Cátia Mateus e Marisa Antunes
Os portugueses são os cidadãos europeus com menor propensão para a mobilidade laboral, quer em termos de mudança de emprego quer ao nível geográfico. Isto segundo o Eurobarómetro da Comissão Europeia sobre o Ano Europeu da Mobilidade Profissional, que este ano se celebra. Este indicador revela que, apesar de 58% dos portugueses considerarem positiva uma mudança geográfica, apenas 29% admitem que estariam na disposição de rumar a outro Estado membro da UE caso estivessem desempregados.
O facto curioso neste fenómeno da mobilidade reside na motivação que leva alguém a emigrar. É que segundo um estudo sobre o perfil e as atitudes dos emigrantes europeus, coordenado pela Universidade de Florença, existem diferenças entre homens e mulheres quando o que está em causa é construir uma nova vida, num novo país. «Mais de um terço das mulheres europeias emigram por amor e para acompanhar a família, enquanto que um em cada três homens o fazem por questões laborais», concluiu a análise da universidade.
Este estudo, baseado em entrevistas a cinco mil europeus residentes fora do seu país de origem, coloca em evidência as motivações associadas à emigração para ambos os sexos. Cerca de 37,4% das mulheres inquiridas confessam que emigraram por questões afectivas e para acompanhar a família. Em segundo lugar na lista das razões femininas vem a procura de uma melhor qualidade de vida (23,6%) e apenas 17,6% das mulheres apontam o trabalho como motivo fundamental para a sua decisão.
Já nos homens, o panorama inverte-se. São 33,1% os inquiridos que colocam a profissão no topo das razões para uma mudança de país. A melhoria da qualidade de vida «inspira» 24,3% dos homens e o amor tem apenas 21,8% de «adeptos» masculinos.
«Hoje em dia e cada vez mais, as mulheres, principalmente as jovens e solteiras, emigram por questões de ordem económica e de melhoria do seu estilo de vida. Mas, de facto, muitas são aquelas que ainda o fazem por razões de reagrupamento familiar», reforça a socióloga Manuela Ribeiro, autora de um estudo sobre a emigração das mulheres casadas.
A docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro lembra, no seu estudo, que, «em grande parte, por causa dos compromissos que lhes cabem na divisão de trabalho por sexos, ao nível da unidade familiar, elas são, com muita frequência, as últimas a partir e as primeiras a regressar».
A portuguesa Annah Bermonte é, aos 29 anos, o exemplo de uma mulher a quem os afectos fizeram mudar de país. Há dois anos a jovem advogada trocou Portugal pelo Brasil (onde hoje exerce a sua profissão), por amor. Mas Annah não se enquadra no perfil da esposa que abandona a carreira, para acompanhar o marido e os filhos na aventura da emigração. «Na altura não era casada, não tinha filhos, mas não me pareceu descabido deixar a vida que tinha em Portugal para ficar mais perto do meu namorado», relembra a emigrante portuguesa.
Nem mesmo a especificidade agregada à profissão de um advogado a impediu de arriscar. Annah explica que sempre soube que não seria fácil retomar a sua profissão no Brasil, mas acabou por conseguir emprego no departamento jurídico de uma organização com fortes relações comerciais com Portugal. Reconhece que «a chegada e o recomeço de vida num país estranho têm os seus obstáculos, que apenas com determinação e um forte sentido de missão se conseguem ultrapassar».
Confessa que a vontade de regressar a Portugal está sempre patente, mas «o sentido de família fala mais alto». Hoje, casada e mãe de gémeos, Annah tem a certeza de que a ideia de regressar a Portugal é mais longínqua. Em jeito de brincadeira lá vai dizendo: «Talvez o meu marido queira emigrar por amor, e aí regresso ao meu país».
Mas a verdade é que, tradicionalmente, as motivações dos homens no que toca à emigração norteiam-se por outros princípios. Gustavo Barros, 29 anos, não é um emigrante típico, pois é licenciado e tem um doutoramento em impressão de papel, tirado no French Engineering School of Paper and Printing, em Grenoble.
A trabalhar em Estocolmo como bolseiro do STFI-Packforsk AB, um instituto privado de pesquisa e desenvolvimento na área da celulose e pasta de papel, este emigrante altamente qualificado tem, no entanto, em comum, a vontade de prosperar e a oportunidade de obter rendimentos que dificilmente conseguiria se tivesse ficado em Portugal.
«Gostava de um dia regressar ao meu país mas nem sequer conseguiria fazer o mesmo tipo de investigação que faço aqui, um dos dez melhores locais do mundo para a pesquisa na área de impressão», acrescenta Gustavo Barros. A questão monetária tem também um peso relevante nas suas decisões de partir ou ficar. Por agora, o investigador recebe cerca de 2.500 euros mensais de bolsa, um valor que deverá crescer folgadamente assim que terminar o estágio.
A emigração masculina tem, assim, por meta, quase sempre, questões relacionadas com trabalho ou melhoria da qualidade de vida. Manuela Ribeiro lembra não só o papel convencional reservado ao sexo masculino, a quem cabe a «designação social de chefe de família», mas também a «obrigação de buscar, assumir e concretizar as alternativas de vida ao seu alcance, de forma a colmatar as limitações decorrentes do fraco nível de desenvolvimento dos seus meios de origem».
Mobilidade na Europa
O estudo da Universidade de Florença revela que «apenas dois por cento dos cidadãos europeus vivem fora do seu país, a mesma percentagem de há 30 anos». A maioria das pessoas que emigram dentro do espaço europeu são originárias da classe média e possuem qualificações profissionais.
Metade dos inquiridos pelo estudo vive ou já viveu no estrangeiro, nomeadamente através de programas de intercâmbio estudantil, como o Erasmus.
O destino mais atractivo para os jovens em busca de emprego é o Reino Unido. Espanha e França são destinos preferenciais para os emigrantes mais velhos que vão em busca de melhor qualidade de vida e que fogem das áreas urbanas.
Itália é o país de eleição para os emigrantes que vão acompanhar familiares e quem escolhe a Alemanha para fazer a sua vida vai, regra geral, trabalhar em empregos manuais ou estudar.