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Leite de burra faz bem às exportações

Leite de burra faz bem às exportações

Filipe Carvalho e Miguel Carvalho exportam 99% da produção de leite de burra em pó. A Ach Brito é o seu único cliente nacional.
11.05.2012 | Por Marisa Antunes


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Cada a vez mais raro e alvo de crescente procura, o leite de burra, que apresenta grandes semelhanças com o leite materno humano, tem aplicações possíveis na alimentação e indústria cosmética. Estas foram algumas das frases-chave que Filipe Carvalho não conseguiu tirar da cabeça a partir do momento em que as leu, casualmente, numa revista com que matava o tempo numa longa viagem de comboio. A trabalhar numa área comercial ligada à gestão de frotas automóveis, sentia-se a precisar de mudar de vida e aquelas linhas impressas levaram-no a pesquisar, fazer contas, pesar os riscos de um negócio que lhe parecia claramente ter “patas” para andar. Decidiu avançar e, em 2008, nascia a Naturasin – Criação de Gado Asinino, Lda, comprometida com a preservação dos burros de Miranda, a única raça autóctone da espécie, e com a afirmação de um projeto económico com potencial de crescimento. E a verdade é que o leite de burra nacional – em pó liofilizado como produto final – já chega a vários países europeus e, sobretudo à Ásia, dando origem a sabonetes, cremes e artigos similares. Destinos além-fronteiras que absorvem toda a produção (99%), à exceção de uma ínfima parte reservada para a empresa nacional de produtos de luxo Ach Brito.

Para Filipe Carvalho, a Naturasin significou retomar “o lado agrícola” a que um dia quis dar seguimento, antes de enveredar pela Gestão de Empresas. Mas com muito pragmatismo. “Na verdade, nunca tinha tido terras ou animais, nem um cão sequer, e, portanto, percebi que precisava de alguém que me ajudasse nesta área”, conta o empresário, enquadrando a associação com o zootécnico Miguel Carvalho. A escolha do tipo de raça também é simples de explicar: “Por um lado, os asininos de Miranda constituem a única raça autóctone portuguesa de burros, o que dá direito a um subsídio superior; por outro, como foram sempre bem tratados durante a sua existência são dóceis, não dão coices, não mordem…”.

O projeto deu os primeiros passos em parceria com a Escola Superior Agrária de Coimbra, onde se realizaram os muitos estudos necessários para adequar o produto aos fins traçados. “Só que, entretanto, encontrámos um cliente, começámos a vender e precisávamos de faturar. Daí termos avançado para a criação da empresa”, explica o empreendedor. Só a partir do final de 2011 é que ficou concluída a construção da sala de ordenha na pequena unidade de transformação do leite que hoje em dia labora em Coruche. A legalização do negócio também foi demorada. No entanto, o problema que ameaça prolongar-se mais é a falta de matéria-prima.

“Temos um total de cerca de 50 cabeças de gado asinino que inclui um macho garanhão, mais de 20 fêmeas adultas e o resto são crias”, indica Filipe Carvalho. O que se traduz em cerca de 1500 quilos de leite de burra em pó por ano, oferta insuficiente perante a procura. “Acabei de percorrer quase todo o país e só conseguimos comprar uma fêmea da raça autóctone!”, lamenta o empresário, dando conta que os “censos” sobre a espécie em Miranda do Douro apontam para a existência de apenas cerca de 400 fêmeas reprodutoras, com uma idade média muito alta, perto dos 20 anos.

Assim, sendo quase impossível crescer na vertente leiteira, resta investir em maquinaria, para aumentar a capacidade de transformação. Em termos de apoios, a Naturasin tem beneficiado de dois fundos externos (o de Jovem Agricultor e um outro do Proder), os quais, no entanto “estão a terminar”.

BI Empresarial

Promotores:
Filipe Carvalho, 46 anos
Miguel Carvalho, 39 anos

Formação:
Filipe Carvalho é licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto de Novas Profissões e Miguel Carvalho possui bacharelato em Engenharia Técnica de Produção Agropecuária pela Escola Superior Agrária de Beja.

Área de atividade:
Produção de leite de burra. O produto final é o leite de burra em pó liofilizado (a Naturasin produz 1500 quilos de leite de burra em pó por ano).

Data de criação da empresa:
A empresa foi criada em 2008 mas só em novembro de 2011 reuniu todas as condições de instalações.

Público-alvo:
Indústria cosmética.

Investimento inicial:
20 mil euros.

Estratégia de gestão:
“Estar focado nos objetivos da empresa, produzir o máximo ao mínimo custo e vender com uma boa margem. A melhor dica é planear e seguir à risca o orçamento sem nunca permitir desvios que possam pôr em causa a continuidade da empresa”.

Principais dificuldades sentidas:
“A principal dificuldade foi a legalização do negócio, já que as burras não eram consideradas animais produtores de leite e conseguir enquadramento legal para isso foi um processo muito difícil e longo”, diz Filipe Carvalho.

Sítio online:
www.naturasin.pt



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