Fernanda Pedro
A FORMAÇÃO é um investimento que
traz benefícios positivos para as empresas de trabalho temporário
(ETT). De uma forma geral, as empresas admitem que a aposta na formação
revela uma melhoria substancial nos resultados dos negócios.
Esta é a conclusão a que chegam as ETT
que cumprem a legislação em vigor. De facto, o Art.º
5º do Estatuto da Inspecção Geral do Trabalho - Decreto-lei
102/2000 de 2 de Junho, obriga todas as ETT a aplicarem 1% do seu volume
de negócios, na formação profissional.
Apesar de todas as empresas contactadas referirem que promovem a formação
junto dos seus trabalhadores, nem todos concordam com a legislação
em vigor. Francisco Jorge, administrador da Flexilabor, empresa de recursos
humanos que actua na área do trabalho temporário, é
um dos responsáveis que discorda desta disposição
legal, "porque a formação profissional integra a
nossa actividade e constitui uma das várias componentes, talvez
a mais significativa da qualidade de serviço".
Para Francisco Jorge, a lei está mal formulada: "Quando
se diz que as ETT devem afectar à formação profissional
dos trabalhadores temporário 1% dos seu volume anual de negócios,
esqueceram-se que no volume de vendas das ETT estão incluídos
outros negócios, que resultam do seu objectivo social".
O responsável alega ainda não ser justo que os resultados
da exploração desses mesmos negócios sirvam para
afectar verbas à formação dos trabalhadores temporários.
Além disso, o administrador da Flexilabor reforça ainda
esta ideia quando revela que a lei não regulamenta a formação
e não apresenta uma estratégia concreta. "Por isso
estou convencido que pouco ou nada se tem feito nesta área",
admite.
Contudo, a Flexilabor investe na formação dos seus trabalhadores.
"Além das áreas gerais e transversais à nossa
actividade, nomeadamente o atendimento comportamental e tecnologias de
informação, procuramos sempre desenvolver formação
específica consoante as necessidades dos nossos clientes",
salienta o administrador.
A formação na Flexilabor é avaliada, por um lado,
segundo o grau de satisfação e a capacidade de aprendizagem
dos colaboradores e por outra o seu impacto nas empresas clientes. "A
avaliação é feita através de vários
instrumentos de medição quer qualitativa quer quantitativa
sempre suportados por amostragens significativas. Os benefícios
têm sempre uma relação directa com o grau de satisfação
do cliente o que consubstancia no seu processo de fidelização",
assegura.
Melhorar o negócio
Também para Afonso Baptista, presidente da Multipessoal, uma empresa
que trabalha na área do TT, os benefícios da formação
encontram-se na melhoria do negócio. "A formação
é um investimento com retorno e a análise desse retorno
baseia-se nos resultados das empresas", afirma o responsável.
Para comprovar esta teoria, Afonso Baptista revela que a empresa já
ultrapassou 11% dos objectivos previstos para o primeiro trimestre deste
ano e 149% em relação ao mesmo período no ano transacto.
"Como se pode ver os benefícios estão espelhados
na melhoria do negócio", salienta.
Na verdade, para Afonso Baptista a estratégia da Multipessoal passa
por ter a empresa minimamente organizada e para alcançar esse objectivo
procura adequar o perfil dos trabalhadores para o desempenho das funções
para as quais foram contratados. "Daí que, nos preocupamos
com a formação de integração, onde são
reveladas os valores, as regras e o funcionamento da empresa. Depois disso,
existem acções de formação interna e externa,
de uma forma contínua. Há uma preocupação
para a melhoria do desempenho dos nossos trabalhadores. Seguimos a teoria
da 'empresa em permanente aprendizagem'", explica.
Mas os benefícios da formação podem ser múltiplos.
Blas Oliver, director geral da Adecco, refere que não são
somente os financeiros para os negócios, uma vez que existem outros,
"neste caso, sociais, para os trabalhadores, para as empresas-clientes
e também para o Estado".
Este responsável, explica que, através da formação
ministrada na área da segurança e higiene se reduzem os
acidentes de trabalho e o custo que estes têm em termos de absentismo
para a Segurança Social. Também quando formam perfis que
não estão no mercado estão a incrementar a empregabilidade
de quem procura emprego, geralmente jovens e grupos desfavorecidos colaborando
com a redução do desemprego e portanto também do
custo que este tem para o Estado, na forma de subsídio.
Por último, Blas Oliver, salienta que "a formação
técnica inicial que fazemos para muitos dos nossos trabalhadores
quando começam a laborar numa empresa favorecem em muito a integração
do trabalhador e maximiza a sua produtividade inicial".
É por estes motivos que a Adecco, leva muito a sério esta
matéria e a avaliação da formação é
realizada de forma rigorosa. Ana Alves, responsável pela formação
da empresa, explica que a avaliação poderá variar
muito em função dos módulos de formação
ministrados, do grupo de formandos e da própria estrutura de cada
acção.
E o que é avaliado depende dos objectivos, mas de acordo com Ana
Alves, são, sobretudo, "os conhecimentos adquiridos em
cada acção, o cumprimento dos objectivos e a aplicabilidade
que a acção terá no desempenho da função".
Tornar as empresas competitivas
Também a Manpower portuguesa aplica 1% do seu volume de negócios
na formação. Marcelino Pena Costa, presidente da empresa,
assegura que há mais de 30 anos que estimula e promove a formação
profissional dos seus trabalhadores internos e temporários e que
só assim pode tornar a empresa competitiva e capaz de responder
aos desafios da sua carteira de clientes. "A formação
interna da empresa 'auto-formação e formação
presencial com formadores' abrange diversas áreas e sempre que
necessário contratamos formação externa",
esclarece.
Marcelino Pena Costa, considera ainda a formação profissional
como um investimento da empresa e estimula os seus colaboradores a fazerem
o mesmo. "A formação dada a candidatos e a trabalhadores
temporários é um investimento seguro pois traduz-se num
benefício evidente no nosso negócio. As empresas utilizadoras
podem medir a produtividade dos nossos colaboradores temporários
e compará-la com a dos outros e assim verificarem que, elas também,
beneficiaram desse nosso investimento", garante o responsável.
Mas ao contrário de Francisco Jorge da Flexilabor, o presidente
da Manpower é de opinião que a lei é clara quanto
às questões da formação dos trabalhadores
temporários e que não precisa de ser regulada a utilização
dessas verbas para a legislação ser cumprida.
"Lamentamos que empresas de TT com responsabilidade no mercado, não
vejam o interesse deste tipo de investimento e encontrem subterfúgios
para a fuga às suas responsabilidades empresariais e sociais, numa
pretensa falta de regulamentação de como devem gastar o
seu dinheiro, vindo a pedir uma intervenção do Estado, numa
questão simples da gestão empresarial", conclui.