Cátia Mateus e Fernanda Pedro
PREOCUPANTE, é como a bastonária da OE,
Maria Augusta Sousa, classifica a situação dos estudantes
de enfermagem em Portugal. O número de alunos começa a ser
elevado e coloca em causa a capacidade das unidades de saúde para
acolher estagiários.
A situação é de tal forma grave que, segundo a bastonária,
"neste momento já há escolas a disputar a colocação
dos alunos para ensino clínico nas unidades de saúde".
Mas para José Henriques, presidente do Instituto de Saúde
do Alto Ave (ISAVE) o problema é ainda maior. "Há
Hospitais SA a cobrarem às instituições de ensino
uma taxa de oito a nove euros diários por cada aluno em estágio",
denuncia.
José Henriques não entende como é que num país
com falta de enfermeiros se pratique este tipo de taxas e adianta que
o método só penalizará a qualidade da formação.
Para resolver este problema, o ISAVE estabeleceu protocolos com hospitais
da Galiza que acolherão e ajudarão a formar os enfermeiros
portugueses.
A bastonária da OE confessa por diversas vezes ter alertado os
titulares das pastas da Ciência e Ensino Superior e da Saúde
para "este perverso negócio que ameaça a qualidade
da formação", já que sem estágios
é impossível garantir "a aquisição
das as competências necessárias".
Maria Augusta Sousa diz não ter dados que lhe permitam concluir
se esta é uma prática generalizada nos Hospitais SA, mas
acredita que tal acontece nos locais onde os cursos aumentaram. O EXPRESSO
contactou a Unidade de Missão dos Hospitais SA, que através
do seu gabinete de comunicação fez saber que a decisão
de cobrar esta taxa às instituições de ensino cabe
internamente a cada unidade.
Apesar da falta de enfermeiros, o país não facilita a sua
formação
No Hospital de São João de Deus, em Vila Nova de Famalicão,
ela está em vigor. Alberto Peixoto, presidente do conselho de administração
daquela unidade adianta que "a receita obtida com esta taxa é
aplicada na formação dos quadros do hospital".
O responsável justifica a taxa com os "gastos de material
efectuados pelos formandos", adiantando que "o aluno
paga para estudar e aqui está a receber formação".
Uma visão que a bastonária considera redutora já
que "as instituições de saúde não
se podem demitir do seu papel na formação dos novos profissionais".
A ideia é partilhada pelo secretário de Estado-adjunto do
ministro da Saúde, Adão Silva, que em declarações
ao Expresso anunciou que "o Governo já emitiu um despacho,
a 26 de Abril de 2004, que obriga os Hospitais SA a proporcionarem estágios
aos estudantes de enfermagem - de escolas públicas e privadas -
sem quaisquer contrapartidas financeiras".