Fernanda Pedro e Marisa Antunes
Os estudantes portugueses ainda são muito avessos a recorrer ao crédito bancário para financiar os seus estudos. A grande maioria acaba por se socorrer dos pais, onde o dinheiro emprestado não vence juros. Ainda assim, existe uma oferta crescente de soluções financeiras por parte dos bancos, para todos aqueles que não têm outra forma de pagar as propinas da licenciatura, pós-graduação, mestrado ou doutoramento.
De acordo com Pedro Ferreira, director dos serviços de administração escolar da Universidade Lusíada, o programa de financiamento dos bancos é pouco utilizado pelos jovens. "Temos acordos com todos os bancos que têm programas de crédito. Divulgamos junto dos nossos alunos, e no nosso "site". Aí, temos todas as informações sobre as condições propostas pelas instituições bancárias mas a adesão é pouca, os alunos fogem muito a esse tipo de crédito", explica Pedro Ferreira.
O responsável refere ainda que essas linhas de financiamento abrangem também a compra de material escolar, tais como os computadores. "Os juros são baixíssimos e estas condições vêm diminuir o esforço financeiro das famílias e também facilitaria as universidades, já que por vezes, temos alunos que desistem por falta condições de pagamento", revela Pedro Ferreira.
Estudos de mercado requeridos pelo Banco Espírito Santo (BES) confirmaram também a pouca apetência dos universitários para estes créditos. Como realça fonte comunicacional do Gabinete Universidades do BES, "para os estudantes portugueses a principal preocupação é não criar encargos, sendo o crédito encarado como último recurso". Isto apesar do custo anual de um curso numa universidade estatal poder chegar aos 920 euros e, numa privada, a propina mensal rondar os 300 euros. Quem resolver investir na sua educação superior e ir além da licenciatura pode desembolsar até 25 mil euros (no caso dos doutoramentos).
José Moraes Gomes, director de "marketing" estratégico do BPI lembra ainda que este mercado de crédito está menos desenvolvido do que nos Estados Unidos ou no Reino Unido. "Até porque os custos de licenciaturas em Portugal são consideravelmente menores que nesses países", refere o responsável do BPI, cujo "crédito formação" tem protocolo com seis universidades de Lisboa, Porto e Coimbra.
Ainda assim, a remodelação dos cursos implícita no Tratado de Bolonha e a evolução do mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e com maior procura por quadros altamente qualificados, ao nível das pós-licenciaturas, tem levado as instituições de crédito a apostar forte nesta área.
É o caso do Banco Santander/Totta, por exemplo, que lançou uma solução pensada e criada especificamente para financiamento de cursos de ensino superior, público ou privado, universitário ou politécnico que permitirá a estudantes uma independência dos seus rendimentos. Trata-se de um sistema de crédito que tem como base um compromisso entre o estudante e o Banco. Este compromete-se a disponibilizar os fundos ao aluno até este terminar o curso, só exigindo o começo do reembolso um ano após o final dos estudos.
Segundo fonte da instituição bancária, o banco disponibilizará 130 milhões de euros em cinco anos, permitindo o financiamento dos estudos a 1000 alunos por ano no ensino superior.
Apesar das facilidades bancárias, o especialista da DECO, Vinay Pranjivan alerta os interessados no crédito, para "tentarem primeiro o financiamento junto de familiares (ainda que a troco de uma remuneração líquida acordada, por exemplo, de 3% ao ano), ou das empresas onde trabalham (estas dispõem de verbas para o efeito, pois são obrigadas a proporcionar todos os anos, formação a 10% dos funcionários do quadro)".
Não sendo possível nenhuma destas opções, deve-se então recorrer aos bancos e tentar receber o capital de forma faseada, em "tranches", pois assim paga-se menos juros. Esta opção nem sempre é permitida pelas instituições bancárias, mas pode ser feita, por exemplo, no BPI ou no grupo Agrícola.