Marisa Antunes
O emprego para a vida já teve melhores dias. A crise económica, as deslocalizações, fusões e reestruturações encolhem e extinguem departamentos, ou até mesmo as próprias empresas, a um ritmo crescente nos últimos anos. No meio deste cenário, as prestadoras de serviços de «outplacement» representam uma esperança para quem recebe a súbita ordem de despedimento.
Ajudam a refazer a auto-estima profissional, fazem a gestão de contactos e das abordagens aos potenciais empregadores e conseguem o feito de, no espaço médio de seis meses, arranjar um novo emprego à esmagadora maioria dos candidatos ao «outplacement».
Lurdes Luís trabalhou durante 17 anos no departamento de «marketing» de uma multinacional do sector automóvel. Quando a recessão fez diminuir drasticamente as vendas de carros, a empresa mergulhou numa reestruturação que a obrigou a reduzir 30 postos de trabalho, entre os quais o de Lurdes, a quem cabia fazer as estatísticas comerciais. «Disseram que era mais económico contratar o serviço externamente. Fiquei muito magoada, na altura», recorda a administrativa de 45 anos.
No processo pós-despedimento, a empresa de «outplacement» foi fundamental na recuperação da sua auto-confiança, admite Lurdes Luís. E não só. «A DBM Portugal coordenou o projecto de criação da própria empresa para entregar no Centro de Emprego, de forma a que eu possa receber os subsídios de uma só vez», conta, lembrando que optou por enveredar pela iniciativa privada ao invés de continuar a trabalhar por conta de outrem. Enquanto não recebe o dinheiro, Lurdes Luís aplicou o montante da indemnização recebida e de algumas poupanças e já abriu a sua tabacaria: a «Lápis de Cor», em São Domingos de Rana.
«Na nossa equipa, temos pessoas com formação em psicologia para, numa primeira fase, ajudarem estes trabalhadores que, no início, ficam abatidos com a situação. Depois, os nossos profissionais dão-lhes apoio especializado para a sua reinserção no mercado de trabalho», resume a directora-geral da DBM Portugal, Anabela Ventura.
Segundo a estimativa de Yves Turquin, director-geral da Lee Hecht Harrison (LHH), empresa de «outplacement» da Addeco, são mais de duas centenas as empresas que em Portugal recorrem a este tipo de serviços. «As multinacionais continuam a representar a maior fatia, cerca de dois terços, da nossa carteira de clientes, mas o número de empresas nacionais tem vindo a crescer nos últimos anos», refere Yves Turquin.
Ainda assim, acrescenta o director-geral de LHH, «em Portugal existe uma menor visibilidade em relação ao ‘outplacement' por parte dos candidatos, que ignoram como funciona o conceito e os benefícios que daí podem retirar». Para o responsável, «as empresas de ‘outplacement' apoiam os profissionais a arregaçar as mangas e a abordar a nova etapa da sua vida profissional de uma maneira fria e com metodologia».
Foi o que aconteceu com Pedro Ferreira, licenciado em engenharia electrotécnica e com um MBA em Gestão no seu currículo. A empresa onde trabalhava, na área das tecnologias de informação, entrou em processo de reestruturação e Pedro Ferreira, apesar de não ter sido formalmente convidado a sair, aproveitou a oportunidade para se desvincular da empresa por questões pessoais. «Nesse processo, a empresa de ‘outplacement' — no meu caso, a DBM — ajudou-me a encarar a saída como um passo natural na minha evolução profissional», recorda.
Definir o plano de «marketing» pessoal e a estratégia a seguir para reingressar no mercado de trabalho foram as etapas seguintes. Até «pormenores» como preparar o currículo passam pelas empresas de «outplacement». Amélia Peixoto, «marketing manager» da DBM, lembra: «O apoio prestado pelo ‘outplacement' ajuda o indivíduo a olhar para o futuro. Como conseguir que o currículo chegue às mãos certas em vez de ir parar ao cesto dos papéis, onde procurar oportunidades de emprego, o que dizer aos potenciais empregadores quando perguntarem pelas razões que levaram a deixar o emprego anterior, são algumas das questões difíceis com que o indivíduo se defronta».
Dicas preciosas em tempos de crise
A comprovar a eficiência do serviço estão as taxas de sucesso de recolocação no mercado destes profissionais. «Durante o ano passado, 87% dos profissionais que estiveram em ‘outplacement' com a nossa empresa encontraram uma oportunidade profissional em seis meses. Seja na criação do próprio emprego, seja em novas colocações profissionais», sublinha Sónia Silva, directora-geral da Fairplace, do grupo Select Vedior.
Mas também a empresa que dispensa o trabalhador retira dividendos no recurso ao «outplacement», reforça Sónia Silva. «A organização vê a sua imagem externa e interna menos ‘maltratada', demonstrando preocupação com os colaboradores e conseguindo manter a produtividade, uma vez que os efectivos remanescentes são também acompanhados durante o processo», refere.
Executivos em stresse
A faixa etária mais afectada nos processos de «outplacement» situa-se entre os 35 e os 50 anos. E quanto mais elevada for a categoria profissional do candidato, mais demorada é a sua recolocação no mercado de trabalho, referem os responsáveis das três empresas contactadas pelo EXPRESSO.
«As consequências de um despedimento mal conduzido podem ser devastadoras. Estudos clínicos demonstram ser entre os executivos e profissionais altamente especializados que se manifesta maior stresse derivado da perda de emprego. Afinal, vivemos numa sociedade em que o 'status' está associado ao emprego e às funções desempenhadas», sublinha Amélia Peixoto, «marketing manager» da DBM Portugal.
Ultrapassada a fase mais difícil, a maioria dos executivos (51%) consegue a sua nova colocação no prazo máximo de seis meses, recorrendo principalmente à sua rede de contactos (55%). De acordo com a DBM Portugal, 83% dos executivos mantêm-se a trabalhar por conta de outrem (mesmo que mudem de sector) e apenas 17% resolvem iniciar o seu próprio negócio.