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Márcia Trigo, directora da Escola de Negócios da UAL

05.09.2003


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Ruben Eiras

"Gestores devem focar no longo prazo"


OS GESTORES portugueses são eficazes a obter resultados no curto prazo, mas falham redondamente na criação de negócios sustentados num horizonte longínquo.

Para ajudar a mudar o rumo da elite empresarial do país, Márcia Trigo, directora da Escola de Negócios da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), abriu a oferta de formação avançada a quadros e empresários que não possuam licenciatura, mas detentores de um percurso profissional com provas dadas no mercado.

EXPRESSO - Os gestores portugueses são pouco profissionais?

MÁRCIA TRIGO - A resposta tem pelo menos dois registos. Num, de curto prazo, focado nos processos e na eficiência, os gestores portugueses são em geral considerados bons profissionais.

No longo prazo, medido sobretudo pelos resultados sustentados da empresa, os gestores portugueses são considerados pouco profissionais.

EXP. - E quais são as suas maiores lacunas?

M.T. - No Índice da Competitividade, realizado pelo Institute for Management Development, o desempenho dos gestores corresponde a um dos piores da economia nacional, em especial nos critérios de visão e orientação estratégica, orientação para o cliente, "marketing" internacional, produtividade, formação no interior da empresa e espírito empreendedor, só para mencionar alguns.

EXP. - Que medidas deverão ser tomadas para inverter esta situação?

M.T. - Há que melhorar a qualidade da formação inicial e pós-graduada, designadamente as de "Formação Executiva" e de "Executives MBA", leccionadas em "Business schools" mistas.

É um modelo de ensino que combina o melhor da universidade e do mundo empresarial, orientado pelo princípio da "realidade e da acção" e muito menos comprometido com o "academismo" de muitas das nossas universidades.

EXP. - Essa interligação entre a universidade e a empresa é uma questão que já é recorrente do discurso educativo e político. Mas a sua prática ainda vai no adro...

M.T. - Trata-se de dois sistemas com grande desconfiança mútua, decorrente de histórias institucionais paralelas e até mesmo opostas.

Por isso, neste domínio, as mudanças são difíceis, lentas e muitas vezes não desejadas por muitos dos seus actores e autores. Se fosse fácil, já estava feito e não está.

Mas já começaram a dar-se os primeiros passos nas formações pós-graduadas, nos MBA Executivos e nas formações "in company training".

São acções formativas monitorizadas por escolas de negócios, que negoceiam formações "à medida" da empresa cliente, numa virtuosa interface universidade-empresa. Também aqui seguimos tardiamente o que outros países, incluindo a Espanha, já fazem há anos.

EXP. - Com efeito, assiste-se a uma explosão de escolas de negócios no mercado universitário português. Qual é a diferenciação da UAL neste nicho educativo?

M.T. - A partir de uma larga experiência de formação pós-graduada - em especial a monitorizada pelo Instituto Sócrates -, na "Business school" da UAL definimos, com os diversos parceiros, uma "Carta de Qualidade e Responsabilidade Social", a qual integra sete princípios orientadores da sua intervenção neste mercado.

Destes, destacam-se a constituição de uma rede de parceiros com relevância nas áreas de intervenção de cada um dos Executive MBA e Pós-Graduações Executivas, uma avaliação completa de cada curso e dos seus docentes e a abertura dos cursos aos públicos não-tradicionais, ou seja, pessoas com histórias profissionais relevantes, mesmo ao nível do "top management", que não possuem uma licenciatura mas pretendem aprofundar e reforçar as suas competências empresariais, de gestão e de liderança.

Valorizamos e reconhecemos as qualificações e competências não-formais, como é hoje corrente em universidades com forte ligação à realidade empresarial e tecnológica.

Empreendedorismo desde pequenino

EXP. - Um dos vossos MBA é precisamente sobre "Business and Entrepreneurship - Espírito Empreendedor". O empreendedorismo pode ser ensinado? Não é uma característica que é inata?

M.T. - O espírito empreendedor aprende-se e desenvolve-se. Muitos investigadores, a partir de estudos empíricos, demonstram que se aprende a ser empresário, a correr riscos, a inovar e a ser empreendedor.

Mas este tipo de debate já atravessou há quase duas décadas o próprio ensino da gestão, quando entre nós se criaram as primeiras licenciaturas em gestão e os primeiros cursos para quadros e empresários.

Nasce-se ou aprende-se a ser gestor, perguntava-se então? Peter Drucker juntou-se à discussão, em 1986, com a edição da sua obra Inovation and Entrepreneurship.

Nessa altura, era eu directora da AIP-COPRAI e, a partir desse livro de Drucker, realizámos vários cursos dirigidos a jovens candidatos a empreendedores. A maioria deles são hoje empresários de sucesso ou gestores empreendedores.

EXP. - E basta agir apenas a nível do ensino avançado no leccionamento do espírito empreendedor?

M.T. - Não. É crucial incutir este ensino desde tenra idade. O "Índice de Empreendedorismo 2002", que Portugal não integrou, revela que os países com maior percentagem da sua população em actividade empreendedora são os que mais investem na formação em empreendedorismo desde a escola básica.

"Há que basear a formação executiva num modelo misto, combinando universidade
e empresa
"





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