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O futuro dos têxteis e as apostas do ensino universitário

23.07.2004


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António Aguilar*

NA EDIÇÃO de 5-6-04, veio publicado no Caderno de Emprego um artigo da jornalista Cátia Mateus, citando declarações do prof. Luís Almeida da Universidade do Minho, sob o título "Minho aposta nos Têxteis", o qual me deixou perplexo, dada a falta de senso de algumas Universidades e o elevado grau de irresponsabilidade que as leva a promoverem licenciaturas sem mercado de trabalho. Tentando atrair jovens, de forma a garantirem a manutenção de estruturas, que de nada servem a não ser consumir recursos ao Estado.

É inaceitável a manutenção das Licenciaturas em Engenharia Têxtil e de Vestuário, quer na Universidade do Minho quer na Universidade da Beira Interior, porquanto o mercado de trabalho para estes Licenciados, pese embora tenha sido vasto até início da década de noventa, há muito que desapareceu e hoje uma grande parte destes licenciados vive sem perspectivas de futuro e a necessitar de uma profunda reciclagem profissional.

Assim, é falso o nível de plena empregabilidade e, pelo contrário, o nível de desemprego é elevadíssimo e muitos trabalham em situação de precariedade própria de terceiro mundo.

A situação que vivem os diplomados em Engenharia Têxtil deve-se a factores diversos, mas que se centram essencialmente no facto da ITV ser um sector próprio de países de baixo custo de mão-de-obra, o que leva a que a transformação se vá deslocando de forma a fazer face à forte pressão, sobre os preços, das empresas que lideram a distribuição.

É um facto que esta deslocalização foi em tudo facilitada pela globalização dos mercados iniciada em Março de 1986 com o último Acordo Multifibras e, mais recentemente, com os Acordos do GATT que ditaram o fim das barreiras alfandegárias a 1 de Janeiro de 2005. No entanto, esta é uma realidade que não podemos nem devemos querer alterar.

Deve perceber-se que a permanência no mercado de empresas se fica a dever ao facto da ITV nacional ter aprendido, nos finais da década de 80, o caminho mais fácil para a sua artificial e temporária manutenção, a subsídiodependência. Com isso, perdeu-se a oportunidade de canalizar os Fundos Estruturais para a modernização da economia, apostando, por um lado, em sectores com potencial de sucesso e, por outro lado, na verdadeira formação dos recursos humanos.

Além da realidade actual e futura da ITV, bastaria uma simples análise histórica da evolução do seu peso no PIB - hoje, pesam 3% do PIB - e nas exportações de têxteis, para concluirmos que não faz sentido a aposta nas licenciaturas da área Têxtil, dado que o mercado de trabalho-alvo desapareceu ou está disso muito próximo a curto prazo.

O número de desempregados é já preocupante e a possibilidade da sua colocação noutros sectores da economia, com a dignidade esperada por um licenciado em Engenharia, é, irremediavelmente, nula. Entretanto, e de acordo com a citação do prof. Luís Almeida, vai a UM criar um novo curso de Design - à semelhança do que já fez a UBI e o IP de Castelo Branco - que, diga-se, nunca será um curso de nível universitário, ou seja, com forte componente científica (os que a UBI e o IPCB criaram, provam-no).

Tem então o Departamento de Engenharia Têxtil da UM, à semelhança do seu congénere da UBI, como único objectivo obrigar o Estado a suportar as suas estruturas, à semelhança de outras, como o Centro Tecnológico e Centros de Formação Profissional, nelas desperdiçando os já escassos recursos do erário público.

Quanto a nós, diplomados em Engenharia Têxtil - com alguma experiência de vida que, em tempo e enquanto tal foi possível, muito contribuímos para o PIB e para as exportações nacionais dirigindo empresas e, não raras vezes, conduzindo recursos humanos em difícil situação e com eles negociando por forma a não se gerarem conflitos sociais similares aos que, ultimamente, vimos assistindo através dos "media" -, estamos cientes de que não há mais futuro para a ITV nacional.

Exceptuando algumas empresas que se ligaram à distribuição e que, na realidade, têm carência de quadros superiores das áreas de Gestão e Marketing e não da área de Engenharia. Resta-nos usufruir de uma pequena parte dos mais de ¤500 M recebidos para minimizar os impactos negativos sobre a ITV, resultantes dos Acordos do GATT e, em conjunto com o Governo - que nos vem dispensado toda a atenção e empenho -, encontrar uma solução justa para o problema que nos foi criado, dadas as circunstâncias que levaram ao desaparecimento do nosso mercado de trabalho.

*Licenciado em Engenharia Têxtil





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