Portugal voltou a atrair trabalhadores estrangeiros e a tendência, tudo o indica, reforçou-se em 2018. Ainda não há números oficiais, mas toda a informação disponível aponta nesse sentido. É o caso do inquérito ao emprego, do Instituto Nacional de Estatística (INE), que indica que a população empregada estrangeira em Portugal atingiu 121,2 mil pessoas em 2018, o valor mais alto desde 2011, ano em que a troika aterrou em Lisboa. Mais ainda, o incremento anual foi de 12,6%, o mais expressivo desde 2008. Na população ativa (que abrange empregados e desempregados), a tendência é similar: um aumento de 9,2%, para 136,2 mil pessoas, contribuindo, quase na totalidade, para o aumento da população ativa total no país em 2018.
Números que podem até ficar aquém da realidade. Os dados do inquérito ao emprego são obtidos por amostragem, havendo uma “cobertura reduzida deste tipo de populações”, alerta José Carlos Marques, investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Mas a tendência é inequívoca. E junta-se à informação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), cujos “dados provisórios apontam para um aumento expressivo do número de estrangeiros a residir em Portugal em 2018”, diz fonte oficial ao Expresso.
"Com a economia a crescer e o mercado de trabalho em melhor situação, os trabalhadores estrangeiros voltaram a vir”, frisa Pedro Góis, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. “Confirma-se que os fluxos migratórios em Portugal estão muito associados à dinâmica do mercado de trabalho. Os estrangeiros vêm para Portugal em resposta a uma necessidade da economia, para ocupar postos de trabalho que estão disponíveis e para os quais os portugueses têm pouca apetência”, vinca João Peixoto, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão. Uma apetência ainda menor “com a taxa de desemprego a descer tanto”.
Com o desemprego perto da taxa ‘natural’, ou seja, do patamar associado ao funcionamento da economia em velocidade de cruzeiro, utilizando todos os seus recursos, “há poucos portugueses disponíveis para ocupar funções em sectores como o turismo, onde o emprego mais tem crescido, mas que são pouco atrativas em termos de salários e qualificações”, reforça João Peixoto. Daí “a entrada de estrangeiros”.
É o caso dos cidadãos brasileiros, com os dados provisórios de 2018 a sinalizarem “um aumento expressivo” desta comunidade, indica fonte oficial do SEF. “O número de brasileiros legalmente em Portugal pode já ter ultrapassado os 100 mil. Está a crescer muito”, vinca Pedro Góis. Em 2016 eram 81 mil. Não são apenas trabalhadores pouco qualificados. Dada a situação política e económica no Brasil, estão a chegar pessoas “de várias classes sociais, incluindo mais qualificadas”, constata José Carlos Marques, lembrando também o elevado número de estudantes.
Destaque ainda para a “imigração muito organizada de trabalhadores do Bangladesh, Nepal, ou Paquistão, para a agricultura, em particular no Alentejo”, frisa Pedro Góis. Quanto aos cidadãos do leste europeu, que alimentaram a imigração em Portugal nos anos 90 e início do século, “na altura da crise, a maioria voltou aos países de origem. Agora, podem estar a regressar, mas não há informação”, remata José Carlos Marques.