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Formação executiva com mais ética

24.10.2003


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Ruben Eiras

As grandes escolas de negócios americanas e europeias estão a incluir o ensino da ética nos seus MBA.
É mais uma das tendências que está a marcar a era pós-Enron


APÓS a vaga de moralização na governação empresarial (que já redundou na demissão de Grasso, presidente da Bolsa de Nova Iorque, devido ao seu exorbitante salário), os empregadores estão a escrutinar ao máximo a estrutura de valores dos candidatos aos postos de trabalho.

Com efeito, uma recente sondagem realizada pelo Wall Street Journal e a consultora Harris Interactive revelou que 84% dos recrutadores americanos referiram a ética e a integridade pessoais como atributos importantes nos candidatos a emprego.

Um sinal do mercado a que as universidades americanas se apressaram a responder nos seus programas de formação de executivos e de MBA.

Por exemplo, a universidade de Harvard vai lançar em Janeiro próximo um curso de ética empresarial, denominado "Liderança, Governação e Responsabilidade".

Isto porque, depois de uma década em que se ensinavam aos alunos de MBA a filosofia de "Greed is good" (Ser ganancioso é bom para o negócio), a era pós-Enron levantou uma série de críticas à formação de profissionais obcecados na fabricação de dinheiro, independentemente das consequências éticas das suas acções.

De facto, dois dos executivos da Enron eram MBA: Jeffrey Skilling, ex-CEO, era de Harvard e o director financeiro, Andrew Fastow, possui um diploma da Northwestern University's Kellogg School of Management.

A sondagem do "Wall Street Journal" também descobriu que os estudantes de MBA com laços a "empresas-escândalo" encontrarão resistência de alguns recrutadores.

Na dita pesquisa, uma parte significativa dos empregadores rejeitaria logo à partida um candidato que tivesse trabalhado na Enron ou na Andersen Consulting.

Mas será que as universidades podem ensinar ética? A sondagem revela cepticismo por parte dos empregadores: perto de um quarto afirma que a integridade é um factor inerente ao carácter da pessoa e que as escolas de negócios não podem ensinar ética.

Todavia, 60% dos recrutadores referem que as universidades poderão providenciar orientação sobre como fazer escolhas éticas.
Neste plano, a pesquisa elaborou um ranking das "business-schools" com os MBA mais exigentes a nível da formação ética.

Yale figura em primeiro lugar nesta lista onde surge também uma escola espanhola, o Instituto de Empresa (IESE).

As técnicas de ensino da ética empresarial são as mais variadas. Por exemplo, a universidade canadiana HEC Montreal optou por uma via mais filosófica, com a inclusão de uma cadeira em gestão ética, que tratará da "dimensão existencial - a liberdade de crenças no indivíduo e o desenvolvimento das suas mais profundas aspirações no trabalho".

Até ex-prisioneiros já servem de formadores de executivos. Por exemplo, na Tuck School of Business do Dartmouth College, os estudantes assistiram a uma série de painéis sobre ética, incluindo um protagonizado por um ex-condenado envolvido numa fraude de 100 milhões de dólares.

A Columbia University Business School vai mais longe, com a criação de um ambicioso currículo ético que todos os estudantes têm que frequentar. São uma série de seminários embebidos em todos os núcleos-duros dos cursos de MBA.

Algumas das questões abordadas nos vários cursos são as seguintes: será ético comercializar produtos legais mas perigosos? Será que elementos de justiça e equidade deverão pesar nas decisões da empresa sobre preços? Quais são as considerações éticas a ter em conta na apresentação de estatísticas?

Além dos programas de ensino de ética, algumas universidades estão a apostar na formação de uma cultura de integridade e transparência nos seus campus universitários. O Fisher College of Business da Ohio State University criou um código de honra, o qual foi adoptado pela primeira vez pelos alunos de MBA deste ano.

Reza o seguinte: "A honestidade e a integridade são os alicerces sobre os quais medirei as minhas acções - torna-me-ei responsável ao aderir as estas normas".

Juramentos de honestidade


Angel Cabrera, reitor da IESE, a escola de negócios de Madrid, está a promover a inclusão de um juramento por parte dos estudantes, aquando do momento da sua graduação.

Este apela à utilização dos recursos naturais de uma forma eficiente e sustentável, ao respeito por parte do gestor das pessoas que trabalham para a empresa e ao compromisso sobre a honestidade das transacções.

E termina da seguinte forma: "Se não violar este juramento, que aproveite a vida, a arte e o sucesso pessoal. Que seja respeitado enquanto vivo e relembrado com afeição no após".

Cabrera defende que as escolas de negócios têm uma obrigação de criar uma cultura profissional para os seus alunos na mesma tradição que o juramento de Hipócrates representa para os médicos.





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