Cátia Mateus
JOANA Mota de Castro cresceu em contacto com a natureza e com o mundo
agrícola. Filha de um professor de viticultura, a paixão
pela produção vinícola foi algo natural. Licenciou-se
em Ciências Agrárias, pela Universidade do Porto e, aos 29
anos, personaliza a nova vaga dos agricultores portugueses, gerindo a
produção de vinhos da Quinta de Lourosa, em Lousada.
O seu caso não é único. Cada vez
mais qualificados e em busca constante pela actualização
de conhecimentos e novas práticas, os jovens agricultores portugueses
são ainda em número reduzido mas, segundo Firmino Cordeiro,
presidente da Associação de Jovens Agricultores Portugueses
(AJAP), «traçam já um novo caminho para o sector
em Portugal». Poucos, mas bons, os novos agricultores prometem,
segundo aquele responsável, trazer ao sector mais profissionalismo
e visão de mercado.
Joana Mota de Castro concorda que em Portugal é ainda pouco comum
encontrar uma mulher - principalmente jovem - ligada aos vinhos. Contudo,
isso nunca a impediu de apostar no sector, mesmo reconhecendo que, «por
vezes é difícil fazer-me levar a sério neste sector».
A sua aposta no mundo dos vinhos é resultado de uma «paixão»
cultivada na família. Quando concluiu a licenciatura, trabalhou
na Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes
(CVRVV), mas nunca desistiu da ideia de transformar a Quinta de Lourosa
(propriedade da família) numa produção própria.
Em 2001, resolveu dar o grande passo. Investiu cerca de 600 mil contos
(financiados parcialmente pelo Programa AGRO) e plantou 20 hectares
de vinha. Hoje, gere todo o trabalho na quinta desde a parte vitícola,
à enológica, comercialização de produtos
e turismo. Para Joana, «o mais difícil nesta actividade
ainda é a divulgação dos produtos». Esta
jovem agricultora afirma que a burocracia é muita e difícil
de vencer. «Há inúmeras entidades no sector,
elas próprias não se entendem e não sabemos a quem
nos dirigir», explica. Na Quinta de Lourosa trabalham cinco
pessoas. Um número reduzido devido ao forte investimento em tecnologia
feito no arranque do projecto.
Joana Mota de Castro confessa que a dedicação a esta produção
lhe deixa pouco tempo para a vida pessoal. Mas se há coisa que
não dispensa é uma aposta contínua na formação,
«até para minimizar os riscos associados à actividade».
Ao longo dos anos tem vindo a capitalizar pós-graduações
na área e está a concluir o mestrado em Viticultura e
Enologia, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
É esta visão de constante aperfeiçoamento e credibilização
do sector agrícola que para Firmino Cordeiro mais caracteriza
a nova vaga de jovens agricultores. Segundo o presidente da AJAP, «Portugal
apresenta a mais baixa percentagem da Europa de jovens a operar neste
sector, totalizando apenas 3% do total dos agricultores no activo».
Firmino Cordeiro salienta que «não é fácil
ser jovem agricultor em Portugal» e são vários
os condicionalismos existentes. Apostar neste sector com profissionalismo
e visão de negócio, exige um investimento avultado e «ainda
há poucos apoios para esta que é uma actividade de risco,
desenvolvida maioritariamente ao ar livre e em meios rurais».
O responsável avança que «é fundamental
promover esforços para inverter a tendência de marginalização
da agricultura e torná-la um sector mais apetecível para
os jovens». Mas mesmo com estas contingências, Firmino
Cordeiro não nega que «apesar de tudo, o sector consegue
atrair jovens muito profissionais, abertos à mudança e
evolução tecnológica e com fortes potencialidades
para redinamizar a agricultura nacional».
Uma opinião partilhada pelo jovem Santos Maia, que trocou um
emprego no sector comercial pela vida de agricultor. Em 1994 deixou
o Porto, onde trabalhava, e rumou a Barcelos para criar a Lusoflor.
Recorreu a fundos comunitários para a criação e
equipamento de estufas para produção de rosas. «Depois
de vultosos investimentos, a empresa abriu, embora com dois anos de
atraso por causa da burocracia», explica.
Na Lusoflor trabalham cerca de 12 pessoas. Toda a produção
da empresa é absorvida pelo mercado nacional e o pico da actividade
ocorre durante Inverno. Santos Maia aponta o dedo à falta de
incentivos para a modernização do sector, adiantando que
«montar tecnicamente uma estufa destas não é
barato e os apoios existentes são escassos». Produzir
mais e com melhor qualidade é a meta do floricultor.
Na verdade, embora o número de jovens agricultores em Portugal
seja reduzido, o interesse por esta área de negócio parece
apresentar sinais de vitalidade. No ano passado, a Associação
Nacional de Jovens Empresários (ANJE) criou a primeira edição
do curso de formação Jovens Empresários Agrícolas
(JEA). As inscrições foram tantas que foi elaborada uma
lista de espera para edição deste ano.
Para Carlos Freitas, director do Departamento de Ensino e Formação
da ANJE, «este interesse revela que há uma nova geração
de agricultores em ressurgimento, mais profissional e que vê a
formação como uma mais-valia para o sucesso dos seus projectos».
O JEA, que resulta de uma parceria com a Direcção Regional
de Agricultura, foca temas como a criação de empresas,
a avaliação de projectos de investimento, a certificação
de produtos agrícolas, a criatividade e inteligência emocional,
a ética empresarial, gestão de RH, internacionalização
ou «marketing» agro-alimentar. Do sucesso do programa, Carlos
Freitas retira a ideia de que «o sector agrícola está
a modernizar-se e a rejuvenescer».
Apoios para viver da terra
EM PORTUGAL existem alguns apoios para os jovens que queiram fazer
da agricultura uma actividade permanente. Conheça algumas das
ajudas de que pode beneficiar se este for o seu caso.
- Programa Agro (medida 1): Ajuda financeiramente os jovens que
se queiram instalar pela primeira vez na agricultura e os agricultores
que queiram modernizar, reconverter ou diversificar as suas explorações
agrícolas. Para saber como aceder a este apoio deverá
consultar o sítio do Ministério da Agricultura em www.min-agricultura.pt
- Imposto Municipal sobre Transmissões de Imóveis (IMT):
Os jovens agricultores podem também beneficiar de isenção
de IMT na aquisição de prédios rústicos
que se destinem à sua primeira instalação, até
ao valor de 80 mil euros.
- Intervenção Reforma Antecipada: Está prevista
a atribuição de 1200 euros ao agricultor cessante que
tenha como concessionário um jovem agricultor em regime de primeira
instalação.