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O hospital da moda

Em Santa Maria da Feira há uma solução para o vestuário usado, danificado ou fora de moda. Sandra Lourenço trocou a máquina de fotografar pela de costura e deu forma à empresa Dedal
22.12.2006


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Cátia Mateus O avô era alfaiate e entre as tias também havia quem fizesse da costura a base para o sustento da família. Sandra Lourenço cresceu entre agulhas e dedais e sempre gostou de dar pequenos ‘retoques' na sua própria roupa para a personalizar e tornar mais parecida consigo. Cursou fotografia e não fosse a dificuldade em conseguir um estágio, o mais provável seria que hoje esse fosse o seu ofício. Mas o destino trocou-lhe as voltas e levou a jovem fotógrafa de 29 anos a colocar a máquina na gaveta e lançar-se no desafio de reinventar com inovação e criatividade uma profissão tradicional. Sandra é costureira e mentora de uma empresa que em dois anos de actividade já fidelizou uma clientela específica. A partir de Santa Maria da Feira, o Dedal — Hospital de Roupa dá nova vida, pelas mãos desta costureira da nova geração, a peças de vestuário que de outra forma já teriam cumprido a sua história.


No centro da sua loja está a máquina. Peça central num negócio com forte cunho de tradição, mas nem por isso preso ao passado. Na verdade, Sandra pouco tem a ver com as costureiras tradicionais. De ar jovial e dinâmico, próprio dos seus 29 anos, Sandra Lourenço é o rosto e a cabeça da Dedal. Faz o que gosta e graças ao facto de se ter lançado nesta aventura empresarial pode mostrar ao público a sua paixão antiga pela reciclagem de vestuário e ensinar a reinventar novas funcionalidades para peças de roupa usadas e danificadas.

Sandra nunca tinha pensado ser empresária, até ao dia em que o namorado surgiu com essa ideia. “Eu tinha acabado o curso e não havia meio de conseguir um estágio e o meu namorado, sabendo deste meu hábito em transformar a minha roupa, deu-me esta ideia de criarmos juntos a Dedal”. Da ideia à abertura da loja foram apenas 15 dias. Encontraram o espaço, que arranjaram à sua maneira e com poucos recursos, investindo na criação da empresa escassos cinco mil euros. Hoje, a Dedal cresceu e graças ao rigor do trabalho de Sandra Lourenço foi fixando clientes.

A jovem empresária explica que o seu público-alvo é diversificado e abarca clientes dos 8 aos 80 anos. Tudo devido à inovação do conceito. É que este hospital de roupa integra uma tripla vertente de serviços: transformação de peças de vestuário e acessórios; realização de pequenos arranjos de costura e criação de linhas exclusivas de vestuário. Sandra Lourenço explica que “nesta fase os pequenos arranjos são aquilo que dá mais estabilidade à loja, mas a procura pelo serviço de reciclagem de roupa tem vindo a crescer”. Segundo a empresária, “as pessoas acham curioso esta ideia de poder transformar peças de roupa antigas, muitas vezes com valor sentimental e pedem-me sugestões”.

E as possibilidades são vastas. Quer a roupa esteja danificada ou apresente um corte que escape às tendências da moda, há sempre uma solução. Para a recriação da peça original, a jovem empresária recorre à aplicação de botões e outros objectos. Todo o trabalho da Dedal é executado por Sandra Lourenço que faz questão de acompanhar o cliente do princípio ao fim. dando-lhe várias sugestões possíveis para a reutilização de determinada peça.

Uma estratégia que para a empresária faz o sucesso da marca, mas que se torna cada vez mais difícil de manter já que o volume de trabalho tem vindo a aumentar progressivamente. Encontrar a colaboradora ideal para a Dedal tem sido, de resto, a grande dificuldade da jovem empresária neste projecto. Para Sandra “é muito difícil encontrar uma pessoa nesta área. A maioria das costureiras tem já mais idade e outra visão das tendência das moda, que não são aquelas que gostaria para a loja”.

A empresária está consciente de que “são muito poucas as pessoas novas com vontade de fazer carreira agarradas a uma máquina de costura”, mas não desiste da ideia de expandir o seu projecto. Para já a prioridade é encontrar alguém com qualidade para ajudar a cumprir os prazos de entrega e depois, “pensar em expandir o conceito para outras zonas”. O «franchising» pode ser uma hipótese, mas a empresária cautelosa assegura que a sua estratégia é feita à luz da teoria dos pequenos passos. “Uma coisa de cada vez” , enfatiza.

Antes dessa expansão já anunciada, Sandra Lourenço e o seu sócio Armando Henrique querem ainda reforçar uma vertente do negócio que até aqui têm sido pouco explorada: a concepção de peças de autor exclusivas. Uma vertente que para a empresária poderá ter um bom acolhimento por parte do mercado. “Além de serem mais baratas, porque são criadas a partir de artigos reciclados, são todas artigos exclusivos. Não há duas iguais”. É que nesta arte de reinventar, a inovação e a criatividade são uma constante e não é possível criar duas vezes o mesmo artigo.

A quem queria criar o seu próprio negócio, a jovem empresária aconselha a “investir apenas numa área de que se goste muito já que criar e manter um negócio exige muito espírito de sacrifício”. Depois, na gestão quotidiana, “de nada serve criar os problemas antes deles existirem”. Para Sandra Lourenço, “a melhor estratégia é lidar com as dificuldades à medida que vão aparecendo”. Como se de uma peça de roupa usada, com necessidade de ser reinventada, se tratasse.

BI Empresarial

Nome: Dedal - Hospital de Roupa
Fundadores: Sandra Lourenço (29 anos) e Armando Henrique (30 anos)
Data de criação: Dezembro de 2004
Sede: Santa Maria da Feira
Área de actividade: Pequenos arranjos de costura, transformação de peças de vestuário e criação própria
Investimento inicial: Cerca de cinco mil euros
Empregos criados: para já, apenas o auto-emprego
Público-alvo: Diversificado. Dos 8 aos 80 anos
Principais dificuldades: Encontrar o colaborador ideal para integrar o projecto
Princípio de gestão de que não abdica: Ir gerindo as dificuldades à medida que vão surgindo, sem antecipar problemas que podem nunca acontecer
Perspectivas futuras: Expandir o conceito, eventualmente pela via do «franchising» e fortalecer a produção própria de uma linha de vestuário exclusiva
Lema: “Viver um dia de cada vez e como se fosse o último”, mesmo nos negócios.




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