Abílio Ferreira
DESENCADEAR um "círculo virtuoso" por
oposição ao "círculo vicioso" que tem marcado
a requalificação profissional nas "indústrias
em risco" dos Têxteis, Vestuário e Calçado, é
a proposta de uma monografia divulgada pelo IAFE - Instituto de Informação,
Apoio e Formação Empresarial.
O estudo, de 400 páginas, traça uma radiografia exaustiva
dos três sectores e aponta medidas no domínio da formação
e emprego.
O novo ciclo tem subjacente um modelo de formação profissional
que envolva um Observatório de Acompanhamento sectorial ou regional,
o Centro de Emprego, associações empresariais e centros
tecnológicos.
A ligação destas entidades será a base do sistema,
cujo sucesso deve ser medido segundo duas metas: a melhoria da produtividade
e competitividade das empresas e a reinserção da mão-de-obra
desempregada no mercado de trabalho.
Reconverter e actualizar
O estudo reconhece que as mudanças tecnológicas e de organização
das empresas "têm implicações sérias
sobre o emprego dos trabalhadores cujas competências ficam desadequadas
face às novas exigências", e identifica dois tipos
de trabalhador-problema: aqueles que possuem empregos em transformação
e os que, possuindo ou não emprego, desempenham ou desempenhavam
empregos em regressão.
Os primeiros "devem ser direccionados para acções
de actualização ou aperfeiçoamento", os
segundos "devem procurar manter-se ou reintegrar-se no mercado
de trabalho à custa de uma reconversão para novas actividades".
Além do Observatório de Acompanhamento, um órgão
que antecipa oportunidades, congrega vontades das empresas e sensibiliza
os trabalhadores, a figura das Empresas de Reinserção desempenha
um papel importante no modelo proposto.
A formação seria formatada, depois de identificadas as empresas
que poderiam absorver a mão-de-obra reconvertida. O caso da fábrica
de calçado Clarks, em Castelo de Paiva, é paradigmático:
a reconversão profissional não aumentou a empregabilidade
pela inexistência de empresas locais que absorvessem os desempregados.