Fernanda Pedro
Escrever é a palavra de ordem das cerca de 35 pessoas
que compõem a equipa da Ficções Reais, uma empresa
sediada em Setúbal, que se destina a redigir guiões.
Apesar de ter apenas cinco sócios, todos fazem parte do negócio.
A mistura de idades e de formação é um factor de
enriquecimento da equipa, onde a hierarquia não faz parte do funcionamento
da empresa. Mas numa questão são peremptórios: "A
qualidade no trabalho apresentado é o principal objectivo da Ficções
Reais".
A comprovar esta teoria, está um dos projectos que a equipa desenvolve
neste momento, o guião para um filme em Hollywood sobre a vida
e obra de Che Guevara, onde António Banderas será o protagonista.
Tudo aconteceu quando um dos elementos da equipa visitou um "sítio"
da internet onde se falava contra Che Guevara. A Ficções
Reais interessou-se pelo tema e durante 18 meses trabalhou na pesquisa
sobre o homem mítico de Cuba.
Submeteram depois o guião à apreciação de
uma das centrais de compras de Hollywood, que coopera com a Universal
Films. O trabalho despertou logo a atenção dos norte-americanos
que assinaram de imediato um pré-acordo com a Ficções
Reais para a escrita do guião. "Três anos após
o nascimento da Ficções Reais esta é sem dúvida
a melhor forma de reconhecimento pelo trabalho que realizamos",
revela Guilherme Pereira, guionista e um dos sócios da empresa.
Após esta grande conquista, a empresa partiu novamente para o trabalho,
porque de Hollywood veio a exigência de filmar em Cuba e a Ficções
Reais teria de abrir caminho nesse sentido.
Foi realizado um contacto com o embaixador de Cuba em Portugal, Reinaldo
Calviac, que se mostrou disponível para ouvir a equipa portuguesa
ao ponto de se dirigir à cidade sadina para conversar com os elementos
da Ficções Reais.
"O embaixador abriu-nos de imediato as portas do Centro Che em Cuba,
que é dirigido pela viúva do guerrilheiro. Assim, dentro
de pouco tempo vão partir para terras cubanas três elementos
da nossa equipa", explica Frederico Rocha, um dos elementos da
equipa que se irá deslocar a Cuba.
Na verdade, quando iniciaram o seu percurso não tinham a ideia
de um projecto empresarial, porque o produto a vender era os conhecimentos
que cada um tinha e a sua capacidade de escrita. "De qualquer
forma, foram necessários cinco sócios-fundadores mas meramente
formais e um investimento de cinco mil euros. Conseguimos um espaço
no Centro de Empresas e de Inovação de Setúbal mas
basicamente para reunir a equipa porque o espírito é trabalhar
em rede", explica Guilherme Pereira.
Com guiões escritos para todas as estações televisivas,
a Ficções Reais têm em mãos muitos projectos
em desenvolvimento mas referem que não se sujeitam a escrever textos
sem qualidade.
"Vamos estudando as fraquezas do mercado e apresentamos trabalhos
inovadores", explica Eduarda Taveira, outro membro da equipa
que trabalha na área da pesquisa. Neste momento, entre outros projectos
estão a escrever duas novelas e um magazine de informação
para a RTP.
E que perfil ou formação terá de ter um guionista?
Vanessa Pereira diz que em Portugal não há formação
nesta área e o essencial é saber escrever e depois ir aprendendo
à medida que for entrando no mundo dos guiões.
Nesse sentido, a equipa da Ficções Reais segue a linha de
pensamento de que a diversificação de formação
e profissões dos elementos é importante. "Por esse
motivo, a política interna da empresa é que ninguém
deve deixar os estudos nem as profissões que exerce para trabalhar
aqui", salienta Clara Barroso, pesquisadora da empresa.
Enquanto negócio Guilherme Pereira garante que a Ficções
Reais é rentável mas neste momento apenas consegue pagar
aos seus trabalhadores. "Também não queremos crescer
muito porque não temos pessoas para assegurar o trabalho. É
difícil encontrar pessoas que escrevam bem. Falta criatividade
aos portugueses", admite o empreendedor.