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Geração 'made in' CITEX

O seu talento é reconhecido a nível nacional e muitos levam a moda portuguesa de autor às «passerelles» das principais capitais europeias. Entre si partilham a profissão, mas também a escola. Quase todos os estilistas de referência nacionais passaram pelo CITEX.
02.03.2007


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Cátia Mateus
Portugal inaugura este fim-de-semana a primeira edição da sua Semana de Moda. Nas «passerelles» de Porto e Lisboa vão desfilar as propostas da ‘elite da moda nacional'. Uma geração de criadores com o talento e o engenho suficientes para colocar a moda lusa ao nível das grandes casas internacionais. Maria Gambina, Katty Xiomara, Nuno Gama, Luís Buchinho, Pedro Mourão, Júlio Waterland, Osvaldo Martins, Paulo Cravo ou Nuno Baltazar são alguns dos nomes figuram entre esta «pool» de jovens criadores nacionais. Em comum têm a profissão, o gosto pela moda, a vontade de vencer e vestir Portugal com outras tendências, e o desejo de mudar a imagem do têxtil nacional. Mas, juntos, têm algo mais: todos fazem parte da geração «made in» Citex, a escola que há 25 anos forma jovens criadores e que se assume como um centro de excelência na área da formação profissional para indústria têxtil e de vestuário. A Hugo Boss Industries já o percebeu e vai ao Porto recrutar estagiário, no Citex.


Os corredores desta escola não lhes são estranhos, nem a exigência da formação. Maria Gambina recorda até hoje a formação intensiva em costura que frequentou antes de ingressar no curso de «design» de moda, no Citex, “estive um mês agarrada a uma máquina até dominar todas as técnicas”. A estilista, que se formou em 1993, explica que “o ensino no Citex sempre foi muito exigente e rigoroso. A escola formava pessoas para a indústria, para trabalhar em fábricas, por isso rigor nos métodos de trabalho e no cumprimento de horários era algo com que lidávamos desde o primeiro dia”.

Maria Gambina picava o ponto, tinha um regime apertado de controlo de faltas e, tal como os seus colegas, dominava todos as etapas e processos de criação e confecção. “O Citex era uma autêntica fábrica-escola, com uma componente técnica muito forte”. É sem pudores que a criadora admite: “o Citex fez de mim a profissional que sou hoje. Fez de mim e dos colegas da minha geração profissionais lutadores, pouco acomodados que dão o máximo de si e que estão aptos a agir em qualquer parte do processo de criação e confecção”.

E embora reconheça o mérito à formação desta escola que, continua a achar, “a melhor do país na área da moda”, a estilista lamenta que hoje a realidade tenha mudado um pouco, por força das exigências do sistema de ensino. “Houve uma reestruturação do curso e algumas das disciplinas que considero importantes acabaram por ser condensadas. A modelação por exemplo é essencial, assim como a costura e hoje recebo estagiários que não tocam numa máquina, mostrando até algum pudor nisso”. Ainda assim, a criadora continua a acreditar que o Citex coloca no mercado bons profissionais, muitos até com um trabalho, menos mediático, mas de grande mérito.

Na verdade, esta ligação estreita à indústria é um dos grandes trunfos desta escola. Desde que foi criado — em 1981, como resultado de um protocolo entre o IEFP, a Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal (ATP), a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC/APIV) — o Citex estabeleceu como meta a promoção de acções de formação profissional para os diversos subsectores da indústria têxtil e de vestuário. A meta, explica Abílio Rocha, director do Citex, era criar nesta indústria através da qualificação, do «design» e da criatividade.

Com sede no Porto e pólos do Porto, em Vila das Aves e Barcelos, o Citex formou ao longo de 25 anos, cerca de 27 mil profissionais, em áreas tão diversas como o Design e Marketing de Moda, o Desenvolvimento de Produto, Corte e Confecção, entre outros. Em todos eles, assegura o presidente, “a ligação à indústria é uma realidade e o objectivo é responder às necessidades de qualificação deste sector”.

Uma ligação que é garantia de emprego para os jovens estudantes do Citex. Dolores Gouveia, responsável pelo Departamento de Design da instituição, esclarece que nem todos os alunos seguem um percurso individual. Muitos são absorvidos pela indústria e “existem profissionais muito competentes, formados no Citex, por trás de grandes marcas”. Dolores Gouveia adianta que há muitas marcas que olham para o Citex como um pólo de formação de excelência, acolhendo anualmente em estágios, que muitas vezes se prolongam para o emprego efectivo, estudantes da instituição. “O objectivo desta nossa ligação às empresas é, também, garantir aos alunos, sob a forma de estágio, uma experiência de trabalho que consolide as competências adquiridas no percurso formativo”.

E a estratégia não se fica apenas pelas empresas nacionais. “O Citex tem vindo a estabelecer parcerias informais com marcas estrangeiras, como é o caso da Hugo Boss Industries ou do grupo Inditex que pontualmente recrutam jovens para estágios”, explica Dolores Gouveia. Uma realidade corroborada pelo criador Júlio Waterland, da marca Pedro Waterland, ex-aluno do Citex, segundo o qual “a escola evoluiu muito desde que conclui a minha formação (em 1995) e soube sempre acompanhar as novas exigências do sector têxtil , na componente das tecnologias e também na formação técnica”. Foi justamente esse potencial técnico e criativo, cimentado no Citex, que garantiu a Júlio Waterland o ingresso numa pós-graduação em Londres.

O criador acredita que “o Citex é feito pelos próprios alunos, pela geração de criadores que formou e pela imagem que o seu trabalho adquire no mercado”. Mas esclarece que é necessário que a indústria perceba que não sobrevive sem criatividade e que é preciso fomentar a criatividade associada aos têxteis e “nisso, ainda estamos a anos-luz de outros países da Europa”.

Um desígnio que o Citex quer abraçar, continuando a fomentar as suas parcerias com empresas do sector, na área da formação profissional “com o desígnio de contribuir para a qualificação e especialização dos recursos humanos”. A área da investigação merece também uma aposta crescente nesta escola que dispõe de um Laboratório de Ensaios Têxteis, acreditado e ao serviço das empresas, que permite a realização de ensaios sobre fios, tecidos e malhas. Uma outra forma de colocar Portugal na linha da frente em matéria de inovação têxtil que fará os críticos e compradores, nacionais e estrangeiros, olhar com outros olhos e outras vontades para a moda nacional.





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