Ruben Eiras
        
        As grandes escolas de negócios americanas e europeias 
        estão a incluir o ensino da ética nos seus MBA.
        É mais uma das tendências que está a marcar a era 
        pós-Enron
      
      
    
    
      
      
    
  
  
  
  
     
       
        
          APÓS a vaga de moralização na governação 
          empresarial (que já redundou na demissão de Grasso, presidente 
          da Bolsa de Nova Iorque, devido ao seu exorbitante salário), 
          os empregadores estão a escrutinar ao máximo a estrutura 
          de valores dos candidatos aos postos de trabalho. 
          
          Com efeito, uma recente sondagem realizada pelo Wall Street Journal 
          e a consultora Harris Interactive revelou que 84% dos recrutadores americanos 
          referiram a ética e a integridade pessoais como atributos importantes 
          nos candidatos a emprego.
          
          Um sinal do mercado a que as universidades americanas se apressaram 
          a responder nos seus programas de formação de executivos 
          e de MBA. 
          
          Por exemplo, a universidade de Harvard vai lançar em Janeiro 
          próximo um curso de ética empresarial, denominado "Liderança, 
          Governação e Responsabilidade". 
          
          Isto porque, depois de uma década em que se ensinavam aos alunos 
          de MBA a filosofia de "Greed is good" (Ser ganancioso 
          é bom para o negócio), a era pós-Enron levantou 
          uma série de críticas à formação 
          de profissionais obcecados na fabricação de dinheiro, 
          independentemente das consequências éticas das suas acções. 
          
          
          De facto, dois dos executivos da Enron eram MBA: Jeffrey Skilling, ex-CEO, 
          era de Harvard e o director financeiro, Andrew Fastow, possui um diploma 
          da Northwestern University's Kellogg School of Management. 
          
          A sondagem do "Wall Street Journal" também descobriu 
          que os estudantes de MBA com laços a "empresas-escândalo" 
          encontrarão resistência de alguns recrutadores. 
          
          Na dita pesquisa, uma parte significativa dos empregadores rejeitaria 
          logo à partida um candidato que tivesse trabalhado na Enron ou 
          na Andersen Consulting.
          
          Mas será que as universidades podem ensinar ética? A sondagem 
          revela cepticismo por parte dos empregadores: perto de um quarto afirma 
          que a integridade é um factor inerente ao carácter da 
          pessoa e que as escolas de negócios não podem ensinar 
          ética. 
          
          Todavia, 60% dos recrutadores referem que as universidades poderão 
          providenciar orientação sobre como fazer escolhas éticas. 
          
          Neste plano, a pesquisa elaborou um ranking das "business-schools" 
          com os MBA mais exigentes a nível da formação ética. 
          
          
          Yale figura em primeiro lugar nesta lista onde surge também uma 
          escola espanhola, o Instituto de Empresa (IESE). 
          
          As técnicas de ensino da ética empresarial são 
          as mais variadas. Por exemplo, a universidade canadiana HEC Montreal 
          optou por uma via mais filosófica, com a inclusão de uma 
          cadeira em gestão ética, que tratará da "dimensão 
          existencial - a liberdade de crenças no indivíduo e o 
          desenvolvimento das suas mais profundas aspirações no 
          trabalho". 
          
          Até ex-prisioneiros já servem de formadores de executivos. 
          Por exemplo, na Tuck School of Business do Dartmouth College, os estudantes 
          assistiram a uma série de painéis sobre ética, 
          incluindo um protagonizado por um ex-condenado envolvido numa fraude 
          de 100 milhões de dólares. 
          
          A Columbia University Business School vai mais longe, com a criação 
          de um ambicioso currículo ético que todos os estudantes 
          têm que frequentar. São uma série de seminários 
          embebidos em todos os núcleos-duros dos cursos de MBA. 
          
          Algumas das questões abordadas nos vários cursos são 
          as seguintes: será ético comercializar produtos legais 
          mas perigosos? Será que elementos de justiça e equidade 
          deverão pesar nas decisões da empresa sobre preços? 
          Quais são as considerações éticas a ter 
          em conta na apresentação de estatísticas?
          
          Além dos programas de ensino de ética, algumas universidades 
          estão a apostar na formação de uma cultura de integridade 
          e transparência nos seus campus universitários. O Fisher 
          College of Business da Ohio State University criou um código 
          de honra, o qual foi adoptado pela primeira vez pelos alunos de MBA 
          deste ano. 
          
          Reza o seguinte: "A honestidade e a integridade são os 
          alicerces sobre os quais medirei as minhas acções - torna-me-ei 
          responsável ao aderir as estas normas". 
          
          Juramentos de honestidade
          
          Angel Cabrera, reitor da IESE, a escola de negócios de Madrid, 
          está a promover a inclusão de um juramento por parte dos 
          estudantes, aquando do momento da sua graduação. 
          
          Este apela à utilização dos recursos naturais de 
          uma forma eficiente e sustentável, ao respeito por parte do gestor 
          das pessoas que trabalham para a empresa e ao compromisso sobre a honestidade 
          das transacções. 
          
          E termina da seguinte forma: "Se não violar este juramento, 
          que aproveite a vida, a arte e o sucesso pessoal. Que seja respeitado 
          enquanto vivo e relembrado com afeição no após". 
          
          
          Cabrera defende que as escolas de negócios têm uma obrigação 
          de criar uma cultura profissional para os seus alunos na mesma tradição 
          que o juramento de Hipócrates representa para os médicos.