Cátia Mateus
Movimento Democrático das Mulheres lança
programa de combate à discriminação e precariedade
laboral em Aveiro
EM SANTA Maria da Feira, distrito de Aveiro, o desemprego "escreve-se"
no feminino. Em Março do corrente ano, 61% dos desempregados do
distrito de Aveiro eram mulheres, segundo dados do Instituto do Emprego
e Formação Profissional (IEFP).
Uma conjuntura desfavorável também retratada por Anselmo
Dias, da Comissão Nacional de Trabalho das Mulheres do Partido
Comunista Português, no seu estudo "Itinerários da discriminação
e da pobreza da mulher trabalhadora".
De acordo com o documento, há uma clara situação
de discriminação das mulheres trabalhadoras naquela região
do país. Segundo o autor, o concelho de Santa Maria da Feira é
o mais problemático nesta matéria.
Em quase todos os sectores de actividade e profissões o nível
salarial das mulheres é inferior ao dos homens. Revela o estudo
que "em 61% dos casos há diferenças salariais homem/mulher
entre 10 e 35%".
Anselmo Dias explica que é no sector têxtil que mais se sente
essa discriminação. Em média, as 484 mulheres empregadas
no sector auferem 334,6 euros enquanto que o rendimento médio mensal
dos cerca de 1400 homens a trabalhar no concelho ronda os 466,7 euros.
Com 135.964 habitantes, Santa Maria da Feira é o concelho do distrito
de Aveiro com maior industrialização. As mulheres representam
43,5% da força de trabalho por conta de outrem e além de
serem, segundo o estudo, as mais mal pagas são também as
mais afectadas pelo desemprego.
Um panorama que, segundo Alcina Fernandes, responsável do Movimento
Democrático das Mulheres (MDM), tende a agravar-se ainda mais pela
"baixa auto-estima da generalidade das mulheres operárias
e pela perspectiva de centenas de novos despedimentos, numa região
onde este problema já afecta demais as mulheres".
Combate cerrado à discriminação
Uma tendência que o MDM esta apostado em travar com o auxílio
de um projecto ambicioso de combate ao desemprego e precariedade laboral
das mulheres neste distrito. A iniciativa dá pelo nome de "Novos
Caminhos para a Igualdade" e tem um prazo de execução
de dois anos.
Com este programa, o movimento pretende fornecer ferramentas que facilitem
a intervenção e interacção pessoal, familiar
e social das mulheres. A acção dá agora os primeiros
passos em Santa Maria da Feira, um concelho onde a situação
das mulheres em matéria de desemprego é, na avaliação
do MDM, preocupante.
Seis em cada dez desempregados existentes em Aveiro são mulheres.
De acordo com Alcina Fernandes, responsável do MDM, "não
há um só concelho no distrito de Aveiro onde o desemprego
masculino seja superior ao feminino". A questão torna-se
ainda mais grave se pensarmos que, como refere a responsável do
movimento, "os novos despedimentos que se adivinham ocorrerão
em empresas que empregam maioritariamente mulheres".
Daí que para a responsável da MDM, o projecto "Novos
Caminhos para a Igualdade" seja uma nova porta de saída rumo
à empregabilidade. Com esta iniciativa o movimento espera conseguir
dar novas alternativas profissionais às mulheres do distrito de
Aveiro.
A execução deste programa compreende o estabelecimento de
parcerias entre autarquias locais e instituições de solidariedade
social no sentido de permitir a valorização das mulheres
operárias no mercado, bem como fomentar soluções
de auto-emprego.
Para concretizar este projecto, a MDM conta com um apoio de 250 mil euros,
provenientes de fundos comunitários, ainda em fase de apreciação
pela Comissão da Igualdade e Direitos das Mulheres.