António Aguilar*
NA EDIÇÃO de 5-6-04, veio publicado no Caderno
de Emprego um artigo da jornalista Cátia Mateus, citando declarações
do prof. Luís Almeida da Universidade do Minho, sob o título
"Minho aposta nos Têxteis", o qual me deixou perplexo,
dada a falta de senso de algumas Universidades e o elevado grau de irresponsabilidade
que as leva a promoverem licenciaturas sem mercado de trabalho. Tentando
atrair jovens, de forma a garantirem a manutenção de estruturas,
que de nada servem a não ser consumir recursos ao Estado.
É inaceitável a manutenção das Licenciaturas
em Engenharia Têxtil e de Vestuário, quer na Universidade
do Minho quer na Universidade da Beira Interior, porquanto o mercado de
trabalho para estes Licenciados, pese embora tenha sido vasto até
início da década de noventa, há muito que desapareceu
e hoje uma grande parte destes licenciados vive sem perspectivas de futuro
e a necessitar de uma profunda reciclagem profissional.
Assim, é falso o nível de plena empregabilidade e, pelo
contrário, o nível de desemprego é elevadíssimo
e muitos trabalham em situação de precariedade própria
de terceiro mundo.
A situação que vivem os diplomados em Engenharia Têxtil
deve-se a factores diversos, mas que se centram essencialmente no facto
da ITV ser um sector próprio de países de baixo custo de
mão-de-obra, o que leva a que a transformação se
vá deslocando de forma a fazer face à forte pressão,
sobre os preços, das empresas que lideram a distribuição.
É um facto que esta deslocalização foi em tudo facilitada
pela globalização dos mercados iniciada em Março
de 1986 com o último Acordo Multifibras e, mais recentemente, com
os Acordos do GATT que ditaram o fim das barreiras alfandegárias
a 1 de Janeiro de 2005. No entanto, esta é uma realidade que não
podemos nem devemos querer alterar.
Deve perceber-se que a permanência no mercado de empresas se fica
a dever ao facto da ITV nacional ter aprendido, nos finais da década
de 80, o caminho mais fácil para a sua artificial e temporária
manutenção, a subsídiodependência. Com isso,
perdeu-se a oportunidade de canalizar os Fundos Estruturais para a modernização
da economia, apostando, por um lado, em sectores com potencial de sucesso
e, por outro lado, na verdadeira formação dos recursos humanos.
Além da realidade actual e futura da ITV, bastaria uma simples
análise histórica da evolução do seu peso
no PIB - hoje, pesam 3% do PIB - e nas exportações de têxteis,
para concluirmos que não faz sentido a aposta nas licenciaturas
da área Têxtil, dado que o mercado de trabalho-alvo desapareceu
ou está disso muito próximo a curto prazo.
O número de desempregados é já preocupante e a possibilidade
da sua colocação noutros sectores da economia, com a dignidade
esperada por um licenciado em Engenharia, é, irremediavelmente,
nula. Entretanto, e de acordo com a citação do prof. Luís
Almeida, vai a UM criar um novo curso de Design - à semelhança
do que já fez a UBI e o IP de Castelo Branco - que, diga-se, nunca
será um curso de nível universitário, ou seja, com
forte componente científica (os que a UBI e o IPCB criaram, provam-no).
Tem então o Departamento de Engenharia Têxtil da UM, à
semelhança do seu congénere da UBI, como único objectivo
obrigar o Estado a suportar as suas estruturas, à semelhança
de outras, como o Centro Tecnológico e Centros de Formação
Profissional, nelas desperdiçando os já escassos recursos
do erário público.
Quanto a nós, diplomados em Engenharia Têxtil - com alguma
experiência de vida que, em tempo e enquanto tal foi possível,
muito contribuímos para o PIB e para as exportações
nacionais dirigindo empresas e, não raras vezes, conduzindo recursos
humanos em difícil situação e com eles negociando
por forma a não se gerarem conflitos sociais similares aos que,
ultimamente, vimos assistindo através dos "media" -,
estamos cientes de que não há mais futuro para a ITV nacional.
Exceptuando algumas empresas que se ligaram à distribuição
e que, na realidade, têm carência de quadros superiores das
áreas de Gestão e Marketing e não da área
de Engenharia. Resta-nos usufruir de uma pequena parte dos mais de ¤500
M recebidos para minimizar os impactos negativos sobre a ITV, resultantes
dos Acordos do GATT e, em conjunto com o Governo - que nos vem dispensado
toda a atenção e empenho -, encontrar uma solução
justa para o problema que nos foi criado, dadas as circunstâncias
que levaram ao desaparecimento do nosso mercado de trabalho.
*Licenciado em Engenharia Têxtil