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Investir na formação é lucrativo

02.05.2003


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Fernanda Pedro

A FORMAÇÃO é um investimento que traz benefícios positivos para as empresas de trabalho temporário (ETT). De uma forma geral, as empresas admitem que a aposta na formação revela uma melhoria substancial nos resultados dos negócios.

 

 


Esta é a conclusão a que chegam as ETT que cumprem a legislação em vigor. De facto, o Art.º 5º do Estatuto da Inspecção Geral do Trabalho - Decreto-lei 102/2000 de 2 de Junho, obriga todas as ETT a aplicarem 1% do seu volume de negócios, na formação profissional.

Apesar de todas as empresas contactadas referirem que promovem a formação junto dos seus trabalhadores, nem todos concordam com a legislação em vigor. Francisco Jorge, administrador da Flexilabor, empresa de recursos humanos que actua na área do trabalho temporário, é um dos responsáveis que discorda desta disposição legal, "porque a formação profissional integra a nossa actividade e constitui uma das várias componentes, talvez a mais significativa da qualidade de serviço".

Para Francisco Jorge, a lei está mal formulada: "Quando se diz que as ETT devem afectar à formação profissional dos trabalhadores temporário 1% dos seu volume anual de negócios, esqueceram-se que no volume de vendas das ETT estão incluídos outros negócios, que resultam do seu objectivo social".

O responsável alega ainda não ser justo que os resultados da exploração desses mesmos negócios sirvam para afectar verbas à formação dos trabalhadores temporários. Além disso, o administrador da Flexilabor reforça ainda esta ideia quando revela que a lei não regulamenta a formação e não apresenta uma estratégia concreta. "Por isso estou convencido que pouco ou nada se tem feito nesta área", admite.

Contudo, a Flexilabor investe na formação dos seus trabalhadores. "Além das áreas gerais e transversais à nossa actividade, nomeadamente o atendimento comportamental e tecnologias de informação, procuramos sempre desenvolver formação específica consoante as necessidades dos nossos clientes", salienta o administrador.

A formação na Flexilabor é avaliada, por um lado, segundo o grau de satisfação e a capacidade de aprendizagem dos colaboradores e por outra o seu impacto nas empresas clientes. "A avaliação é feita através de vários instrumentos de medição quer qualitativa quer quantitativa sempre suportados por amostragens significativas. Os benefícios têm sempre uma relação directa com o grau de satisfação do cliente o que consubstancia no seu processo de fidelização", assegura.

Melhorar o negócio

Também para Afonso Baptista, presidente da Multipessoal, uma empresa que trabalha na área do TT, os benefícios da formação encontram-se na melhoria do negócio. "A formação é um investimento com retorno e a análise desse retorno baseia-se nos resultados das empresas", afirma o responsável.

Para comprovar esta teoria, Afonso Baptista revela que a empresa já ultrapassou 11% dos objectivos previstos para o primeiro trimestre deste ano e 149% em relação ao mesmo período no ano transacto. "Como se pode ver os benefícios estão espelhados na melhoria do negócio", salienta.

Na verdade, para Afonso Baptista a estratégia da Multipessoal passa por ter a empresa minimamente organizada e para alcançar esse objectivo procura adequar o perfil dos trabalhadores para o desempenho das funções para as quais foram contratados. "Daí que, nos preocupamos com a formação de integração, onde são reveladas os valores, as regras e o funcionamento da empresa. Depois disso, existem acções de formação interna e externa, de uma forma contínua. Há uma preocupação para a melhoria do desempenho dos nossos trabalhadores. Seguimos a teoria da 'empresa em permanente aprendizagem'", explica.

Mas os benefícios da formação podem ser múltiplos. Blas Oliver, director geral da Adecco, refere que não são somente os financeiros para os negócios, uma vez que existem outros, "neste caso, sociais, para os trabalhadores, para as empresas-clientes e também para o Estado".

Este responsável, explica que, através da formação ministrada na área da segurança e higiene se reduzem os acidentes de trabalho e o custo que estes têm em termos de absentismo para a Segurança Social. Também quando formam perfis que não estão no mercado estão a incrementar a empregabilidade de quem procura emprego, geralmente jovens e grupos desfavorecidos colaborando com a redução do desemprego e portanto também do custo que este tem para o Estado, na forma de subsídio.

Por último, Blas Oliver, salienta que "a formação técnica inicial que fazemos para muitos dos nossos trabalhadores quando começam a laborar numa empresa favorecem em muito a integração do trabalhador e maximiza a sua produtividade inicial".

É por estes motivos que a Adecco, leva muito a sério esta matéria e a avaliação da formação é realizada de forma rigorosa. Ana Alves, responsável pela formação da empresa, explica que a avaliação poderá variar muito em função dos módulos de formação ministrados, do grupo de formandos e da própria estrutura de cada acção.

E o que é avaliado depende dos objectivos, mas de acordo com Ana Alves, são, sobretudo, "os conhecimentos adquiridos em cada acção, o cumprimento dos objectivos e a aplicabilidade que a acção terá no desempenho da função".

Tornar as empresas competitivas

Também a Manpower portuguesa aplica 1% do seu volume de negócios na formação. Marcelino Pena Costa, presidente da empresa, assegura que há mais de 30 anos que estimula e promove a formação profissional dos seus trabalhadores internos e temporários e que só assim pode tornar a empresa competitiva e capaz de responder aos desafios da sua carteira de clientes. "A formação interna da empresa 'auto-formação e formação presencial com formadores' abrange diversas áreas e sempre que necessário contratamos formação externa", esclarece.

Marcelino Pena Costa, considera ainda a formação profissional como um investimento da empresa e estimula os seus colaboradores a fazerem o mesmo. "A formação dada a candidatos e a trabalhadores temporários é um investimento seguro pois traduz-se num benefício evidente no nosso negócio. As empresas utilizadoras podem medir a produtividade dos nossos colaboradores temporários e compará-la com a dos outros e assim verificarem que, elas também, beneficiaram desse nosso investimento", garante o responsável.

Mas ao contrário de Francisco Jorge da Flexilabor, o presidente da Manpower é de opinião que a lei é clara quanto às questões da formação dos trabalhadores temporários e que não precisa de ser regulada a utilização dessas verbas para a legislação ser cumprida.

"Lamentamos que empresas de TT com responsabilidade no mercado, não vejam o interesse deste tipo de investimento e encontrem subterfúgios para a fuga às suas responsabilidades empresariais e sociais, numa pretensa falta de regulamentação de como devem gastar o seu dinheiro, vindo a pedir uma intervenção do Estado, numa questão simples da gestão empresarial"
, conclui.



 





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