Fernanda Pedro e Maribela Freitas
OS NÚMEROS não mentem: a população portuguesa está a envelhecer. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2004, o número de idosos dependentes das famílias já era mais elevado do que o número de jovens, totalizando o primeiro 25,2%, e o segundo 23,2%. O índice de envelhecimento da população atingiu mesmo os 108,7% e em 2004, 1.790.539 dos habitantes em território nacional tinham mais de 65 anos de idade.
Índices reveladores de que os portugueses têm uma esperança de vida mais longa, uma quebra na natalidade e, consequentemente, um envelhecimento crescente da população. Uma conjuntura que provocou mudanças no panorama laboral e que faz dos cuidados aos idosos um segmento de actividade onde vale a pena investir.
Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos (APG), não tem dúvidas de que os serviços prestados aos idosos constituem uma área de emprego cada vez mais importante e com forte tendência de crescimento. «Trata-se de um nicho de mercado ainda por explorar. Já existe alguma coisa mas é muito pouco», refere o responsável.
Na verdade, Jorge Marques reconhece que esta vertente é pouco aproveitada mesmo para quem sai das universidades, e que «era importante que os jovens vissem aqui uma forma de auto-emprego, já que é necessário criar mais empresas ligadas à terceira idade». Grandes grupos económicos já viram neste segmento uma hipótese de expansão, «os grupos Mello e Espírito Santo são disso exemplo, com a criação de unidades residenciais para idosos», adianta.
E quando se fala em serviços para a terceira idade, não é apenas a saúde que está em causa. Jorge Marques exemplifica: «existem empresas ligadas ao turismo, lazer, cultura que desenvolvem a sua actividade direccionado-a para serviços prestados a pessoas mais velhas». Apesar de ser uma área com futuro, o responsável da APG lamenta que não exista muita formação dirigida a este segmento, «é uma área mal trabalhada e aproveitada».
António Mariano, presidente da Associação de Lares de Idosos (ALI), corrobora esta ideia. Considera que há falta de profissionais para trabalhar com a terceira idade. «Devido à especificidade deste trabalho, torna-se difícil prender as trabalhadoras — são as mulheres quem exerce em maioria —, pois as pessoas não técnicas carecem por vezes de capacidades e qualidades especiais para exercer estas funções», frisa o responsável. Essa carência verifica-se sobretudo na actividade de ajudante de lar e apoio na higiene do utente.
Mas se existe falta de profissionais, será que há interessados em trabalhar nesta área? António Mariano refere que «muitas pessoas procuram trabalho nos lares como uma ‘tábua de salvação' financeira e, assim que se proporcione, mudam de profissão». No futuro, o presidente da ALI considera que «as profissões relacionadas com a terceira idade vão ter procura, havendo maior incidência nas ajudantes de lar, pois são estas que mais tempo e mais perto estão das pessoas idosas».
A Babete&Avental foi criada em 1999 e dedica-se a recrutar e colocar pessoal doméstico em casas particulares, nomeadamente empregadas domésticas, pessoal de apoio geriátrico, etc. Helena Serdoura, sócia-gerente desta empresa, refere: «A dificuldade em encontrar pessoal especializado e com perfil para a execução destas actividades, levou-me à criação de uma escola de formação que colmatasse as falhas. Assim, e com a criação da Housekeeping passamos a formar o pessoal que presta serviço através da Babete&Avental».
Na opinião da empresária, actualmente não existe falta de trabalhadores para esta área. Falta sim «pessoal especializado e com apetências pessoais e comportamentais adequadas». Contudo e futuramente, pensa que a procura destes profissionais vai aumentar, não só a nível de cuidados primários mas também a nível ocupacional.
E numa altura em que, em termos de emprego, o futuro é cada vez mais incerto, existem dados que conferem optimismo a quem procura um posto de trabalho nesta área. O relatório «Jobs of the Future» — realizado pela consultora Accenture e a associação The Lisbon Council, divulgado no primeiro trimestre deste ano —, aponta sectores de actividade de elevado potencial para a criação de emprego na Europa. Um deles é o dos serviços sociais e comunitários, onde se inserem os serviços de geriatria.