam que na Banca a era digital está a forçar a transformação das empresas que “sentem uma crescente preocupação pelo recrutamento de técnicos especializados para áreas críticas das operações financeiras, destacando-se os perfis da área de Risco”.
No sector industrial, as prioridades vão para as sólidas competências técnicas e forte experiência nas áreas de automação e robótica, posicionando-se para das resposta às exigências da Indústria 4.0, mas também nas áreas da eletricidade e AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado), bem como perfis de gestão de projetos ao nível de processos.
De um modo transversal, todos os sectores da indústria registam semelhantes tendências de contratação e a previsão da consultora é para que, em 2018, as empresas do ramo alimentar e os fornecedores de peças e serviços para a indústria automóvel registem um maior crescimento de necessidades de recrutamento especializado e áreas como a logística e distribuição, uma maior valorização da experiência operacional, por exemplo, em ambiente de armazém, de transitários e de operadores de logística integrada.
Nas áreas do Retalho, Grande Distribuição e Turismo, a especialização e senioridade também são a tendência. Segundo o estudo, entre as posições mais solicitadas estão, neste momento, “perfis para a grande distribuição (como chefes de departamento, chefe de backoffice, gestores comerciais); perfis de retalho (diretores de loja, assistentes de loja, responsáveis de sector e de departamento)”.
No sector das Tecnologias de Informação e senioridade não é apontada como uma tendência de recrutamento, mas a velocidade das contratações é. “O mercado das TI é muito dinâmico devido ao facto de existir pleno emprego. Aqui o mais importante para as consultoras e para os empregadores é agir com rapidez na captação de profissionais adequados”, explica Mafalda Vasquez. E a grande mudança não se faz do lado das opções das empresas, mas sim dos candidatos. Segundo o estudo, “os profissionais de TI só mudam de emprego para projetos desafiantes, empresas de destaque em relação à concorrência e com garantias de progressão na carreira, além do pacote salarial atrativo”. E aqui, conclui, vale tudo para impedir que estes talentos fujam para o estrangeiro.