Idiomas à prova de desemprego
A adversidade económica nacional e o aumento da taxa de desemprego nacional que já soma 15,7%, estão a levar os portugueses a tentarem novas oportunidades de trabalho além- fronteiras. São cada vez mais os profissionais que procuram as escolas de línguas para aprender ou aperfeiçoar um novo idioma e rumar a outras paragens.
13.09.2012 | Por Cátia Mateus
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No último ano, a Oxford School assistiu a um novo fenómeno na realidade do ensino de idiomas em Portugal. Depois de décadas a centrar o seu ensino num público maioritariamente composto por estudantes e profissionais, os desempregados e potenciais emigrantes ganharam terreno na aprendizagem de novos idiomas. Rosário Figueiredo, gerente da Oxrford School, fala num aumento na ordem dos 40% na procura de cursos de alemão e na imensa afluência de alguns grupos profissionais, onde a emigração é cada vez mais uma realidade, como os enfermeiros ou engenheiros. A escola recebeu no último ano dezenas de profissionais que de forma autónoma ou até organizando-se em grupo solicitaram cursos específicos de primeiro contacto com um novo idioma. A meta era clara: aprender o máximo possível, no mínimo tempo possível com o objetivo de rumar ao estrangeiro para trabalhar. Mas o fenómeno não se deu apenas desta escola. A procura dos cursos de línguas está a aumentar de forma generalizada entre os portugueses que são, cada vez mais, profissionais à escala global.
Alemão, inglês, francês e espanhol continuam a ser os idiomas mais procurados pelos portugueses e nos últimos meses o número de alunos tem sofrido acréscimos na ordem dos 20 a 40%. Muito se tem dito sobre a emergência da aprendizagem de novos idiomas como o mandarim, mas é o alemão que parece estar a dominar a estratégia de internacionalização dos profissionais portuguesese. A necessidade de procurar oportunidades profissionais fora de Portugal, tem conduzido às escolas de línguas centenas de profissionais em situação de desemprego ou em fase de reciclagem profissional. Os habituas cursos de verão deixa clara a tendência, pelo seu elevado nível de afluência.
“Os profissionais portugueses estão claramente a investir na aprendizagem de novos idiomas”. A afirmação é da gerente da Oxford School que enfatiza que além do aumento na procura de cursos, “há também um crescimento notório nos pedidos de certificados para apresentar em entidades empregadoras no estrangeiro e também nas inscrições para exames”. Depois de anos de reinado da língua inglesa, a procura pelos cursos de alemão não tem parado de crescer. Um fenómeno que para Rosário Figueiredo, está claramente relacionado com as oportunidades de trabalho que o país o país tem estado a gerar e com as missões de recrutamento que as empresas alemãs têm estado a liderar em Portugal. “No último verão tivemos muitos alunos, sobretudo enfermeiros e engenheiros, em cursos de iniciação ao alemão que procuravam um primeiro contacto com a língua e um domínio rápido dos conceitos básicos, com o claro objetivo de trabalhar no país”, explica a responsável.
Na Oxford School o inglês também regista procura, “sobretudo nos níveis mais avançados e mais profissionais”. A gerente da escola não tem dúvidas que a emigração e as carreiras mais globais estão a consolidar uma nova era nas escolas de idiomas e reforça que para o ano letivo que agora se vai iniciar, a escola já perspetiva um crescimento de 25% no número de alunos inscritos.
E a tendência é também extensível ao espanhol. No Instituto Espanhol de Línguas, o aumento do número de alunos não é uma realidade recente. Nos últimos dois a três anos, o crescimento teve um “boom”, mas o que tem espantado Pablo Moreno, o diretor da escola, é a duração da frequência dos alunos e o seu perfil. “Temos um perfil de alunos entre os 25 e os 35 anos, maioritariamente jovens profissionais, com estudos superiores, mas começa a existir um número cada vez maior de estudantes que estão em situação de desemprego e apostam na sua valorização linguística como forma de alcançar novas oportunidades laborais”, explica Pablo Moreno. O diretor é contudo cauteloso em atribuir o crescimento da procura nos cursos da escola, exclusivamente, ao flagelo do desemprego nacional, adiantando até que “os alunos dedicam mais tempo à aprendizagem do idioma. Não é uma aprendizagem rápida”, mas assume: “temos notado uma grande afluência de profissionais que procuram aprender espanhol, porque vão trabalhar para o estrangeiro”.
Pablo Moreno reconhece que a necessidade de emigrar e procurar novas alternativas conduz à procura de novos modelos de ensino de idiomas. O Instituto Espanhol de Línguas já formou mais de dois mil alunos nos últimos anos. Motivações culturais, académicas e laborais justificam a maioria das inscrições nesta escola que também recebe pedidos de empresas para dar formação aos seus colaboradores.
“O espanhol é uma ferramenta de trabalho importante, sobretudo para empresas portuguesas com objetivos no mercado espanhol, empresas espanholas com interesses ou infra-estruturas em Portugal e multinacionais com organizações a nível ibérico”, explica o diretor. Mas a instituição também considera importante apoiar os desempregados no regresso ao mercado de trabalho e ao perceber a tendência crescente do número de alunos em situação de desemprego, o instituto criou o Curso de Espanhol para Desempregados, com o objetivo de “capacitar as pessoas que se encontram em situação de desemprego com a aprendizagem do espanhol que é cada vez mais um requisito obrigatório nas ofertas de emprego”, reforça Pablo Moreno que viu a afluência aos seus cursos aumentar 20% no último ano.
O crescimento do número de adultos a aprenderem um novo idioma, foi particularmente notório nos cursos intensivos de verão. Segundo os especialistas, a tendência deverá manter-se com a atual realidade do país. Cada vez mais globais e internacionais, os portugueses estão rendidos à aprendizagem de novas línguas.
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