Fernanda Pedro
A MARINHA portuguesa ainda consegue cativar os jovens.
Muitos deles procuram neste ramo das Forças Armadas uma carreira
profissional.
Uma prova disso são os números oficiais disponibilizados
pela Marinha, que demonstram que todos os anos aumenta o número
de candidatos que assinam um contrato com esta instituição
militar. Só este ano foram 2322, contra os 2291 de 2002.
O regime de contrato, renovado de dois em dois anos, permite aos jovens
que ingressam na Marinha frequentarem um curso de formação.
É de resto a formação que alicia muitos portugueses
a optarem por uma carreira profissional na Marinha.
Foi o caso de Sérgio Lopes, quando aos 19 anos pensou na possibilidade
de, no futuro, integrar os quadros desta instituição.
Hoje, com 25 anos, já realizou esse desejo e conseguiu tirar
o curso pretendido, o de electrónica e telecomunicações.
"Quando entrei para a Marinha foi com a finalidade de continuar
a estudar, e consegui realizar essa intenção",
explica.
Sérgio entrou como praça porque lhe faltavam duas disciplinas
do 12º ano. Tirou o curso de electricista e, em 1999, quando abriu
o concurso para o curso de electrónica destinado a sargentos,
candidatou-se.
Durante três anos estudou esta especialidade e em 2002, quando
finalizou os estudos, entrou para os quadros da Marinha como 2º
sargento. Neste momento, sente que o seu esforço foi recompensado,
porque trabalha na área que gosta.
"Na Marinha temos a possibilidade de pôr realmente em
prática a formação adquirida, porque somos colocados
nas áreas da nossa especialidade. E a electrónica abrange
um vasto leque de oferta", explica.
Mas não foi só o curso que atraiu o jovem sargento para
a carreira militar, a estabilidade financeira é outro dos atractivos
desta profissão, porque "posso criar objectivos de vida
a curto prazo".
Na realidade, a estabilidade económica e as regalias sociais
proporcionadas por uma carreira militar podem ser bons incentivos. O
comandante Gouveia e Melo, relações públicas da
Marinha, refere mesmo que, no momento de crise de emprego que o país
atravessa, a estabilidade e a formação oferecidas na Armada
podem ser uma mais-valia para a adesão dos jovens.
Na verdade, o ordenado auferido na Armada por um 1º marinheiro
começa nos 800 euros e pode atingir os 1050. Um cabo, poderá
ganhar entre 1150 e 1390 euros, um sargento de 1250 a 1950 euros e os
oficiais de 1500 até 3000 euros.
"São valores aliciantes quando comparados com as remunerações
que muitos jovens recebem na sociedade civil", explica aquele
responsável.
Gouveia e Melo salienta ainda que a ideia de que uma carreira na Marinha
é para toda a vida "está ultrapassada".
Refere mesmo que ninguém fica obrigado a permanecer na Armada:
"Quem não se sentir atraído por esta profissões
pode sair quando terminar o contrato". Contudo, os que ingressam
nos quadros, "só podem abandonar a instituição
após oito anos de serviço", esclarece o comandante.
Maria Martins, de 35 anos, está neste momento numa fase de transição
entre o regime de contrato e o ingresso nos quadros da Marinha. Após
oito anos na Armada portuguesa, como adjunta das relações
públicas, decidiu seguir carreira na instituição.
Quando entrou já trazia uma licenciatura em Ciências da
Comunicação tirada na Universidade Autónoma. Na
altura, decidiu candidatar-se a um lugar na Marinha como técnica
superior naval. "Foi um desafio a que me propus e sabia que,
se não gostasse, podia sair depois de terminar o contrato",
lembra Maria.
Um desafio superado por esta militar, que alcançou ainda a possibilidade
de trabalhar na área que estudou - "o que muitos dos
meus colegas de curso não conseguiram".
Além deste privilégio, Maria Martins acredita que uma
carreira militar vale também pelo espírito de grupo que
se adquire. Encontra-se agora num período decisivo da sua carreira:
"Depois de oito anos em regime de contrato, ou se entra para
o quadro ou então temos de sair. Neste momento estou na fase
de transição, mas estou confiante que o meu ingresso está
para breve".