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Jovens & agricultores

08.04.2005


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Cátia Mateus

JOANA Mota de Castro cresceu em contacto com a natureza e com o mundo agrícola. Filha de um professor de viticultura, a paixão pela produção vinícola foi algo natural. Licenciou-se em Ciências Agrárias, pela Universidade do Porto e, aos 29 anos, personaliza a nova vaga dos agricultores portugueses, gerindo a produção de vinhos da Quinta de Lourosa, em Lousada.

O seu caso não é único. Cada vez mais qualificados e em busca constante pela actualização de conhecimentos e novas práticas, os jovens agricultores portugueses são ainda em número reduzido mas, segundo Firmino Cordeiro, presidente da Associação de Jovens Agricultores Portugueses (AJAP), «traçam já um novo caminho para o sector em Portugal». Poucos, mas bons, os novos agricultores prometem, segundo aquele responsável, trazer ao sector mais profissionalismo e visão de mercado.

Joana Mota de Castro concorda que em Portugal é ainda pouco comum encontrar uma mulher - principalmente jovem - ligada aos vinhos. Contudo, isso nunca a impediu de apostar no sector, mesmo reconhecendo que, «por vezes é difícil fazer-me levar a sério neste sector».

A sua aposta no mundo dos vinhos é resultado de uma «paixão» cultivada na família. Quando concluiu a licenciatura, trabalhou na Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), mas nunca desistiu da ideia de transformar a Quinta de Lourosa (propriedade da família) numa produção própria.

Em 2001, resolveu dar o grande passo. Investiu cerca de 600 mil contos (financiados parcialmente pelo Programa AGRO) e plantou 20 hectares de vinha. Hoje, gere todo o trabalho na quinta desde a parte vitícola, à enológica, comercialização de produtos e turismo. Para Joana, «o mais difícil nesta actividade ainda é a divulgação dos produtos». Esta jovem agricultora afirma que a burocracia é muita e difícil de vencer. «Há inúmeras entidades no sector, elas próprias não se entendem e não sabemos a quem nos dirigir», explica. Na Quinta de Lourosa trabalham cinco pessoas. Um número reduzido devido ao forte investimento em tecnologia feito no arranque do projecto.

Joana Mota de Castro confessa que a dedicação a esta produção lhe deixa pouco tempo para a vida pessoal. Mas se há coisa que não dispensa é uma aposta contínua na formação, «até para minimizar os riscos associados à actividade». Ao longo dos anos tem vindo a capitalizar pós-graduações na área e está a concluir o mestrado em Viticultura e Enologia, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

É esta visão de constante aperfeiçoamento e credibilização do sector agrícola que para Firmino Cordeiro mais caracteriza a nova vaga de jovens agricultores. Segundo o presidente da AJAP, «Portugal apresenta a mais baixa percentagem da Europa de jovens a operar neste sector, totalizando apenas 3% do total dos agricultores no activo».

Firmino Cordeiro salienta que «não é fácil ser jovem agricultor em Portugal» e são vários os condicionalismos existentes. Apostar neste sector com profissionalismo e visão de negócio, exige um investimento avultado e «ainda há poucos apoios para esta que é uma actividade de risco, desenvolvida maioritariamente ao ar livre e em meios rurais».

O responsável avança que «é fundamental promover esforços para inverter a tendência de marginalização da agricultura e torná-la um sector mais apetecível para os jovens». Mas mesmo com estas contingências, Firmino Cordeiro não nega que «apesar de tudo, o sector consegue atrair jovens muito profissionais, abertos à mudança e evolução tecnológica e com fortes potencialidades para redinamizar a agricultura nacional».

Uma opinião partilhada pelo jovem Santos Maia, que trocou um emprego no sector comercial pela vida de agricultor. Em 1994 deixou o Porto, onde trabalhava, e rumou a Barcelos para criar a Lusoflor. Recorreu a fundos comunitários para a criação e equipamento de estufas para produção de rosas. «Depois de vultosos investimentos, a empresa abriu, embora com dois anos de atraso por causa da burocracia», explica.

Na Lusoflor trabalham cerca de 12 pessoas. Toda a produção da empresa é absorvida pelo mercado nacional e o pico da actividade ocorre durante Inverno. Santos Maia aponta o dedo à falta de incentivos para a modernização do sector, adiantando que «montar tecnicamente uma estufa destas não é barato e os apoios existentes são escassos». Produzir mais e com melhor qualidade é a meta do floricultor.

Na verdade, embora o número de jovens agricultores em Portugal seja reduzido, o interesse por esta área de negócio parece apresentar sinais de vitalidade. No ano passado, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) criou a primeira edição do curso de formação Jovens Empresários Agrícolas (JEA). As inscrições foram tantas que foi elaborada uma lista de espera para edição deste ano.

Para Carlos Freitas, director do Departamento de Ensino e Formação da ANJE, «este interesse revela que há uma nova geração de agricultores em ressurgimento, mais profissional e que vê a formação como uma mais-valia para o sucesso dos seus projectos».

O JEA, que resulta de uma parceria com a Direcção Regional de Agricultura, foca temas como a criação de empresas, a avaliação de projectos de investimento, a certificação de produtos agrícolas, a criatividade e inteligência emocional, a ética empresarial, gestão de RH, internacionalização ou «marketing» agro-alimentar. Do sucesso do programa, Carlos Freitas retira a ideia de que «o sector agrícola está a modernizar-se e a rejuvenescer».

Apoios para viver da terra

EM PORTUGAL existem alguns apoios para os jovens que queiram fazer da agricultura uma actividade permanente. Conheça algumas das ajudas de que pode beneficiar se este for o seu caso.
- Programa Agro (medida 1): Ajuda financeiramente os jovens que se queiram instalar pela primeira vez na agricultura e os agricultores que queiram modernizar, reconverter ou diversificar as suas explorações agrícolas. Para saber como aceder a este apoio deverá consultar o sítio do Ministério da Agricultura em www.min-agricultura.pt
- Imposto Municipal sobre Transmissões de Imóveis (IMT): Os jovens agricultores podem também beneficiar de isenção de IMT na aquisição de prédios rústicos que se destinem à sua primeira instalação, até ao valor de 80 mil euros.
- Intervenção Reforma Antecipada: Está prevista a atribuição de 1200 euros ao agricultor cessante que tenha como concessionário um jovem agricultor em regime de primeira instalação.





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