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Maestro 'dirige' empresários

Sabia que a empresa ideal deveria funcionar, tal e qual, como uma orquestra? É esta a mensagem que o maestro António Vitorino d‘Almeida está a passar nas suas palestras motivacionais junto dos executivos portugueses
04.02.2009


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Marisa Antunes
António Victorino d’Almeida será, porventura, o único maestro que a maioria dos portugueses conhece, pelo menos de nome. Eterno apaixonado pela música clássica, o compositor tem-se desdobrado ao longo dos anos em programas de televisão e livros (há cerca de um mês lançou a sua obra-prima literária, “Toda a música que conheço”), tendo sempre por motivação maior transmitir essa paixão a quem o ouve. Mas agora os seus dotes de comunicador estão a chegar a um público muito específico: o das empresas.

Fazendo a analogia entre a dinâmica de uma orquestra e uma organização empresarial, Victorino d’Almeida fala para uma plateia de administradores, executivos e trabalhadores no geral, sobre liderança, comunicação e sintonia entre departamentos. Transmitir o espírito que cerca de 100 músicos partilham, quando tocam em determinado concerto, liderados por um único homem, todos em prol de um objectivo comum é, assim, o grande mote da mensagem de motivação que passa para quem assiste às suas palestras.

Já lá vão duas décadas quando Peter Drucker, o guru da gestão, comparou a empresa ideal com o harmonioso funcionamento de uma orquestra. Para uma organização desenvolver a sua actividade de forma rentável e bem oleada, o administrador deverá agir como um maestro, com carisma mas sem repressão e os departamentos como os naipes de músicos, onde o contributo de cada um enriquece o resultado global.

Para António Victorino d’Almeida, que como speaker é representado pela empresa iZi Speakers Bureau, a figura do maestro personifica o líder na melhor acepção da palavra: “Para se ser um bom líder deve-se saber tirar o máximo partido de cada instrumento. E cada instrumento deve tirar o máximo de cada nota. O maestro não é nada sem a sua orquestra”.

Lembrando que os naipes dos músicos são em tudo semelhantes aos departamentos de uma estrutura organizativa, o compositor realça que o importante é que “exista sempre cooperação, ainda que os departamentos funcionem numa permanente alternância de saliência, onde há um momento em que uma unidade ultrapassa outra em importância”.

“Na orquestra quem fala é o maestro”

A ordem e disciplina precisa-se, “sem cair nas regras militaristas”, defende ainda: “Na orquestra quem fala é o maestro e o chefe do naipe. Não é uma hierarquia fascista mas é impossível pôr 100 pessoas a dialogar ao mesmo tempo. A ordem mantém-se mais quanto menos pessoas falarem ao mesmo tempo. É por isso bom que haja responsáveis por cada departamento mas atenção, sem que seja impossível que um segundo trompete ou um segundo funcionário possa transmitir a sua ideia”.

No fundo, o essencial é que as pessoas ganhem a sensibilidade de que “uma estrutura organizada é em tudo semelhante a uma orquestra, onde há trabalho de equipa e onde existe uma hierarquia de responsabilidades. Onde todos contribuem para a mesma estrutura e para o mesmo objectivo, e mesmo o mais apagado, pode ser aquele que assume uma missão de fundamental importância”.

Como aconteceu num episódio, de poucos mas aflitivos segundos, que o maestro gosta de contar, durante um evento que dirigia: “Estava a fazer uma sinfonia concertante e o maestro do coro que nos acompanhava deu uma entrada que não coincidia com a minha. De repente, metade do coro obedeceu a ele e a outra metade a mim. Isso provocou um pequeno caos. Tinha os músicos da orquestra a tocar cada um para seu lado. Nesse momento, tive a sensação de que era uma situação grave. Mas de repente o músico que tocava fliscorne (instrumento de sopro da família dos trompetes) começou a tocar obstinadamente a mesma ‘frase’ que captou a atenção de toda a gente e assim entrámos todos com ele. Naquele ponto X que era necessário”.

Assim, é também esta capacidade de improviso que complementa o perfil de um profissional de sucesso. À semelhança de um músico de uma orquestra, o bom profissional deve ser rigoroso, disciplinado, ter técnica, talento e a tal capacidade de improvisação que pode salvar a situação quando o imprevisto acontece.

Sem papas na língua

Paralelamente às acções motivacionais para as empresas em Portugal, o maestro Vitorino d‘Almeida dá também conferências internacionais através da Izi Palestras Bureau, sobre música clássica. “Nelas, o meu livro vai funcionar como a minha bíblia”, diz o compositor, referindo-se aos dois volumes da obra “Toda a música que eu conheço”, lançados há cerca de um mês pela Oficina do Livro.

Entretanto, o pianista e compositor começou já a preparar a sua autobiografia que promete vir a dar que falar. “Está na altura do país saber como é que as pessoas são tratadas e por quem. Por nos verem na televisão ou a dar entrevistas não significa que nos tratam sempre com respeito. Eu sou estimado por milhões de pessoas mas depois há 30 ‘criaturas’ que me estragam a vida, pois estão espalhadas em postos de comando. Está na altura de pôr isso tudo no papel”, remata, corrosivo o maestro.





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