Pedro Maia Ramos
O revés do desemprego fez Paulo Parreira descobrir
um nicho de mercado por explorar: a minúcia dos mapas de pormenor
A VONTADE e o prazer de fazer algo útil e ter um meio de sustento
motivou Paulo Parreira, 30 anos, a lançar-se num novo projecto
empresarial.
No Bairro Alto, em Lisboa, onde cresceu e vive, germinou um espaço,
misto de cibercafé com escritório de informação
turística, aliado à exposição de pequenos
quadros que vendia como lembranças. Baptizou-o de "Inlisboa.com"
em Julho de 2002, após ficar desempregado em Janeiro do mesmo ano.
"Os turistas entravam e compravam... mas senti que a informação
verbal que dava era, por vezes, incompleta. Faltava algo... e surgiu a
ideia de um mapa de pormenor. Com uma georeferenciação mais
completa, com um levantamento de todos os elementos que compõem
as ruas, praças, jardins", explica Paulo Parreira.
Cerca de 5000 fotos e muitas horas de campo e de estúdio depois,
surge o primeiro mapa. A adesão dos comerciantes e dos turistas
do Bairro Alto foi imediata.
Diplomata com visão de negócio
Da vida académica (Relações Internacionais pela Universidade
Autónoma de Lisboa, pós-graduação em Estudos
Europeus), trouxe a aptidão de encarar novas situações
e contactos.
Depois de seis anos ligado ao meio estudantil, desde lojas de material
académico até revistas "on-line", arrancou com
um portal para estudantes, um projecto em parceria com um grupo económico,
durante o "boom" da internet.
Mas o declínio do comércio "on-line" ditou o seu
afastamento. "Já não sentia o gozo inicial no que
fazia (portal) e as relações estavam 'azedas'. Saí.
Como o espaço do Bairro Alto é de família, o investimento
foi menor e avancei com a ideia".
Sem nunca descurar o projecto "on-line", bem pelo contrário,
"quando, em Setembro passado, surgiu a hipótese de abrir
uma loja nos Restauradores, aproveitei. Era, 'a glória ou morte'
do negócio". O investimento inicial foi na ordem dos 25
mil euros que espera reaver em três anos.
Apostar no capital intelectual
As ideias e projectos são dele, as obras não. Do passado
trouxe uma carteira de contactos. Hoje, conjuga o trabalho de estudantes,
finalistas e licenciados de Belas Artes e de outras áreas. "Actualizam
a página da web, levantam perfis sócio-cultural e histórico,
traduzem e estudam sugestões de percursos".
Estão executadas cartas de georeferência do Bairro Alto,
Baixa e Chiado, e os projectos de Alfama e Mouraria "'estão
na calha' para o Verão. Para já, a aposta maior é
nos conteúdos na internet". A ideia é lançar
os mapas físicos e a edição "on-line" em
simultâneo.
Das lembranças iniciais e dos mapas saltou para outros projectos.
De Lisboa foram retratados teatros, eléctricos da Carris, fontes
e chafarizes, praças e largos, igrejas. As tradições
portuguesas, navios, faróis também constam do portfolio,
nos mais variados suportes, do azulejo ao cartaz e sob diversas técnicas,
do acrílico à aguarela. Sob encomenda, executam foto-reportagens
e criação de sítios e portais para a internet.
Arte para todos
"É bom para o artista, ou quem trabalhe para a empresa,
para o público e para mim". Defende a arte, mais perto
das massas, mais barata, "mas com qualidade. Barato, não
é sinónimo de mau".
Apesar de saber que "nenhum negócio é 100% seguro",
arriscou num projecto só seu. Não faz publicidade, mas refere
que tem "a melhor. É o 'boca-a-boca'. Quem gosta, compra
e divulga. Os estudantes/artistas passam palavra e vêm oferecer
os préstimos".
Não recusa as parcerias, mas não quer "ficar subsídio-dependente".
Um acordo com o Turismo de Lisboa permite ter os produtos expostos nos
quiosques desta instituição. "É a mesma obra,
mas com mais visibilidade".
Prefere dar "pequenos, mas seguros passos". Acredita
que o êxito virá da "conjugação das
lojas físicas e virtual", e sente que "estou a
criar uma base sustentada, e além disso, gosto daquilo que faço",
concluiu Paulo Parreira.