Diogo Archer
LICENCIADO em economia, Jean Gomes deu aulas na universidade
Nova de Lisboa, onde tirou igualmente o mestrado na especialidade. Multifacetado,
este luso-francês tem igualmente na música parte integrante
da sua vida. "Comecei a tocar piano desde os seis anos e desde
então não me imagino sem instrumentos à minha volta",
salienta. Aos 18 anos acabou por optar por uma formatura em economia,
deixando os concertos temporariamente de lado. Actualmente a tirar um
doutoramento em Economia na University College of London, o seu regresso
à música era "inevitável", estando igualmente
a estudar violino na orquestra da BBC.
Economista atento, apercebeu-se de um "vazio" no panorama
musical português, nomeadamente a "falta de espaço
para os músicos portugueses nas orquestras nacionais e a falta
de flexibilidade destas". Foi com base nesta realidade que
Jean Gomes fundou em Setembro de 2003 a Orquestra do Tejo, a primeira
orquestra-empresa portuguesa.
"É um projecto à medida do cliente, versátil
e composto exclusivamente por músicos portugueses, oriundos por
exemplo da Escola Superior de Música e da Orquestra Metropolitana
de Lisboa", refere o empreendedor.
Uma empresa original
A originalidade da empresa passa pela sua composição e
repertório, que abrange desde a música barroca ao período
romântico, passando por os tangos de Piazzolla até às
canções dos Beatles.
De acordo com o economista não existe um maestro fixo, dependendo
a sua escolha do programa apresentado para cada ocasião, bem
como a estrutura da orquestra que irá actuar, do quarteto das
cordas até à formação sinfónica.
Os clientes-alvo passam pelas identidades públicas, empresas
e privados que pretendam promover acontecimentos. Um exemplo foi a realização
de um jantar comemorativo do Banco Espírito Santo (BES) onde
foi contratada uma parte da orquestra para actuar.
Natural de Lyon, Jean Gomes optou, todavia, pela nacionalidade portuguesa.
Monárquico assumido, realça como desígnios da sua
orquestra o "assumir da herança histórica de um
glorioso passado português". De acordo com o ex-professor,
desde o tempo de D. João V que a educação musical
é tradição na sociedade lusitana.
Nomeadamente, foi por desejo do monarca que se formou, durante o seu
reinado, a "maior e, muito possivelmente, melhor orquestra do
mundo da época, que actuava num edifício conhecido como
Ópera do Tejo", inspiradora do seu empreendimento.
Relativamente aos músicos portugueses destaca que "existem
vários que actuam em orquestras de nível mundial, em países
como a França, Inglaterra e Alemanha".
O problema é a falta de espaço em Portugal para os recém-licenciados
em música, originando uma "oferta generosa em quantidade
e principalmente em qualidade". A solução passa
muitas vezes por uma carreira no exterior, onde alguns têm feito
bastante sucesso.
É neste quadro que surge a aposta da Orquestra do Tejo, captando
jovens músicos orientados por gestores profissionais. Quanto
a Jean Gomes, actualmente a residir em Londres, as novas tecnologias,
como os telemóveis, a videoconferência e o "e-mail"
asseguram-lhe um contacto permanente com a sua equipa em Lisboa.